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segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Quando ‘família’ serve para tudo e diz quase nada

 


Eis que, de repente, começamos a ouvir os politicos a referirem-se à ‘família’ como sujeito das suas propostas à mistura com adjetivos das suas sugestões, umas mais sérias do que as outras, algumas algo medíocres na execução e tantas execráveis nas consequências.

Embora seja um termo recorrente, a ‘família’ pode se entendida como cada um quiser e usada para satisfazer os objetivos (subtis e não-declarados) a almejar...

1. Sendo usado em diversas circunstâncias o termo ‘família’ pode ser entendido conforme cada um achar mais conveniente. Deste modo seria de grande utilidade e do mais eficaz entendimento que este termo ‘família’ fosse explicado naquilo que tem, convém ou serve. Mais do que do contexto, ‘família’ precisa de ser explicada no enquadramento.

Roça quase o anacronismo – e porque não dizê-lo a manipulação – o (ab)uso da palavra ‘família’, tais foram as malfeitorias contra a mesma introduzidas nas leis, nas regras e nos comportamentos sociais... e a forma explícita ou implícita, à luz do dia ou no submundo ideológico... e tudo de forma transversal.

De um conceito socioculutral de família – com ascendentes, descendentes e colaterais – foi-se afunilando a compreensão de família até quase se reduzir a uma visão burguesa de pai-mãe-filhos, camuflada, em certos casos, com os animais de estimação e/ou feitos elementos integrantes da família... possivelmente excluindo os potenciais/putéticos filhos.

[ainda na manhã, deste domingo de outono, assisti a uma das cenas mais bizarras de significação – um casal (homem e mulher) com menos de trinta anos limpava afanosamente um cão de razoável porte que fora banhar-se no rio e que precisava de ser enxugado da atividade feita]. Teriam tal dedicação para com um filho/a? Seriam tão solícitos e carinhosos? Tal desvelo é de fachada ou de convicção?]

Não deixa de ser preocupante a onda de rejeição da maternidade/paternidade de pessoas em tempo de contribuirem para a regeneração do tecido humano e demográfico. O inverno sem filhos da velha Europa tem algo bem mais profundo do que as dificuldades económicas, a prossecução do bem-estar ou mesmo o medo quanto ao futuro. Foi-se alicerçando mais um modelo de felicidade onde a fertilidade quase foi excluída – até pelo adiamento dos filhos – e o culto do (pretenso) suessso profissional. Tudo terá uma fatura de alto custo!

2. Pela minha parte – mais cultural até do que religiosamente – sigo a designação judeo-cristã de família: «A família é a célula originária da vida social. É ela a sociedade natural em que o homem e a mulher são chamados ao dom de si no amor e no dom da vida. A autoridade, a estabilidade e a vida de relações no seio da família constituem os fundamentos da liberdade, da segurança, da fraternidade no seio da sociedade. A família é a comunidade em que, desde a infância, se podem aprender os valores morais, começar a honrar a Deus e a fazer bom uso da liberdade. A vida da família é iniciação à vida em sociedade» – Catecismo da Igreja Católica, 2207.

Sigo realçando alguns elementos desta definição-descritiva de família em conceito católico:

* célula originária da vida social – na família tudo tem fundamento e fora dela corremos o risco de ‘inventar’ outras manifestações que quase poderão parecer aberrações.

* sociedade natural em que um homem e uma mulher são chamados ao dom de si no amor e no dom da vida – podem surgir outras propostas, mas não respondem naturalmente ao dom da vida de outrem... Custa tanto compreender esta posição? Não haverá má fé ao acalentar de certas posições contrárias a esta da Igreja?

* comunidade onde se podem aprender os valores morais – é nesta expressão humana que os valores éticos são ensinados, pois mais com a vida do que com as palavras, estas devem servir para explicar aqueles.

* honrar a Deus – a melhor escola da fé é a família, aprendendo com as pequenas coisas e para os grandes momentos. De facto, Deus não se impinge, faz-se sorver desde o leite materno.

* fazer bom uso da liberdade, isto é, educando para a responsabilidade desde a mais tenra idade.

* vida em sociedade – quando a família falha tudo se esboroa em catadupa e possível tempestade.



António Silvio Couto

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