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sábado, 22 de outubro de 2022

Lições da ‘nova’ crise

 

O século XXI, com pouco mais de duas dezenas de anos, já nos trouxe vários momentos, disso a que convencionaram chamar de ‘crise’: 2003 - recessão económica no nosso país; 2007-2008 - financeira (do subprime); 2010-2014 - da dívida pública na zona euro com forte repercussão em Portugal, que levou à intervenção de entidades estrangeiras para salvaguardar a nossa economia pública e privada; 2020-2021- consequências da pandemia; 2022 - guerra na Ucrânia e a inflação galopante...

É sobre esta última que vamos tecer algumas considerações, embora parcelares, pois ainda estamos a vivê-la e, sabe-se lá, em que etapa.

1. Apesar de vários indícios dr que algo vai mal e poderá agravar-se ainda mais, há pessoas que continuam a viver (e a gastar) como se isso não as atingisse nem fosse nada com elas, embora se vejam a passar por dificuldades crescentes, mas dá a impressão de que não assumidas. Com efeito, vemos os supermercados apinhados de pessoas e a comprarem, aparentemente, bens que não são essenciais. Continuamos a constatar que os restaurantes não têm mãos a medir, apesar do agravamento dos preços das refeições. Vemos que as estradas estão cheias de carros de alta cilindrada e em grande velocidade, não se notando que os combustíveis aumentam todas as semanas. O que leva toda esta gente a disfarçar que ‘está tudo bem’, nesse estafado estribilho que nada diz, embora pareça querer enganar? Segundo consta, quando temos pessoas que começam a roubar para comer, não haverá nada a modificar?

2. É de uma atroz cumplicidade observar os mentores políticos – sobretudo os que ocupam as cadeiras do poder, central ou autárquico – a deitar dinheiro sobre os problemas, como se isso fosse a solução para a falta de consciência daquilo que virá verificar-se a curto prazo, pois as soluções de fundo vão sendo adiadas e torneadas com benesses conjunturais e não com decisões estruturais. Por que se há de continuar a incentivar o consumo e não a poupança? Por que se excita o povo com regalias, quando terão de as pagar com juros muitos altos e já fora do controle? Até onde irá a ilusão, sem disso acordarmos sem ser de um pesadelo?

3. Não aprendemos a lição de que não falar a verdade já, tornar-se-á foco de mentira no futuro. Iludir os problemas com placebos de má memória fez-nos chamar a ajuda externa e pagar juros de que ainda não nos livrámos…totalmente. Insistir nos mesmos erros com soluções que só adiam o confronto com a certeza de que não somos ricos, embora o pudéssemos ser se trabalhássemos com critério e boa organização. Veja-se com são introduzidos fait-divers recorrentes para entreter os papalvos: a semana de trabalho de quatro dias (não se diz com quantas horas semanais); a taxa de desemprego (mas faltam trabalhadores nalguns setores fulcrais); a preferência pelo subsídio em vez de trabalhar e – o pior de todos – isso de continuarmos a produzir ‘riqueza’ porque somos um país de turismo...



4. Urge, por isso, encetar novos caminhos para que as ‘crises’ anteriores nos possam dar lições e que apreendidas possamos enfrentar mais esta crise com capacidade de quem aprendeu com o passado para saber conduzir-se no presente e no futuro:

– Dado que as pessoas não sabem conduzir a sua vida em conformidade com as suas reais possibilidades, não será avisado que a publicidade empurre para gastar sem olhar a fins;

– A comunicação social precisa de investir na educação para a poupança, ensinando a não desperdiçar recursos ou mesmo bens de alimentação, ajudando através de pistas simples e eficazes no dia-a-dia;

– Por vezes se tem dado o peixe sem ensinar a manusear a cana, é preciso dar o peixe para ter força de aprender a lançar a cana, isto é, a sobreviver sem andar sempre à custa de pouco ou nada fazer por si;

– Não podemos permitir que as pessoas desistam delas mesmas, correndo o risco de se desdignificarem, desleixarem ou desistirem, tentando, por isso, alimentam a esperança de cada crise, por mais tenebrosa que possa parecer, tem a sua saída… Vamos ajudar-nos a sair desta crise de cabeça levantada e com dignidade!



António Sílvio Couto

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