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quarta-feira, 24 de novembro de 2021

‘Drill’ – música de guerra?

 


O 'drill' será um estilo de música – à maneira de rap – que incentiva os jovens a uma guerra total contra tudo e contra todos. Segundo observações mais atentas nas letras os rappers de bairro apelam ao controlo do território pelas armas.

O fenómeno já chegou a Portugal e está a espalhar-se com velocidade nos bairros degradados dos subúrbios. O 'drill' pode ser uma possível causa da guerra de gangues que está em curso neste momento na região de Lisboa.
Atendendo a este contexto, começam a ser feitas algumas conjeturas sobre este fenómeno: qual o seu significado social, económico ou cultural? Quem participa neste estilo musical esconde algo mais do que manifesta? Os adereços que apresentam – gorros, máscaras, facas ou outros objetos de ataque – envolvem organização ou são consequências das circunstâncias de onde provêm? A julgar pelos primeiros resultados, não deveriam as autoridades investigam as causas? Será um fenómeno de jovens/adolescentes ou encripta outras envolvências sociopolíticas? 

 1. Se formos à procura da origem do termo encontramos que ‘drill’ é uma palavra inglesa que significa broca, perfurar, perfuração... Quererá esta atitude musical, em curso, brocar algo mais do que as coisas ou preferirá as mentes? Atendendo às circunstâncias e aos ambientes onde este estilo musical se desenvolve teremos de estar atentos para que não descambem para a agressividade e a violência ainda mais incontrolável. Com efeito, certos subúrbios têm sido, sobretudo nas últimas duas décadas, focos de conflitualidade nem sempre bem enquadrada e inserida no conjunto social. Ainda não advertimos, politicamente, isto?

 2. Mesmo que dando azo (permissão, incentivo ou tolerância) aos mais jovens para exprimirem a rebeldia que lhes é própria, teremos de saber interpretar as mensagens que eles nos enviam. Assim foi no passado, tal há de ser no presente. Ora, dá a impressão que alguns destes adolescentes e jovens se têm vindo a guetizar, fechando-se na sua bolha e como que ostracizando quem nela queira interferir.

 3. Ao nível das autoridades – políticas, sociais ou de segurança – parece que preferem assobiar para o lado, cantarolando, para disfarçar que isso possa tornar-se um problema público. Alguns preferirão incentivar tais contestações, pois poderão induzir em erro quem considere isso ‘democrático’, na linha particularmente do protesto...mais ou menos agressivo. No tempo das ideologias sabíamos quem representava e, quando protestava, era sobre o quê. Agora torna-se difícil detetar qual a mensagem, dado que o mensageiro se encobre e disfarça e até a própria mensagem precisa de ser desencriptada, tanto na forma como no conteúdo...

 4. Nesta fase pós-pandemia configura-se de grande habilidade saber descortinar o que se quer dizer, dado o emaranhado de comunicações: inúmeros emissores se interferem, numa acintosa provocação e onde os recetores fazem um esforço titânico para entenderem o mínimo e razoável. Quem escutar aqueles jovens driller’s, por entre a sonoridade atabalhoda, não terá tarefa fácil de entender o que eles dizem...até porque usam um linguajar esteriotipado e sincrético... Não fossem os gestos algo agressivos ficaríamos ainda mais apreensivos sobre aquilo que nos tentam comunicar.  

 5. Quando vivemos numa época assaz manipuladora na e pela comunicação – social ou de redes organizadas – não seria mais avisado tentar conter tantas das noticias – quantas vezes quase apresentadas como façanhas – destes grupos contestatários e, em muitos casos, fomentadores da agressividade? Não será de maior valia a paz social do que a notícia fantástica e quase inconsequente daqueles episódios de violência? Mais uma vez será útil e benéfico ponderar para que não se venha a colher tempestades será preferível não ser promotor da sementeira de ventos. Por que custa tanto ser equilibrado e sensato? 

 

António Sílvio Couto

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