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terça-feira, 21 de novembro de 2023

250 mil abortos (legais)… desde 2007

 

Os dados estão publicados. As fontes são minimamente credíveis: desde 2007 foram praticados, em Portugal, mais de 250 mil abortos de forma legal, isto é, cumprindo as regras higieno-sanitárias, as etapas da lei e em locais devidamente autorizados.

A Federação Portuguesa pela Vida (FPV) divulgou os resultados de um estudo sobre “A realidade do aborto em Portugal”, que apontam para 256 070 abortos realizados por opção da mulher, desde 2007. A notícia foi lançada, no dia 18 de novembro, pela Agência Ecclesia, ligada à Igreja católica.

1. Das hostes eclesiais não vimos qualquer comentário e/ou reação sobre o assunto, nem dos bispos e tão pouco pelos leigos e famílias. Os dados da FPV apontam para que, em 2021, houve 79.582 nascimentos, enquanto 195 mil mulheres abortaram desde que esta lei entrou em vigor, em 2007. Os números são duros e quase dramáticos, mas não podemos calá-los ou escondê-los ao sabor do (pretenso) politicamente correto.

2. Sem pretendermos pintar a situação com cores ainda mais escuras e tenebrosas, se acrescentarmos a estes dados os abortos ilegais, não será difícl de chegarmos à cifra simbólica de mais de meio milhão de abortos no nosso país, naquela (nesta) época? Apesar de se tentar branquear a questão por alguns mentores e difusores dos números do aborto, nada faz crer que a não-penalização – nessa tão eufemística quão enganosa designação de despenalização da interrupção voluntária da gravidez – tenha feito desaparecer o fenómeno do aborto clandestino e das vítimas que continua a deixar...direta e indiretamente.

3. Haverá alguma relação entre o ‘inverno demográfico’ na Europa e a difusão (vulgarização) do aborto? Os milhares de crianças mortas antes de nascer não teriam contribuído para o rejuvenescimento da população portuguesa e europeia? Por que não se faz – ideológica e acintosamente – uma correlação entre os dois fenómenos e como que se aceita como facto-feito o risco de perdermos a identidade pela não-opção em ter filhos? Não estará subjacente à recorrência ao aborto – há situações agravadas a partir do segundo filho – uma espécie de planeamento familiar de recurso?

4. Os mentores e continuadores desta matança não gostam que se lhes apresentem os números e com razoável habilidade escondem que os hospitais objetores da prática do aborto crescem, de norte a sul, pela consciência de que os médicos e outros servidores da saúde não se sentem vocacionados para matar, mas para defender e salvar a vida. Nas entrelinhas tais defensores do aborto deixam sair o queixume de que algumas equipas pró-aborto estão envelhecidas e cansadas, não será antes que estão mais conscientes e despertas para o valor da vida?

5. Este tema, desde a sua origem, sempre foi e será uma questão cultural, mais do que uma circunstância de saúde ou de conduta das mulheres. Não esqueçamos que a difusão do cristianismo na sociedade/cultura romana se deu na medida em que os cristãos eram contra a prática da matança das crianças – dito infanticídio – e pelo respeito pela vida na família. O choque, nessa época, foi grande e marcante, assim como o deve ser hoje, nesta sociedade hedonista e cultivadora do descartável, tanto na primeira como na derradeira etapa da existência.

6. A compreensão para com que praticou o aborto – já encontrei pessoas que carregaram esse fardo por mais de setenta anos – não pode deixar-nos indiferentes às mazelas que esta ferida social, psicológica e espiritual deixa em tantas pessoas. Muitas vezes foram as circunstâncias que fizeram caminhar para tal beco, mas hoje devemos apostar na educação sexual pela responsabilidade. Mais do que seria desejável continua a pulular a ignorância em tantos/as daqueles/as que ainda usam as coisas da Igreja. Sem medo nem preconceito é preciso dizer claramente: o aborto mata!



António Sílvio Couto

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