Uns tantos – políticos, jornaleiros (os que
escrevinham ideologicamente nalguma comunicação social), comentadores,
dirigentes associativos e/ou desportivos e quejandos) – andavam ansiosos porque
fosse incendiado o rastilho do ‘racismo’.
As manifestações de alguns adeptos – sócios ou não –
num jogo de futebol, no domingo dia 16 de fevereiro, foi a pedra de toque para
que se gastem horas a discutir uma coisa que em Portugal não tem expressão como
eles desejavam. Podem dizer o que quiserem, os portugueses não são nem nunca
foram racistas e tão pouco xenófobos. Somos, pelo contrário, um povo aberto –
talvez em excesso e desmesuradamente condescendentes – a todas as raças e cores,
mesmo em nosso prejuízo. Somos um povo que sempre criou laços de fraternidade e
de harmonia entre os povos e as culturas, muitas delas bem menos respeitosas
para com a nossa liberalidade. Somos, por natureza, bem mais solidários do que
nos julgamos, pois ainda somos capazes de tirar do nosso essencial para
partilhar o que falta a tantos, embora estes nem sempre se mostrem
convenientemente agradecidos senão nos atos ao menos nas atitudes.
= Muitos e variados setores tentam cavalgar sobre
pequenos indícios desse tal ‘racismo’, mas bem depressa se esboroam as suas
pretensões e, nem mesmo, a intoxicação ideológica de uns tantos consegue criar
algo que tenha consistência ou significado. Vivendo numa área onde moram tantos
cidadãos procedentes de outros continentes e culturas será muito fácil
desmentir que o racismo tenha algo a ver com isso que pretendem dizer que
existe. Com que facilidade se dilui a cor da tez ou a forma de se exprimir,
percebendo somente que estamos perante pessoas e não em confronto com alguém
que nos incomoda.
Foi nitidamente ignóbil, na intenção e nos
resultados, essa publicidade – ‘todos diferentes, todos iguais’, pois pretendeu
nivelar o racismo pela diferença acintosa e não combatê-lo pela dignificação das
pessoas. Estas não se distinguem, mas convivem. Cada cidadão não pode ser
reduzido à mera expressão numérica, mas acolhido na diferença daquilo que é e
merece ser.
De entre todas as formas de convivência pela
dignidade e não pela distinção, o cristianismo foi, na maior parte dos casos,
aquele que melhor o idealizou, o pensou e o executou. Falamos do cristianismo
na sua génese e nos atos de fraternidade que sempre cuidou. Deixamos de fora
quantos usaram a expressão de fé cristã para escravizar, manipular, torturar ou
até matar. Outras designações religiosas têm feito também uma razoável evolução
e abertura à diferença que não só para com os da sua cultura…
Só uma acentuada ignorância histórica continuará a
relevar mais aquilo que foi mau do que tanto do que a civilização foi
conduzindo na aproximação dos povos, das nações e mesmo na formação dos países.
Talvez seja preciso lavar os preconceitos de certas ideologias para vermos
tanto que foi desenvolvido nos dois últimos séculos…
Certa virulência antirracista – sobretudo protagonizada
por setores aderentes ao marxismo-leninismo-trotskismo – como que denota alguma
tentativa de desviar a atenção dos crimes étnicos, rácicos e xenófobos
praticados pelos seus mentores ideológicos, sobretudo, no último século…em
várias latitudes e com milhões de vítimas.
= O pior racismo que se pode difundir ou cultivar é
o da indiferença, na medida em que as pessoas deixam de ser consideradas como
tal para se tornarem meras coisas ou objetos.
Diante de certos episódios como que se torna
lamentável o empolamento de ‘casos’ de racismo, pois só mentes diminuídas podem
considerar algum ascendente de supremacia sobre pessoas que tenham a cor da
pele distinta da dominante no meio. Na dimensão humana somos todos cidadãos de
direitos e com deveres iguais, embora diferentes no modo de os vivermos e de
nos fazermos ser comportamento social, político e cultural. Através de uma educação para a diferença
poderemos saber estar com quem não pensa como nós, não escolhe como nós e não
sente como nós.
O racismo ainda é uma fase muito primária da
evolução da história da humanidade. O racismo é a negação da cultura, seja qual
for a instância, o nível de instrução ou o estádio de liberdade. Racismo,
nunca!
António Sílvio Couto
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