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terça-feira, 11 de outubro de 2022

‘Fazer catequese’… em tempos de convulsão

 


Por estes dias começa a retomar-se à normalidade, mesmo nas paróquias e nos serviços desenvolvidos. Depois de meses de interregno – acrescentados pela vaga de pandemia – retomam as atividades da (dita) catequese. Centramos a atenção neste setor específico das tarefas das paróquias e naquilo que pode (ou deve) ser reformulado, tendo em conta várias incidências psicológicas e espirituais, tanto das crianças/adolescentes, como daqueles/as que ‘ministram’ os conhecimentos/vivências, sem nunca esquecermos as famílias, nas suas mais díspares expressões ou acomodamentos…à mistura com feridas e novos desafios.

1. Não será que muito daquilo que andamos a fazer – numa imitação e em paralelo com a fase de escolarização – parece mais entretenimento do que comunicação de fé, de presença de Jesus e de expressividade de Igreja? Terá alguma utilidade o processo de catequização – onde os jovens devem ser também incluídos – sem a participação ativa da família de cada catequizando? Não andará a Igreja – paróquias e dioceses – a fazer de substituta de quantos deveriam serem os intervenientes e intérpretes da catequese? Atendendo à ineficácia dos resultados, não seria de estudar e de delinear, a curto e médio prazo, um novo método de catequese nas paróquias, por forma a serem mais envolvidas as famílias?

2. Perante estas e outras questões bem mais acutilantes, percorremos o ‘Diretório para a catequese’ (2020) quanto às orientações para com as paróquias e como estas devem viver o processo de catequização.

* «As paróquias, fundadas sobre os pilares da Palavra de Deus, dos sacramentos e da caridade, que por sua vez pressupõem uma rede de serviços, ministérios e carismas, oferecem «um exemplo claro de apostolado comunitário, porque congregam na unidade todas as diversidades humanas que aí se encontram e inseremanas na universalidade da Igreja» (AA 10). As paróquias manifestam o rosto do Povo de Deus que se abre a todos, sem preferência de pessoas. Elas são «o ambiente ordinário no qual se nasce e cresce na fé. Constituem, por isso, um espaço comunitário muito adequado para que o ministério da Palavra que nelas se realiza seja contemporaneamente ensinamento, educação e experiência vital» (n. º 299).

* «A relevância das paróquias não pode levar a ignorar as dificuldades de hoje, ditadas pela alteração dos espaços históricos, sociais e culturais em que nasceram» (n.º 300).

* «Hoje, as paróquias estão comprometidas em renovar as dinâmicas relacionais e em tornar as suas estruturas mais abertas e menos burocratizadas. Propondoase como comunidade de comunidades, devem ser para os movimentos e para os pequenos grupos um apoio e um ponto de referência para viver na comunhão a sua atividade evangelizadora» (n. º 301).

As paróquias mudaram, por isso, os meios de fazer catequese têm de ser modificados. Custa assim tanto!

3. Sobre a presença e participação das famílias no processo de catequização refere o mesmo ‘Diretório para a catequese’:

* «O futuro das pessoas, da comunidade humana e da comunidade eclesial depende em boa parte da família, célula fundamental da sociedade. Graças à família, a Igreja tornaase família de famílias e enriquecease com a vida destas igrejas domésticas» (n. º 226).

* «A família é um anúncio de fé enquanto lugar natural onde a fé pode ser vivida de maneira simples e espontânea» (n. º 227).

* «A família anuncia o Evangelho. Enquanto Igreja doméstica, alicerçada no sacramento do Matrimónio que tem também uma dimensão missionária, a família cristã participa na missão evangelizadora da Igreja e é, por isso, sujeito de catequese» (n. º 231).

* «Com zelo, respeito e solicitude pastoral, a Igreja quer acompanhar aqueles filhos que estão marcados por um amor ferido, que se encontram numa condição mais frágil, voltando a dar-lhes confiança e esperança»» (n. º 234).

Mesmo que mais trabalhoso do que as rotinas em que nos vimos entretendo, temos de fazer uma escolha que tenha futuro e possa retomar o essencial: a família é o melhor lastro para fazer, viver e celebrar a catequese.



António Sílvio Couto

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