Seguindo o calendário do horóscopo/calendário
chinês, no passado dia 25, teve início o ‘ano do rato de metal’. Atendendo à
simbologia desta nova etapa do ciclo chinês perspetiva-se que este novo ano
possa ‘ser abundante em oportunidades e novos projetos, particularmente nos
negócios’, embora com alguma incerteza.
Dizem os entendidos que o rato – em subdivisões:
metal, água, madeira, fogo e terra – é o primeiro signo do horóscopo chinês,
dando-se, assim, início a um novo ciclo de doze anos (*)… Para
aqueles que se guiam pela suposição (ou será superstição) do horóscopo, o rato
chinês tem a correspondência ao ‘sagitário’ no zodíaco mais divulgado na
sociedade ocidental.
Ora, se tivermos em mira a área da economia, esta
nova etapa seria bem-vinda para a grande potência do continente chinês, na
medida em que a economia chinesa tem vindo a abrandar, mesmo com algum
crescimento (6,1%), no ano de 2019, à mistura com um já longo conflito
comercial com os EUA, quase em fase de resolução a contento de ambas as partes.
Há, no entanto, uma penumbra no horizonte: o
aparecimento e difusão do ‘coronavirus’ com tentáculos já visíveis na saúde e,
possivelmente, na dimensão financeira, na medida em que pode atingir o consumo
e a mobilidade das pessoas dentro e para fora do país… A curto prazo veremos as
consequências.
= Embora a distribuição dos anos segundo um certo
calendário à semelhança do zodíaco possa ser aceitável nalgumas culturas, como
a chinesa, há algo mais profundo que deveríamos questionar particularmente
naquilo que se possa referir-se ao ritmo das parcelas do zodíaco e a influência
que alguns lhe atribuem. Será que a vida de cada pessoa estará previamente
escrita nas entrelinhas de outras configurações não-pessoais? Como poderemos
ligar as estrelas na linha de uma suposta influência na conduta humana, geral e
pessoal (que é muito mais do que individual)? Quem se guia ou quem
pretensamente cultiva essa forma de estar na vida, tem (ou pode ter) uma visão
crente (cristã) da vida ou antes se deixa conduzir por crendices
pseudocientíficas? Serão compatíveis ou aceitáveis para um cristão práticas
como a adivinhação, astrologia, cartomancia, quiromancia, tarot, necromancia,
de ocultismo, feitiçaria e bruxaria? O recurso a adivinhos, astrólogos,
videntes, bruxos e feiticeiros comporta risco para a fé cristã ou fazem perigar
a comunhão com Deus e a Igreja? Haverá seriedade mínima nas (pretensas)
previsões do horóscopo, apresentadas em certos órgãos de comunicação social?
Aquilo será crença, engano (cultivado e aceite) ou mera charlatanice?
= Consideremos alguns aspetos subjacentes às
questões colocadas. Com efeito, viver numa espécie de conduta daquilo que os
horóscopos dizem, seria como que viver nalguma predestinação mecânica, onde
cada pessoa não era ela mesma, mas condicionada por elementos não-livres para
consigo. Se reparamos os itens (saúde, dinheiro e amor) que regulam a
escrita/emissão dos horóscopos como que roçam a vulgaridade e lançam alguma
suspeita sobre a inteligência de quem lê e, pior, se por tais perspetivas se
guia, pois tudo é tão largo que um alguém qualquer se poderá rever nas
previsões alienatórias. Hoje, quando se deseja um mundo onde tudo possa ser
light e sem aflições, como que cresce a rapidez de recurso às soluções fáceis,
que muitos dos mecanismos usados pelos cultivadores da ignorância pelos horóscopos
facilitam e difundem.
O que diz o Catecismo da Igreja Católica sobre esta
matéria? «Todas as formas de adivinhação hão de ser rejeitadas:
recurso a Satanás ou aos demónios, evocação dos mortos ou outras práticas que
erroneamente se supõe “descobrir” o futuro. A consulta aos horóscopos, a
astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e da sorte, os
fenómenos de visão, o recurso a médiuns escondem uma vontade de poder sobre o
tempo, sobre a história e, finalmente, sobre os homens, ao mesmo tempo que um
desejo de ganhar para si os poderes ocultos. Essas práticas contradizem a honra
e o respeito que, unidos ao amoroso temor, devemos exclusivamente a Deus. Todas
as práticas de magia ou de feitiçaria com as quais a pessoa pretende domesticar
os poderes ocultos, para colocá-los a seu serviço e obter um poder sobrenatural
sobre o próximo - mesmo que seja para proporcionar a este a saúde - são
gravemente contrárias à virtude da religião. Essas práticas são ainda mais
condenáveis quando acompanhadas de uma intenção de prejudicar a outrem, ou
quando recorrem ou não à intervenção dos demónios (n.os 2116-2117).
(*) A distribuição dos anos do horóscopo chinês:
rato, boi, tigre, coelho, dragão, serpente, cavalo, cabra, macaco, galo, cão e
porco.
António Sílvio Couto
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