Imensas
coisas estão a acontecer que planam numa espécie de ‘queda livre’…
Desiluda-se
quem ousasse pensar que estava a referir-me a uma tal formação partidária
autoapelidada de ‘livre’, pois, pelo que lá se vê e ouve, o adjetivo não condiz,
quanto seria desejável, com o substantivo…Diz o povo e com razão; quanto mais
alto se sobe (ou quer subir), maior é o trambolhão ou a queda.
* Reparemos
nos casos de justiça – denúncias, insinuações, acusações, tentativas de
julgamento, condenações – e da comunicação social, nalgumas situações
arvorada em detive, sob a alçada duma pretensa investigação. Com que facilidade
se promove um delinquente cibernético/hacker em quase herói…só porque trouxe
ilegalmente à luz do dia assuntos e coisas que interessavam a uns tantos ditos quase-impolutos/as…
* Por breves momentos olhemos para os
tentáculos do fenómeno desportivo, com o futebol em particular, por
entre tantas negociatas quem terá ainda capacidade para ser dizer
incorrupto…dependendo do preço.
*
Campos como a saúde – e nem será preciso deixar-se tomar pelo pânico do
coronavírus – ou a educação caem de uma forma tão abrupta que o lamaçal
das intrigas será o palco mais do que previsível…à mistura com laivos de
resolução adiada, por parte de quem tutela as áreas em apreço.
*
Questões como a vida – não nascida, ainda não morta e a que pretende
sobreviver – perdem importância no quadro dos valores – éticos/morais, sociais
ou culturais – fazendo com que pareça mais fácil decidir quem morre (agora ou
no futuro) do que quem há de ser digno de suplantar tantas das conjeturas e
conjunturas da legislação e da ocasião. Não deixa de quase ser sintomático da
desconformidade total que fautores do serviço à vida, como médicos e
enfermeiros, entram na propagação deste clima anti-vida, reinante e
inconsequente.
*
Espaços onde se exercia o mínimo de fé religiosa vão ficando vazios e menos
agradáveis do que em ocasiões de antanho. A queda vertiginosa com que
declinaram os praticantes faz (ou deve fazer) questionar os responsáveis, tanto
da organização, como da difusão. O número de ateístas cresce a olhos vistos, senão
na teoria ao menos na prática: só no nosso país serão já vinte por cento da
população…com uma larga maioria a dizer que teve raízes cristãs.
* Um
outro campo em progressiva degenerescência de queda livre é o das (ditas) artes
– teatro, cinema, televisão, ‘stand up comedy’ em particular, rábulas e
cançonetismo – pois o fácil recurso à ofensa – em especial com o recurso ao
léxico religioso/cristão – denota encolhimento da imaginação, senão mesmo pelo
estafado recurso a clichés nem sempre dignos e tão pouco respeitadores da
prática religiosa/cristã alheia… O humor exige inteligência e capacidade de
inovação, mas nos tempos que correm ela passou pelos autores/atores em maré de
tempestade…improvisada!
* O
modo como se enfrentam temas tão essenciais como a doença, a perda ou a
morte, vai-se percebendo que a forma de estar, sobretudo nesses momentos, nem
sempre questiona o como se vive, ficando numa certa apatia quase negacionista
ou mesmo destruída pelo sem-nexo. Mais depressa do que seria desejável – digo
desde uma postura de crente cristão – entramos em círculos vivenciais nem
sempre articulados com uma cultura ou ética judeo-cristã. Dá a impressão que
passamos, rapidamente, de um quase fideísmo acrítico para uma outra visão
agnóstica pela indiferença…pessoal e social.
= Como
poderemos suster e até inverter esta catadupa de quedas em campos, espaços e
situações onde já algo houve de bom e até de muito bom? Por onde se pode e deve
começar a investir para que esta queda vertiginosa de qualidade dos
intervenientes possa ser revertida? Ainda iremos a tempo de não cairmos na
fossa total e mortífera?
Desde
logo é preciso investir na descoberta e preparação de lideranças, pois
sem pessoas capazes de porem os seus dons ao serviço dos outros andaremos a
rastejar pela mediocridade. Urge elevar a qualidade daquilo que é feito e
apresentado, não bastando entreter, mas questionar, educar, gerar (e não só gerir)
cultura, onde os valores, princípios e virtudes sejam tidos em conta e não nos
deixarmos explorar pela mera brejeirice e a malcriadez reinante. Temos de
ultrapassar, urgentemente, essa nota medíocre do tanto vale o que tem interesse
como aquilo que não presta, expurgando este sem medo nem receio. Temos de saber
escolher entre a qualidade educada e a vulgaridade barata…até no preço.
António Sílvio Couto
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