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sábado, 4 de novembro de 2023

Não deviam ter começado!

 


"Desta vez foi alguém do vosso lado que começou. Não deviam".

Foi desta forma algo paternalista que o Presidente da República portuguesa se dirigiu a um dirigente palestiniano como que a repreendê-lo - e nele a todos os seus compatriotas - quanto ao início do conflito entre Israel e a grupo Hamas de origem palestiniana, que atacou os israelitas no passado dia 7 de outubro... e desde então assistimos a uma guerra destruidora de tudo e de todos.

1. Será que o PR português se imiscuiu na refrega? Tomou partido por uma das partes com o que disse? Confundiu advertência privada com posição política? Não tem direito de se exprimir, quando tantos outros (duma certa esquerda pacifista de garras afiadas) já se venderam - como de costume - à parte agora (e mais uma vez) beligerante? Ser por Israel é vergonha e pelos que atacam é honra? Não faltará honestidade mental e cívica a tantos defensores de quem esbentrou o subsolo da Palestina? Em boa parte dos mentores deste secular conflito continuam a correr-lhes nas veias o espírito de Caim contra Abel... Se não conhecem a estória leiam o guru da Azinhaga e meditem as propostas lá contidas!

2. Qual cena do recreio da escola, o senhor professor quis dar ‘tau-tau’ aos meninos que andam à luta, engalfinhando-se até que um seja vencido. O pior é que a sensação que temos é que nenhum ganhará a batalha e tão pouco a guerra. Os que assistem à bulha como que acirram ainda mais os contendores e daquilo a pouco nada nem ninguém os fará parar, pois se sentem enfurecidos pelos apoios que seriam dispensados... Tal como no contexto da escola, os matulões que patrocinam a barafunda saem sempre a ganhar, ontem como hoje!

3. Este retrato do conflito israelo-palestiniano como que nos dá a sensação que mais este problema entre vizinhos será um foco de animosidade local e geral, deixando perceber que as duas partes são mais do que aquilo parecem mostrar. Vejam-se as reações extremadas e extremistas de certas sociedades - entre as quais a de Portugal - onde rapidamente se desenterram posições ideológicas, se mostram simpatias e se arregimentam protestos e apoios quase impensáveis. Não esqueçamos as palavras pouco diplomáticas do secretário-geral da ONU e das reações em favor e contra, bem como as declarações do PR português, que vimos citando neste texto: um e outro, mesmo que amigos entre si e ambos concidadãos, disseram coisas tendo como referência uma e outra das partes da barricada e foi claro de ver o que sobre um e para com outro foi reagido... A Palestina continua a ser terra abençoada e de múltiplas contradições, tal como reza sua história milenar!

4. Embora este acentuado conflito na Palestina dure há tempo de mais, ele reflete vários problemas e que dificilmente terão solução a contento de todos: questões religiosas - várias fés (abraâmicas) ali têm referência; situações de luta pela água - num espaço quase desértico esta é algo precioso; convivência cultural - mais do que religião temos aspetos de visão de vida; explosão demográfica - muita gente para curto terreno; incidências do passado não resolvidas e que emergem ciclicamente... São estes e outros ingredientes que tornam tão efervescente esta porção do planeta Terra. Será complicado encontrar a resolução de algo que tem mais para prosseguir na conflitualidade do que para se resolver na pacificação. Será avisado e de bom senso não se meter na questão, pelo contrário tomar partido só o prolonga no tempo e fora do espaço...

5. Aquela que apelidam de ‘terra santa’ continua a ser sacrificada e ser pedra de tropeço na história humana. Até quando?



António Sílvio Couto

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