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segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Caminhada pela vida

 


Na tarde do dia 22 deste mês realiza-se em vários pontos do nosso país – Aveiro, Braga, Coimbra, Évora, Funchal, Guarda, Lisboa, Porto, Santarém e Viseu – a apelidada: ‘caminhada pela vida’. Embora a horas diferentes o sentido da iniciativa é o mesmo: a defesa do valor da vida (desde a conceção até à morte natural) e a dignidade da família.

Embora a ‘caminhada pela vida’ seja convocada sem rótulo religioso ou ideológico, ela ‘vive sobretudo do empenho dos católicos, dispostos a publicamente testemunhar a beleza do dom da Vida que só se encontra em Cristo Jesus’, lê-se numa comunicação sobre o assunto.

1. Decorridos tantos séculos de pretensa civilização por que será necessário vir para a rua afirmar um valor, que é inquestionável? Não será que a civilização – no sentido etimológico do termo: viver na cidade, sair do estado de barbárie – inverteu o seu percurso, fazendo recorrer aos valores inumanos, desumanos ou mesmo bárbaros? Quando se consagrou na legislação a possibilidade de recorrer à não-vida – antes de nascer: aborto; antecipando a morte: eutanásia – não se entrou numa espiral irreversível contra tudo, contra todos e mesmo contra Deus? Não será que os critérios que levaram a promover esta iniciativa são como que um grito de revolta e de denúncia de que algo vai (muito) mal no reino da Humanidade ainda não-morta?

2. Tentando perceber qual a razão e o significado da ‘caminhada pela vida’ podemos ler: A ‘Caminhada pela vida’ é a expressão pública de um povo que deseja testemunhar que toda a vida tem dignidade. Nascida no contexto dos referendos ao aborto, desde 2012, a ‘Caminhada pela Vida’ realiza-se anualmente. São milhares de pessoas, de todas a idades, que todos os anos saem à rua em defesa da Vida desde o momento da conceção à morte natural.

Atendendo ao impacto desta iniciativa na vida social e política, foi da ‘Caminhada pela Vida’ que nasceu o projeto Europeu “One of Us”, a iniciativa legislativa de cidadãos “Pelo Direito a Nascer” e a petição “Toda a Vida tem Dignidade”…

3. Feita esta abordagem geral tentemos perscrutar algo mais profundo neste combate que, por vezes, parece inglório: ser pela vida e lutar contra os sinais de morte, difusamente celebrados na nossa cultura, mesmo sem disso nos darmos conta. Efetivamente a quem interessa promover mais a morte – antes de nascer ou abreviando a sua chegada – senão a quem não descobriu que o dom da vida é o mais inviolável e o fundamental de todos? De que me serve a liberdade, se não estou vivo? Ou para que serve o direito à reivindicação se, entretanto, me tirarem – sem minha autorização e de forma consciente – a vida, mesmo que adoentada ou sob o espetro do sofrimento?

4. É verdade que essas manifestações pela vida não conseguem atrair a atenção dos abutres da comunicação, pois lhes interessa mais a morte e seus sequazes do que a vida e a sua dignificação. E, se derem alguma importância a alguns factos (quase sempre infantilizados e depreciativos), sempre irão escarafunchar algo de ideológico, com marcas de cristianismo e, por que não, homofóbico, racista e de ultradireita (agora rotulado de populismo extremista)… Desgraçadamente a comunicação social em geral e a portuguesa em particular está mais ao serviço da não-vida do que da promoção do verdadeiro sentido da vida, seja qual for a sua instância de manifestação. Efetivamente uma certa esquerda estatal e totalizante entretém-se a fazer piadas – aplaudidas pelos mesmos contratados para o ato em locais diversos – com aquilo que possa destoar dos seus critérios, valores e acontecimentos de opção pela não-vida… A imposição de um modelo tão igual não cheira a ditadura de género e a um género de ditadura cultural do menor denominador comum?

5. Recordando o quinto mandamento da Lei de Deus: ‘não matar nem causar outro dano, no corpo ou na alma, a si mesmo ou ao próximo’.



António Sílvio Couto

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