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terça-feira, 9 de novembro de 2021

Magusto: carnaval do outono?

 


Por estes dias – entre a festa de São Simão e São Judas (28 de outubro) e a festa de São Martinho (11 de novembro), sem esquecer a data de Todos-os-Santos (1 de novembro) – é costume fazer-se o magusto, a que se associa uma fogueira com castanhas assadas…numa vivência festiva de confraternização entre os participantes.
Colocamos algumas perguntas que podem ser feitas ou que seriam úteis para quem deseja tentar discernir o significado das coisas, tanto no sentido humano como religioso. Haverá alguma relação entre as festividades do magusto – fixado na celebração do São Martinho – e o Natal? Poderemos fazer alguma correlação entre as ‘brincadeiras’ do magusto – onde alguns se enfarruscavam, disfarçando-se – e as máscaras de carnaval? Poderemos situar alguma semelhança entre o festejar do carnaval para viver a quaresma e a celebração do magusto/S. Martinho com o tempo de Advento, que prepara a vivência do Natal?

1. Contemos o tempo que medeia entre o São Martinho (1 de novembro) e o Natal (25 de dezembro): são quarenta e quatro dias. Se verificarmos também ocorrem quarenta e seis dias entre o carnaval e a Páscoa, daí o termo ‘quaresma’, relacionado com quarenta… Será mera coincidência?

2. Parece que, tal como antes da quaresma, isto é, no carnaval (intervalo para carne) se aliviou o jejum para vivê-lo com maior intensidade no período quaresmal, também se faz o mesmo para viver a preparação do Natal em Advento, se bem que este esteja reduzido, liturgicamente, a umas míseras semanas… Claro que podemos estar a falar, quanto à preparação natalícias, num contexto monacal e não numa vivência popular e, sobretudo, popularizada.
Diz-se nas decisões do primeiro Concílio de Mâcon (581-583): «Desde as férias de São Martinho até ao Natal do Senhor, deve jejuar-se nas segundas, quartas e sextas-feiras e nos sábados e celebrar-se, por ordem, os sacrifícios quaresmais» (Antologia litúrgica, Fátima, Secretariado Nacional de Liturgia, 2003, n.º 5191).

3. Se usássemos uma argumentação algo fundamentalista poderíamos considerar que, à semelhança do que acontece com o carnaval, vivemos mais a preparação do que aquilo que é central, isto é, usufruímos da festa, mas não entramos no jejum, vivemos o que prepara e não participamos na verdadeira preparação. Também aqui, na ‘celebração’ do magusto estamos mais sintonizados com o convívio – humano e salutar depois dos constrangimentos recentes da pandemia – do que com a autêntica preparação do Natal, esse sim central e essencial.

4. Magustamente falando devemos vivê-lo até como festa marcadamente portuguesa, dando-lhe o verdadeiro sentido de partilha, de convívio entre as pessoas, de alegria e mesmo de atenção aos outros. Tudo isto podemos e devemos fazer, sem esquecermos a dinâmica de preparação para a celebração do Natal, onde o centro não são as coisas – simbolizadas mais nas prendas do que nos presentes – mas o verdadeiro festejado, Jesus, verbo encarnado.

5. Embora seja assaz conhecida deixamos a lenda de São Martinho…como provocação às nossas preocupações tão mundanas. Certo dia, um soldado romano de nome Martinho, estava a caminho da sua terra natal. O tempo estava muito frio e Martinho encontrou um mendigo, que lhe pediu esmola. Martinho, não tendo outra coisa para dar, rasgou a sua capa em duas metades e deu uma parte ao mendigo. Nessa noite apareceu-lhe Jesus, agradecendo o gesto... Coisa acrescentada diz ainda que, quando Martinho deu parte da capa ao mendigo, de repente o frio parou e o sol apareceu... Acredita-se que esta mudança no estado do tempo tenha sido a recompensa por Martinho ter sido generoso para com o mendigo…

Façamos festa sem perder o horizonte da caminhada…nossa e dos outros!

António Sílvio Couto

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