Lemos
nos evangelhos que Jesus prometia àqueles que fossem enviados em seu nome, que
seriam recebidos como Ele seria recebido e que falariam na força do Espírito
Santo, quando estivessem em missão.
Esta
passagem bíblica veio-me mais intensamente à lembrança por ocasião da presença
de sessenta jovens universitários – concretamente do Instituto Superior de
Ciências do Trabalho e da Empresa – Lisboa – que estão a ‘missionar’ na Moita,
desde 22 deste mês até 1 de março. Este é o segundo ano do conjunto de três com
que a ‘Missão país’ quis investir nesta paróquia ao sul do Tejo.
Mais do
que falar do método da ‘Missão país’ e da sua implantação no tecido
socio-eclesial português gostaria de centrar a atenção na disponibilidade de
tantas pessoas – bem mais do que julgamos, embora possam parecer menos do que
seria preciso – para se colocarem à disposição com tempo e qualidade para esta
tarefa da evangelização.
Há um
largo e salutar leque de pessoas – muitas delas jovens (masculinos e femininos)
– que responde aos desafios de se unirem para o anúncio de Jesus e do seu
evangelho. Outros há que entregam a vida em totalidade para que essa missão
seja projeto de toda uma existência. Mas diante do amorfismo de uma parte
significativa da Igreja católica, algo nos deverá questionar e até fazer pensar
sobre o futuro da vida eclesial. E neste âmbito que gostaria de situar a função
dos ministros da mesma Igreja, pois dá a impressão que nem sempre eles
conseguem falar de si mesmos com a necessária propriedade de entrega e de
serviço a Deus e aos outros ou pelos outros em Deus.
= Desde
logo talvez possa ser útil colocar algumas questões sobre o afrouxamento das
vocações à vida religiosa e ao sacerdócio. Será que Deus não continua a chamar?
Ou será que não conseguimos escutar a sua voz, porque andamos demasiado
ocupados nas coisas urgentes e não centrados no essencial? Como se explica, de
forma clara, sucinta e capaz, que algumas congregações, institutos ou até
ordens religiosas – tanto masculinas como femininas – tenham entrado em crise e
corram o risco de desparecerem em breve? Terá sido pela adulteração do carisma
ou já cumpriram a sua missão em tempo e espaço, dentro e fora da Igreja? Não se
terão voltado tantas ‘comunidades religiosas’ mais para o fazer (social) do que
para o ser eclesial e espiritual? Mesmo os/as que surgiram com incidências
educativas, de saúde ou de ensino não terão preferido as implicações do
imediato mais do que as tarefas de promoção integral a longo prazo? A
denominada ‘crise de vocações’ não será reflexo da ausência de testemunho ou
até pelo impacto de algum mau testemunho?
= No
âmbito mais específico da vida sacerdotal não teremos andado a correr para
tratar coisas que competem ao Estado em vez de cuidarmos da vida espiritual –
pessoal, comunitária e eclesial – como seria recomendável? O tempo dedicado aos
‘centros paroquiais’ não deveria ser entregue a quem saiba do assunto e não aos
padres/párocos? Porque há tantos padres que menosprezam os momentos de
encontro, de reunião, de formação e de convívio com os que lhes são próximos
(vigararia, arciprestado ou diocese) e privilegiam mais as confluências com
movimentos não-eclesiásticos? Haverá uma correta e clara formação do espírito
diocesano entre os padres da mesma diocese? Até que ponto não se anda a
investir mais nas coisas transversais e menos nas transcendentais? Certos
trajes eclesiásticos servem para afirmar-se (como é ou pretende ser visto
socialmente), para assumir-se ou para defender-se?
= De
tudo quanto me tem sido dado ver e viver, considero que só pela entrega a Deus
se pode compreender tanto daquilo que nos é dado apreciar. Com efeito, aquele
texto que prometia cem vezes mais a quem tenha deixado tudo por amor do Reino
é, na minha perspetiva e vivência, bem entendido e realizado por quem assuma
este desafio. De facto, quantas oportunidades são dadas a quem se entrega numa
vida de serviço a Deus e aos outros. Desde as mais insignificantes coisas até
às consideradas mais complexas, tudo se torna relativo e abençoado no trato com
as pessoas e na gestão das coisas. Com toda a humildade se pode e deve
reconhecer que aquilo que nos fazem e proporcionam é porque o querem fazer e
dar a quem dá a vida por Jesus. Quem tiver dúvidas tente
experimentar…juntamente com incompreensões e até perseguições!
António
Sílvio Couto
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