O
'drill' será um estilo de música – à maneira de rap – que incentiva os jovens a
uma guerra total contra tudo e contra todos. Segundo observações mais atentas
nas letras os rappers de bairro apelam ao controlo do território pelas armas.
O fenómeno já chegou a Portugal e está a espalhar-se com velocidade nos bairros
degradados dos subúrbios. O 'drill' pode ser uma possível causa da guerra de
gangues que está em curso neste momento na região de Lisboa.
Atendendo a este contexto, começam a ser feitas algumas conjeturas sobre este
fenómeno: qual o seu significado social, económico ou cultural? Quem participa
neste estilo musical esconde algo mais do que manifesta? Os adereços que
apresentam – gorros, máscaras, facas ou outros objetos de ataque – envolvem
organização ou são consequências das circunstâncias de onde provêm? A julgar
pelos primeiros resultados, não deveriam as autoridades investigam as causas?
Será um fenómeno de jovens/adolescentes ou encripta outras envolvências sociopolíticas?
1. Se formos
à procura da origem do termo encontramos que ‘drill’ é uma palavra inglesa que
significa broca, perfurar, perfuração... Quererá esta atitude musical, em
curso, brocar algo mais do que as coisas ou preferirá as mentes? Atendendo às
circunstâncias e aos ambientes onde este estilo musical se desenvolve teremos
de estar atentos para que não descambem para a agressividade e a violência
ainda mais incontrolável. Com efeito, certos subúrbios têm sido, sobretudo nas
últimas duas décadas, focos de conflitualidade nem sempre bem enquadrada e
inserida no conjunto social. Ainda não advertimos, politicamente, isto?
2. Mesmo que
dando azo (permissão, incentivo ou tolerância) aos mais jovens para exprimirem
a rebeldia que lhes é própria, teremos de saber interpretar as mensagens que
eles nos enviam. Assim foi no passado, tal há de ser no presente. Ora, dá a
impressão que alguns destes adolescentes e jovens se têm vindo a guetizar, fechando-se
na sua bolha e como que ostracizando quem nela queira interferir.
3. Ao nível
das autoridades – políticas, sociais ou de segurança – parece que preferem
assobiar para o lado, cantarolando, para disfarçar que isso possa tornar-se um
problema público. Alguns preferirão incentivar tais contestações, pois poderão
induzir em erro quem considere isso ‘democrático’, na linha particularmente do
protesto...mais ou menos agressivo. No tempo das ideologias sabíamos quem
representava e, quando protestava, era sobre o quê. Agora torna-se difícil
detetar qual a mensagem, dado que o mensageiro se encobre e disfarça e até a
própria mensagem precisa de ser desencriptada, tanto na forma como no
conteúdo...
4. Nesta
fase pós-pandemia configura-se de grande habilidade saber descortinar o que se
quer dizer, dado o emaranhado de comunicações: inúmeros emissores se
interferem, numa acintosa provocação e onde os recetores fazem um esforço
titânico para entenderem o mínimo e razoável. Quem escutar aqueles jovens
driller’s, por entre a sonoridade atabalhoda, não terá tarefa fácil de entender
o que eles dizem...até porque usam um linguajar esteriotipado e sincrético...
Não fossem os gestos algo agressivos ficaríamos ainda mais apreensivos sobre
aquilo que nos tentam comunicar.
5. Quando
vivemos numa época assaz manipuladora na e pela comunicação – social ou de
redes organizadas – não seria mais avisado tentar conter tantas das noticias –
quantas vezes quase apresentadas como façanhas – destes grupos contestatários
e, em muitos casos, fomentadores da agressividade? Não será de maior valia a
paz social do que a notícia fantástica e quase inconsequente daqueles episódios
de violência? Mais uma vez será útil e benéfico ponderar para que não se venha
a colher tempestades será preferível não ser promotor da sementeira de ventos.
Por que custa tanto ser equilibrado e sensato?
António Sílvio Couto
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