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segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Ano do rato-metal




Seguindo o calendário do horóscopo/calendário chinês, no passado dia 25, teve início o ‘ano do rato de metal’. Atendendo à simbologia desta nova etapa do ciclo chinês perspetiva-se que este novo ano possa ‘ser abundante em oportunidades e novos projetos, particularmente nos negócios’, embora com alguma incerteza.

Dizem os entendidos que o rato – em subdivisões: metal, água, madeira, fogo e terra – é o primeiro signo do horóscopo chinês, dando-se, assim, início a um novo ciclo de doze anos (*)… Para aqueles que se guiam pela suposição (ou será superstição) do horóscopo, o rato chinês tem a correspondência ao ‘sagitário’ no zodíaco mais divulgado na sociedade ocidental.

Ora, se tivermos em mira a área da economia, esta nova etapa seria bem-vinda para a grande potência do continente chinês, na medida em que a economia chinesa tem vindo a abrandar, mesmo com algum crescimento (6,1%), no ano de 2019, à mistura com um já longo conflito comercial com os EUA, quase em fase de resolução a contento de ambas as partes.

Há, no entanto, uma penumbra no horizonte: o aparecimento e difusão do ‘coronavirus’ com tentáculos já visíveis na saúde e, possivelmente, na dimensão financeira, na medida em que pode atingir o consumo e a mobilidade das pessoas dentro e para fora do país… A curto prazo veremos as consequências. 

= Embora a distribuição dos anos segundo um certo calendário à semelhança do zodíaco possa ser aceitável nalgumas culturas, como a chinesa, há algo mais profundo que deveríamos questionar particularmente naquilo que se possa referir-se ao ritmo das parcelas do zodíaco e a influência que alguns lhe atribuem. Será que a vida de cada pessoa estará previamente escrita nas entrelinhas de outras configurações não-pessoais? Como poderemos ligar as estrelas na linha de uma suposta influência na conduta humana, geral e pessoal (que é muito mais do que individual)? Quem se guia ou quem pretensamente cultiva essa forma de estar na vida, tem (ou pode ter) uma visão crente (cristã) da vida ou antes se deixa conduzir por crendices pseudocientíficas? Serão compatíveis ou aceitáveis para um cristão práticas como a adivinhação, astrologia, cartomancia, quiromancia, tarot, necromancia, de ocultismo, feitiçaria e bruxaria? O recurso a adivinhos, astrólogos, videntes, bruxos e feiticeiros comporta risco para a fé cristã ou fazem perigar a comunhão com Deus e a Igreja? Haverá seriedade mínima nas (pretensas) previsões do horóscopo, apresentadas em certos órgãos de comunicação social? Aquilo será crença, engano (cultivado e aceite) ou mera charlatanice?  

= Consideremos alguns aspetos subjacentes às questões colocadas. Com efeito, viver numa espécie de conduta daquilo que os horóscopos dizem, seria como que viver nalguma predestinação mecânica, onde cada pessoa não era ela mesma, mas condicionada por elementos não-livres para consigo. Se reparamos os itens (saúde, dinheiro e amor) que regulam a escrita/emissão dos horóscopos como que roçam a vulgaridade e lançam alguma suspeita sobre a inteligência de quem lê e, pior, se por tais perspetivas se guia, pois tudo é tão largo que um alguém qualquer se poderá rever nas previsões alienatórias. Hoje, quando se deseja um mundo onde tudo possa ser light e sem aflições, como que cresce a rapidez de recurso às soluções fáceis, que muitos dos mecanismos usados pelos cultivadores da ignorância pelos horóscopos facilitam e difundem.

O que diz o Catecismo da Igreja Católica sobre esta matéria? «Todas as formas de adivinhação hão de ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demónios, evocação dos mortos ou outras práticas que erroneamente se supõe “descobrir” o futuro. A consulta aos horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e da sorte, os fenómenos de visão, o recurso a médiuns escondem uma vontade de poder sobre o tempo, sobre a história e, finalmente, sobre os homens, ao mesmo tempo que um desejo de ganhar para si os poderes ocultos. Essas práticas contradizem a honra e o respeito que, unidos ao amoroso temor, devemos exclusivamente a Deus. Todas as práticas de magia ou de feitiçaria com as quais a pessoa pretende domesticar os poderes ocultos, para colocá-los a seu serviço e obter um poder sobrenatural sobre o próximo - mesmo que seja para proporcionar a este a saúde - são gravemente contrárias à virtude da religião. Essas práticas são ainda mais condenáveis quando acompanhadas de uma intenção de prejudicar a outrem, ou quando recorrem ou não à intervenção dos demónios (n.os 2116-2117).

 

(*) A distribuição dos anos do horóscopo chinês: rato, boi, tigre, coelho, dragão, serpente, cavalo, cabra, macaco, galo, cão e porco.

 

António Sílvio Couto

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