De entre
tantas questões que nos podem ser colocadas esta poderá não ser tão displicente
quanto se possa considerar: celebramos a Páscoa (como uma data) ou vivemos a
Páscoa (como atitude consciente, esclarecida e comprometida) na vida?
* Sobre
o primeiro aspeto bastará consultar o calendário e ficaremos a saber que a
‘Páscoa’ se celebra no domingo seguinte à primeira lua cheia do equinócio da
primavera (no hemisfério norte), podendo ocorrer entre 22 de março e 25 de
abril…como datas extremas. Logo a data da Páscoa está ligada, no hemisfério
norte, ao ressurgir da vida na natureza e, possivelmente, na dimensão
espiritual – no nosso contexto – de índole cristã. Dada a centralidade desta
data, assim, se calculam outros momentos celebrativos e até de natureza ou
incidência mais mundana e social, como o carnaval (antes) e o Pentecostes
(depois) da data da Páscoa…
* Sobre
o segundo aspeto – viver a Páscoa – isso coloca-nos outros ingredientes que nos
interessam tocar, refletir e aprofundar. Com efeito, nós vivemos tudo – os
tempos litúrgicos e a sua preparação, as festas humanas, sociais e culturais –
inseridos num tempo pascal, isto é, estamos em Páscoa desde que ela aconteceu
com a Ressurreição de Jesus. Nada escapa a este fundo de vivência e tudo o que
possa fazer-nos parecer que não é assim soará a confusão e/ou a falta de
verdadeiro sentido pascal cristão.
= Mesmo
que, de forma breve, deixamos algumas questões atinentes à celebração da Páscoa
mais na vertente social e cultural, bem como outras inquietações sobre certos
‘modos e ritos’ da época da Páscoa, mas que de pascais têm (ou parecem ter) muito
pouco e, então, de cristãos quase nem resquícios daquilo que lhes deu origem.
Será que a Páscoa se reduz a certos ritmos gastronómicos, mesmo sem lhes
sabermos a sua origem e qual o conteúdo? Não será que alguns dos atos celebrativos
(procissões e outros momentos extra-templos) revelam mais um certo verniz
cristão, mas pouco conhecimento da razão de ser dos mesmos? Mesmo que já tenha
terminados o tempo da cristandade, não continuámos com certos tiques de
religião social, senão na teoria, ao menos na prática? Nalgumas regiões a dita
‘visita pascal’ ou o ‘compasso’ não refletirá mais uma festa nem sempre
preenchida de sentido cristão e de alegria verdadeira? Não haverá muita alegria
sem miolo? Não se andará a fazer festa, ignorando ou esquecendo O festejado?
=
Atendendo ao que motiva esta reflexão é de grande relevância ter em conta que
tudo quanto a Igreja católica festeja o faz em contexto de tempo da Páscoa.
Embora haja um designado ‘tempo pascal’, que decorre entre o domingo de Páscoa
e o Pentecostes, isso acontece em tempo de Páscoa que não mais acaba. Todos os
outros momentos religiosos, como Natal e a sua preparação pelo Advento, a
Páscoa e a preparação na Quaresma, bem como o resto dos domingos do Tempo Comum,
solenidades e festas de Nossa Senhora e de Santos/as, são vividos numa Páscoa
de contínua vivência.
Dá a
impressão que a celebração de certos rituais religiosos estão ser vividos como
se fossem historicamente reproduzíveis no tempo e no espaço. Não mais há nem
haverá tempo de Natal nem da Páscoa, esses já aconteceram na história – com
tempos e espaços definidos – e são irrepetíveis. Agora temos de saber vivê-los
com espírito de Páscoa, perscrutando o sentido de cada um deles na época do ano
civil, religioso, cultural ou emocional. Se assim for muitos dos sinais e das
caraterizações com que vivemos cada um desses tempos, sobretudo tendo em conta
a pressão económica e de consumo, poderão ganhar um sentido relativo – isto é,
relativizando-o e não se deixando absorver pela sua materialização – àquilo que
deve despertar em nós cada uma dessas etapas do nosso tempo de caminhada
terrena. Também haverá sempre novidade em cada um desses tempos, pois não
estamos a repetir o que foi já vivido em anos transatos, mas cada momento terá
uma graça especial e far-nos-á estar em contínua aferição à sua vivência:
nenhum momento será igual aos anteriores, até porque temos idade e experiência
humana entretanto adquiridas…
A Páscoa
deste ano é irrepetível e está inserida na única Páscoa que dá sentido a todas
as outras, a de Jesus Cristo que quer se acolhido como Ressuscitado na minha
vida pessoal, na família e na Igreja!
António Sílvio Couto
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