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sexta-feira, 26 de novembro de 2021

’25 de novembro’ sempre atual

Dezanove meses depois da ‘revolução do 25 abril’ foi reposta alguma normalidade no país.

Recordemos – eu relembro muitos deles com memória e aflição ao tempo – alguns dos acontecimentos que fizeram história…que importa nos esquecer, até porque em época de eleições precisamos de entender os intervenientes de hoje à luz das façanhas do passado.

Eis um breve sumário:

Entre 1974 e 1975, diversos acontecimentos marcaram a sociedade portuguesa. Entre os quais, o apelo do general António Spínola à ‘maioria silenciosa’ a 28 de setembro... com a sua demissão do cargo de Presidente da República, dois dias depois, substituído por Costa Gomes. A 11 de março de 1975, uma tentativa de golpe de estado deu origem a uma viragem substancial do processo revolucionário, que teve o seu epílogo nos acontecimentos de 25 de novembro de 1975.

Explicando as etapas:
- As dissidências no seio do Movimento das Forças Armadas (MFA) e na sociedade portuguesa foram crescendo depois do 25 de Abril, acabando por convergir nos acontecimentos do 28 de setembro de 1974, em que o general Spínola, então Presidente da República, apelou à “maioria silenciosa” para que manifestasse a sua oposição ao processo revolucionário.
- Ultrapassado este confronto com o afastamento do general Spínola e a nomeação do general Costa Gomes para a Presidência da República, a agitação social não deixou de se acentuar, vindo a atingir novo ponto de rutura em 11 de março de 1975.
- O período de tensão que se seguiu ficou conhecido como “Verão Quente”. Neste excecional período de menos de nove meses ocorreram profundas transformações da sociedade portuguesa.
- Através de movimentos espontâneos ou mobilizados para grandes manifestações resultantes do seu enquadramento sindical ou partidário, as pessoas e os grupos sociais tiveram oportunidade de exprimir o seu posicionamento e de manifestar a crescente consciência dos princípios e dos valores em jogo... cuja expressão mais significativa foram as eleições para a Assembleia Constituinte, em 25 de Abril de 1975, com a maior taxa de participação de sempre: 90% dos eleitores…
- Refira-se que, a partir de 11 de Março, as forças intervenientes no processo político se foram posicionando: de um lado forças de esquerda mais radicais, onde se pretendia fazer prevalecer a importância das conquistas revolucionárias e do outro lado - literalmente da barricada - outras forças ligadas às linhas socialista e social-democrática, tendo por meta a realização de eleições e a adequação do modelo de sociedade aos resultados eleitorais.
- Atendendo à especificidade da situação portuguesa, onde as Forças Armadas, através do MFA, desempenhavam um papel de relevo, as prioridades de cada projeto são transferidas para o interior do MFA, vindo este a transformar-se no lugar privilegiado de confrontação, percebendo-se isso nas ‘correntes’ (moderada ou extremista) em confronto no seio do MFA., e do ‘conselho da revolução’ em particular... reflexo da sociedade e refletindo-se nela e nos partidos/ideologias/tendências...
- Não podemos ainda esquecer o clima de ‘guerra fria’ entre os blocos ocidental e de leste na configuração geoestratégica.... foi um tempo de agitaçãop social.
- Para abreviar: tudo isto culminou com as movimentações militares de 25 de novembro de 1975 e a vitória definitiva dos que pretendiam um sistema político segundo os padrões europeus, baseado em eleições democráticas e na vontade popular.

Que lições…46 anos depois?

Tantos anos decorridos já percebemos o significado desta aferição democrática iniciada no 25A? Não andará muita gente à deriva da sua identidade, quando se fala do 25N? Por que teremos de aceitar a celebração de um e não cuidamos do não-esquecimento de outro? Até quando esconderão as vítimas da revolução?



António Sílvio Couto

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