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segunda-feira, 13 de novembro de 2023

O que ofende – as perguntas ou as respostas?

 

Quem não ouviu já frases – tipo chavão ou quase idiomáticas – como estas: perguntar não ofende; só se deve responder àquilo que nos perguntam; quem pergunta quer saber; antes de saber as respostas devemos deixar fazer as perguntas; quem pergunta quer ser esclarecido; dar respostas com educação...etc.

De facto, nem sempre aquilo que é perguntado deverá ser respondido, pois desta ação de resposta poderá decorrer algo que correrá o risco de faiscar no perguntador ou nas entrelinhas suscitadas.

1. Por vezes o silêncio é a melhor resposta a certas perguntas, sobretudo àquelas que se percebe que podem envolver má-fé ou, pelos menos, menos boa intenção. Efetivamente, recordo, há anos, uma simples intervenção do então Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, que a uma questão colocada por uma jornalista, respondeu direta e secamente: ó menina, isso é pergunta que se faça! Com efeito, há quem mais do que querer esclarecer-se – e através das perguntas que faz ajudar outros a serem esclarecidos – procura mais entalar aquele/aquela a quem está a questionar. Isto será tanto mais grave quanto o interlocutor questionado possa cair na esparrela de dizer tudo e o resto que não lhe é perguntado...

2. Num tempo de velocidade – psicológica até mais do que real – as perguntas podem ajudar a saber mais, mas também podem confundir quem ouça ou veja. Em certos casos da comunicação social em uso no nosso país encontramos perguntadores que não passam de tripé de microfone, pois aquilo que dizem, sob a alçada de pretensa pergunta, é já conversa encomendada, senão mesmo soprada do estúdio. Aquele simulado microfone no ouvido serve para quê? A insistência no mesmo tema, se já foi respondido, é feita com que intenção? Disparar sem parar perguntas e mais questões não será mais para tentar colher de quem fala aquilo que talvez não queira dizer?

3. Recordo, quando andava nas lides do jornalismo ativo, um certo ‘jornaleiro’, que entrava mudo e saia calado das ditas ‘conferências de imprensa’, mas nas páginas do seu jornal, no dia seguinte, ele referia que quem falou respondeu às ‘suas’ perguntas, sem que se lhe tivesse ouvido a voz em tempo algum. Ainda hoje vemos certos papagaios de televisões e de jornais que usam o mesmo truque: com a verborreia de perguntar não deixam ninguém esclarecer nem dão espaço a que outros possam colocar perguntas com lealdade e sem manhas. A dita pressa em informar corre o risco de se tornar um espaço de criação de factos relevantes com questões insignificantes e quase miseráveis do ponto de vista do verdadeiro interesse do público.

4. Nos dias mais recentes temos assistido a uma quantidade razoável de situações onde os que perguntam e aqueles que são perguntados precisam de saber respeitar-se: os perguntados não podem tentar ofender a inteligência dos outros, menosprezando so seus neurónios enferrujados; os perguntadores mais do que desviarem a atenção do essencial devem permitir que, quem esteja sob a pressão de responder, o faça com liberdade e não embarcando nas subtilezas da manipulação preconceituosa de lóbis e ideologias.

5. Urge, por isso, fomentar a verdadeira liberdade de comunicação, onde todos se respeitem e façam dessa atividade um autêntico serviço à verdade. Por muito que dela se reclamem, em certos fazedores da comunicação social, nota-se que mais do que servi-la, ofendem-na com meias-verdades, senão mesmo mentiras e difamações... As apelidadas ‘fake news’ (notícias falsas) são mais normais do que se julga e pululam nos órgãos de comunicação com regularidade. É importante comunicar, mas torna-se indiscutível saber fazê-lo. É essencial perguntar, mas é urgente conhecer os meios e as formas mais corretas. Informar e ser informado é um direito e dever com regras e obrigações de todos...



António Sílvio Couto

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