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quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Aprender a ‘dar espaço’... à luz do presépio

 


Neste ano ocorrem 800 anos sobre a ´feitura’ do primeiro presépio ao tempo de São Francisco de Assis. Sobre o tema o Papa Francisco tornou público um livro, intitulado – ‘O meu presépio’ – onde faz uma explicação-interpretação da sua forma de ver esta manifestação cristã, das figuras que o compõem e mesmo do modo de construir o presépio. Já, em 2019, o mesmo Papa tinha tornado pública uma carta apostólica – ‘Admirabile signum’ – sobre o significado e valor do presépio.

Lanço, então, algumas sugestões sobre a necessidade de ‘dar espaço’ à meditação perante as várias figuras do presépio...neste Natal.

1. Citamos do texto que se conhece:
«São dois os sinais que, no Natal, nos guiam para reconhecer Jesus. Um é o céu cheio de estrelas. São tantas, infinitas, mas entre todas brilha uma especial, que impele os Magos a deixar as suas casas e a iniciar uma viagem, um caminho que não sabem aonde os vai levar. Acontece o mesmo na nossa vida: em certo momento, uma ‘estrela’ especial convida-nos a tomar uma decisão, a fazer uma escolha, a iniciar um caminho. Devemos pedir a Deus com força que nos mostre essa estrela que nos impele para além dos nossos hábitos, porque essa estrela levar-nos-á a contemplar Jesus, aquele Menino nascido em Belém que quer a nossa felicidade plena.
Naquela noite que se tornou santa pelo nascimento do Salvador encontramos um outro sinal poderoso: a pequenez de Deus. Os anjos mostram aos pastores um menino nascido numa manjedoura. Não um sinal de poder, de autossuficiência ou de soberba. Não. O Deus eterno reduz-Se a Si próprio a um ser humano indefeso, pobre, humilde. Deus rebaixou-Se para que nós possamos caminhar com Ele e para que Ele possa pôr-Se ao nosso lado; Deus não quer pôr-Se acima ou longe de nós.
Espanto e maravilha são os dois sentimentos que emocionam todos, pequenos e grandes, perante o presépio, que é como um Evangelho vivo que transborda das páginas da Sagrada Escritura. Não interessa como se arranja o presépio, se é sempre igual ou diferente todos os anos; o que importa é que ele fale à nossa vida».

2. Quantas vezes ouvimos dizer que ‘é preciso dar espaço’ para que possa ser colocada outra coisa, retirando algo que estava a ocupar esse tal espaço. A noção de ‘espaço’ pode ser variável, tanto mais quanto esse possa ser subjetivo. Com efeito, dizem os entendidos em matéria de assuntos psicológicos que a descoberta de ‘espaço’ e de ‘tempo’ carateriza a nossa perceção de lugar e história, isto é, quem somos e onde estamos... num determinado lugar e em relação a quê e a quem.
Neste tempo de consumismo é habitual vermos – em nós e à nossa volta – que se dá um preenchimento do espaço (interior e exterior) das pessoas com coisas, numa quase insaciável vontade de ter mais do que, porventura, de ser, verdadeiramente. Se há época do ano em que isso parece estar mais ativo é no tempo de Natal: a sociedade de consumo fascina as pessoas com o desejo de ter mais, de ter muito e de ter melhor.

3. É com espanto e maravilha – nas palavras do texto citado do Papa – que podemos e devemos colocar-nos diante do presépio: nele somos desafiados a ‘dar espaço’, isto é, a que tenhamos espaço em nós mesmos (no mais íntimo do nosso ser), que demos espaço aos outros (nos lugares onde nos encontramos com eles - na família, no trabalho, na sociedade ou na Igreja) e que consigamos, acima de tudo, que Deus tenha o seu espaço condigno e necessário.

4. Uma sugestão simples: habitualmente colocamos na manjedoura do presépio uma imagem de Jesus-Menino, que está de braços abertos. Por momentos paremos e perguntemos-lhe o que Ele deseja receber de cada um nós, mais do que qualquer pedido a que Ele nos dê o que mais desejamos...



António Sílvio Couto

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