«A vida há de ser acolhida, tutelada,
respeitada e servida desde o seu início até à morte: exigem-no simultaneamente
tanto a razão como a fé em Deus, autor da vida».
Ocorre, no próximo dia 11, o 28.º mundial do doente,
sob o tema. ‘vinde a Mim, todos vós que andais cansados e oprimidos, que Eu vos
aliviarei’ (Mt 11,28).
Na mensagem para este dia, o Papa Francisco
apresenta-nos (sobretudo a nós cristãos/católicos) alguns aspetos, quando nos
colocamos diante desta faceta da nossa vida – o ser/estar doente – e no trato
para com os outros também eles a viverem idêntica situação de fragilidade.
Isto é (ou pode ser) tanto mais importante quanto
está previsto para o dia 20 deste mês a discussão, no parlamento, de vários projetos
de lei em ordem à almejada legalização da eutanásia. Não deixa ainda de ser
significativa a coincidência, pois, nesse mesmo dia, celebra-se o centenário da
morte da pastorinha de Fátima, Jacinta Marto, uma criança que morreu com quase dez
anos, vítima da pneumónica espanhola que dizimou parte significativa do país…
a)
Passar pela experiência pessoal do sofrimento
«Só quem passa pessoalmente por esta
experiência [do
sofrimento] poderá ser de conforto para o
outro. Várias são as formas graves de sofrimento: doenças incuráveis e
crónicas, patologias psíquicas, aquelas que necessitam de reabilitação ou
cuidados paliativos, as diferentes formas de deficiência, as doenças próprias da
infância e da velhice, etc ...»
Com que importância temos de saber estar unidos aos
que sofrem, cuidando e sendo cuidados. Se há vivência que nos humaniza é a do
sofrimento, pois nos irmanamos como tanta gente que sofre e que procura sair
desse fosso mais alentada e não derrotada. Será que vivemos o sofrimento de
olhos postos em Jesus ou antes centrados em nós mesmos? Como educar para a
cristianização correta do sofrimento?
b)
Comunhão de uns com os outros…em família
«Na doença, a pessoa sente comprometidas não
só a sua integridade física, mas também as várias dimensões da sua vida
relacional, intelectiva, afetiva, espiritual; e por isso, além das terapias,
espera amparo, solicitude, atenção, em suma, amor. Além disso, junto do doente,
há uma família que sofre e pede, também ela, conforto e proximidade».
A doença é sempre uma limitação e não pode ser o
centro das questões. Por esta razão se fala, hoje, mais de pastoral da saúde e
menos da doença. Embora seja algo de menos bom, podemos e devemos cristianizar
a nossa forma de viver o sofrimento e em sofrimento. Certas expressões da nossa
linguagem, porém, atraiçoam-nos, dado que dizemos: ‘estava a sofrer tanto,
ainda bem que Deus o levou…’; ‘foi uma esmola ter morrido’…como se não
pudéssemos crescer na maturidade pela vivência adulta do sofrimento!
c) Sem
cedências à eutanásia
«Queridos profissionais da saúde, qualquer
intervenção diagnóstica, preventiva, terapêutica, de pesquisa, tratamento e
reabilitação há de ter por objetivo a pessoa doente, onde o substantivo
«pessoa» venha sempre antes do adjetivo «doente». Por isso, a vossa ação tenha
em vista constantemente a dignidade e a vida da pessoa, sem qualquer cedência a
atos de natureza eutanásica, de suicídio assistido ou supressão da vida, nem
mesmo se for irreversível o estado da doença».
O Papa
refere aos profissionais da saúde, onde inclui também os voluntários e tantos
outros intervenientes, algumas linhas da sacralidade da vida, manifestando
concordância na objeção de consciência quando tiverem todos de serem, efetiva e
afetivamente, coerentes com o sim à vida e à pessoa.
Pelo que
se pode enquadrar a reflexão do Papa Francisco para o 28.º dia mundial do
doente pode ser uma boa oportunidade, dada aos crentes, para refletirem sobre a
barbárie que os parlamentares portugueses irão cometer se aprovarem, como
parece, a despenalização da eutanásia… será um grande retrocesso cultural e
civilizacional cometido na linha de endeusamento dos critérios inumanos que
percorrem o mundo…atual!
António Sílvio Couto
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