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terça-feira, 16 de novembro de 2021

Mudanças ou incongruências?


‘Odiavam ir ao domingo à missa e agora passam horas no yoga. Odiavam abster-se de comer carne na quaresma e agora tornam-se vegans. Odiavam rezar ao Santíssimo Sacramento e agora fazem meditação [transcendental]. Odiavam confessar-se e agora contam as suas misérias a um psicólogo, pagando-lhe’.

Li este texto e considerei que ele retratava – mesmo que de forma simplista – muitos dos ‘nossos’ católicos, que se tornaram fervorosos praticantes de outras ‘religiões’ bem mais atrativas… a seu juízo!

‘Mutatis mutandis’ é como aqueles ‘nossos’ cristãos enfastiados com as homilias e quase avessos a escutarem a Palavra de Deus, em contexto católico, mas que, fascinados pelas testemunhas de jeová, descobrem a Bíblia e tornam-se leitores atentos, estudiosos metódicos e, por vezes, difusores daquilo que, por desconhecerem, desprezavam…

1. Trocar a missa pelo yoga – será algo comparável? – Desde logo estes dois modos de ser e de estar são como que incompatíveis: yoga acentua a centralização no eu – na linha de perceção daquilo que acontece com a pessoa e com o seu corpo – em nítido contraste com a dimensão comunitária fundacional da vivência da missa, isto é, somos muitos (Igreja) unidos pelo mesmo Cristo… Pode haver sessões (com muitas pessoas) de yoga, mas cada um faz o seu percurso, experimenta a sua respiração, mesmo que possa sentir a dos outros…Por seu turno, na missa, mesmo que poucos estamos em condição comunitária, isso mesmo se exprime pela oração do ‘Pai-nosso’, onde cada um reza sempre no plural e não singulariza a sua oração.

2. Mudar para vegetariano? – De alguma forma vemos a incongruência das pessoas quando contestam o jejum como método espiritual e o adotam como atividade estética ou seguindo orientações mais ou menos capciosas da sua mentalização em função de uma tal moda (um tanto aceite e divulgada), isto é, há quem siga o jejum – de aspetos alimentares – como regime e não como sistema de mudança de vida. De facto, há pessoas que se adaptam momentaneamente mas não mudam intrinsecamente…Mais cedo do que tarde voltarão ao ponto de partida, até porque as etapas custam mais do que os resultados.

3. Rezar o quê, a quem e como? – Nas palavras citadas faz-se uma contraposição entre a adoração eucarística e a meditação influenciada por outras propostas religiosas. Como se fossem comparáveis ou mesmo tivessem o mesmo valor…Com efeito, a grande questão é a necessidade de ter tempo de oração, tendencialmente diário. Ora isso falta à maioria das pessoas, que vivem flutuando sem terem tempo de se encontrarem consigo mesmas e tão pouco de darem espaço à escuta de Deus. É essencial que tenhamos tempo e vivência de nos encontrarmos no ‘sacrário do nosso coração’ – como tão belamente se referiu o Concílio Vaticano II, na Constituição pastoral ‘Gaudium et spes’ sobre a Igreja no mundo atual, n.º 16. Na medida em que lermos, meditarmos e rezarmos a partir da Sagrada Escritura teremos algo mais do que comprazimentos de aferição em autoestima…A Palavra de Deus converte, sempre!

4. Reconhecer-se pecador diante de quem? – A crise da confissão é muito mais do que confusão de fé, é, sobretudo, alienação de quem se considera impecável (sem pecado), insensível (às faltas alheias) e, tantas vezes, intratável, dado que não se reconhece nas suas falhas, antes se exalta no seu orgulho e inventa desculpas para não ser normal, isto é, com qualidades e defeitos, com erros e falhas, com virtudes e pecados. Aquilo que é de graça – sem custo e dado por misericórdia – na celebração da confissão sacramental foi dando lugar a umas sessões terapêuticas – pessoais ou em grupo – pagas a bom preço e, quantas vezes, despudoradamente lesivas da dignidade da pessoa humana. Cada um saberá escolher o que mais lhe agrade ou onde se sinta respeitado e respeitador…


= Estes aspetos poderão ser úteis desenvolver com mais simplicidade e exigência…cristãmente em Igreja!



António Sílvio Couto

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