Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Aos estimados seminaristas

Nos tempos que correm estamos sob a mira da exigência e os responsáveis da Igreja católica sentem-no, sabem-no e aceitam-no. Há, no entanto, um grupo muito específico que, creio na minha intuição, está ainda mais sob a alçada da voragem exigentista: os seminaristas, isto é, aqueles que se preparam, no seminário, para ordenação sacerdotal a curto ou a médio prazo.

Porque estamos na ‘semana dos seminários’ vou dedicar alguma atenção a este essencial setor da Igreja.

1. Tendo por tema – ‘não te envergonhes de dar testemunho de Cristo’, a semana dos seminários pretende «hoje, apelar aos mais jovens para que sejam testemunhas alegres e corajosas de Jesus Cristo e do seu Evangelho. .Afirmar a fé sem medo ou vergonha, dispor-se a levar a Palavra de Cristo a todos os lugares e ambientes, sendo missão de todos os cristãos, constitui um desafio dirigido especialmente aos jovens. Para alguns, a descoberta desta missão é de tal modo decisiva que se concretiza numa vocação de consagração de toda a vida», lê-se na mensagem da comissão episcopal das vocações e ministérios.

Refere ainda a mesma mensagem que «no atual contexto social e cultural, qualquer função educativa é exigente, mas a preparação dos padres do futuro, capazes de corresponder às necessidades de uma
Igreja em renovação e de um mundo em mudança acelerada, não deixa de ser uma causa nobre e estimulante. Não se pode esquecer ainda o relevante contributo de tantas pessoas que têm parte ativa no processo formativo dos Seminários: professores, colaboradores vários, famílias, comunidades cristãs, incluindo o papel decisivo dos presbitérios».

2. Lidas estas indicações creio que será de utilidade eclesial perceber as implicações de formação desses que serão mais cedo ou mais tarde os ministros da Igreja entre o povo de Deus. Desde logo a palavra ‘seminário’ vem de ‘semente’ (sémen), isto é, esse é um local onde se cuida de semente da vocação à vida em sacerdócio ministerial. Atendendo às condicionantes atuais – ‘sociais e culturais’, como diz a mensagem citada – é de grande exigência haver uma seleção (discernimento, avaliação e depuração) de quem frequenta o seminário. Nunca houve facilitações, muito menos agora se pode baixar a guarda nem abrandar a grelha do crivo… e nem o decréscimo do número pode inferir ou interferir na qualidade!

3. A maior parte dos seminaristas chega ao seminário já no tempo de juventude, no mínimo cerca dos vinte anos, portanto, com uma personalidade já estruturada minimamente. Quantos são mesmos mais velhos com experiência de vida de algum tempo de trabalho ou com cursos noutras áreas. Talvez possa acontecer que provenham de regiões ou de famílias sem prática religiosa cristã. Nalgumas situações podem ter sido movimentos religiosos ou vivências espirituais que os cativaram e os ajudaram a questionar o chamamento à vida do sacerdócio ministerial…

Pela minha parte cheguei ao seminário com dez anos e lá vivi quase década e meia, num tempo em que havia muitos seminaristas procedentes dos meios rurais, com alguma instrução religiosa em família, de paróquias com religiosidade social e num ambiente algo propício à aceitação de vir a querer ‘ser padre’. Talvez hoje não seja tão fácil – sobretudo em certos meios e em espaços menos aferidos à fé cristã – essa razoável conformidade em declarar tal vontade de tornar-se padre…

O risco de terem terminado os seminários menores – espaços de estudo, de aprendizagem, de convivialidade e de amadurecimento humano, afetivo e espiritual…por ocasião da adolescência – como que cavaram um certo fosso naquilo – com todos os perigos e possibilidades – que era um acrisolar de bons cristãos com valores bebidos na fonte de uma cultura com princípios de índole católica.

4. Aos que hoje trabalham afanosamente na formação dos seminários deixo o meu mais sincero reconhecimento, na medida em que estão a cinzelar os futuros padres com amor, carinho e dedicação. Àqueles que hoje são formados suplico de Deus a maior disposição interior e exterior para que saibam corresponder às expetativas que recaem sobre eles, por forma a serem padres cultos, santos e sãos…



António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário