‘Um
grupo torna-se sempre mais unido se tiver algo que odiar’.
Esta
frase foi proferida por um iraniano, que é professor de psicologia numa
universidade americana. Para suportar esta indicação, o professor considera que
os responsáveis políticos introduzem, naquilo que dizem e no modo como atuam,
conceitos como o medo e a ansiedade para condicionarem as reações e os desafios
da sociedade mais aberta…
= Mas
haverá algo de abusivo naquela frase citada, ou, pelo contrário, ela revela mais
do que uma mera conjetura na leitura dos acontecimentos? Será que aquela frase
pode parecer incentivadora a mais ódio? Por seu turno, poderemos ver naquela
frase algo que explique muito daquilo que vemos, sentimos e vivemos… mesmo sem
disso nos darmos totalmente conta? Como podemos e devemos interpretar certas
manifestações de ódios, onde se espicaçam traços de raça ou de etnia? Não
viverá muita gente encapotada à sombra daquela frase, mesmo que teoricamente a
contestem?
= Desde
logo ‘ódio’ será útil interpretá-lo como algo de positivo, pois em muito
daquilo que colocamos a oposição está mais do que a mera inimizade ou a
dimensão de inimigo. Se atendermos à formulação psicológica de ‘ódio’ poderemos
encontrá-lo como um inverso de ‘amor’, na medida em que este possa explicar a
dedicação mais do que apaixonada por algo ou por alguém, enquanto ‘ódio’
exprime o seu contrário, na linha de desejar mal a alguém.
Naquilo
que envolve as pessoas humanas, o ódio exprime-se através dos insultos ou das
agressões físicas. A violência tende a ser uma das consequências do ódio… No
casos de países e nações é costume incentivar ódio de uns para com outros,
levando – como se refere supra – a unir aqueles que poderão concretizar ações de
ódio com os outros… nesse caso considerados como inimigos.
= Atendendo
à complexidade do nosso tempo talvez possa ser útil apresentar algumas
situações em que ‘um grupo se torna unido, se tiver algo que odiar’. Não será
isso que explica uma espécie de fanatismo (quase religioso) de certos grupos
desportivos, tenham ou não a designação de claques? Por vezes não acontece de
dirimirem-se contendas internas (ou intestinas), polarizando as de fora contra
outros que defendem as suas cores com idêntico fervor ou mesmo ódio? Não será
que alguma apatia, indiferença ou negligência, que tem vindo a criar episódios
sem-sentido, quando outros se apegam a rituais nada abonatórios dos princípios
que os norteiam?
Quem
não se recorda dos tempos em que os cristãos eram considerados minoria social e
eram até odiados pelos que não comungavam da sua fé? Nessas ocasiões – e não
são só dum passado longínquo, mas também percorrem muitos locais atualmente –
os cristãos uniam-se, não só porque eram perseguidos e mesmo odiados, mas porque
estava em causa a sua própria sobrevivência. Vemos já nos textos bíblicos e nas
reflexões da patrística essa necessidade de se unirem, não já para odiarem, mas
para conseguirem ultrapassar as dificuldades colocadas pelas condicionantes
exteriores.
Não
será que agora – no nosso tempo e na nossa terra – baixamos a guarda em matéria
de vigilância, mas também de unidade. Fomo-nos tornado mais inseridos no meio,
mais pela descoloração do que pela afirmação. Se alguém destoa desta onda de
boa aceitação – tanto em palavras como em ações – corre o risco de ser facilmente
rotulado com fanatismo, fundamentalismo e, mais recentemente, com populismo,
isto é, domesticaram o cristianismo e os cristãos com doses de compreensão
anódina e de aceitação insípida de princípios, valores e critérios…
Onde
está o sabor do sal, que somos? Por onde para a luminosidade proclamada nos
evangelhos? Onde está a verticalidade da linguagem do ‘sim, sim; não, não’?
Seremos ainda fiáveis para encetarmos a evangelização deste tempo? Daqui a meio
século haverá fé nos lugares onde agora a celebramos a meio gás?
Por
muito que apelemos a novos métodos de anúncio de Jesus, há um que nunca falha
nem estará desatualizado: o testemunho pessoal, o encanto por Cristo e a
correção de vida…na sendo do Evangelho!
António Sílvio Couto
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