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segunda-feira, 30 de abril de 2018

Do ‘proibido proibir’… ao ‘fazer o que apetece’


Ocorre este ano o cinquentenário do ‘maio de 68’. O que foi ou o que é o ‘maio de 68’ e quais as suas consequências na história? Como se pode enquadrar o ‘maio de 68’, decorridos cinquenta anos, e com novos desafios à sociedade atual’? Ainda haveria condições – neste egoísmo crescente – para envolver todos numa ação em favor dos outros?

Estas e outras questões surgirão por certo nos próximos dias, dado que estaremos no mesmo mês e com perguntas ainda não-respondidas ou até mal resolvidas…

* A expressão ‘maio 68’ costuma ser usada para referir-se às greves, manifestações e ocupações de fábricas e universidades que ocorreram na França, em maio de 1968. Uma greve geral se desencadeou na França, mas que rapidamente, adquiriu significado e proporções revolucionárias, mas foi desencorajada pelo PCF e finalmente suprimida pelo governo, que acusou os comunistas de atentarem contra a Quinta República Francesa... A situação foi de tal forma grave que o chefe do governo gaulista teve de refugiar-se numa base aérea na Alemanha... Da mesma forma como surgiu de modo efervescente e rápido também se dissipou a revolução com o regresso dos operários ao trabalho, seguindo as orientações da CGT e do PCF... Após as eleições no mês de junho seguinte o partido do governo emergiu ainda mais poderoso do que antes.
* Dizem as análises ao ‘maio de 68’ que os saudosistas desta revolução veem nele um momento memorável na história da liberdade e dos direitos humanos. O símbolo unificador dos protestos foi ‘O Livro Vermelho’ de Mao Tsé-Tung e sua inspiração imediata a ‘revolução cultural chinesa’, iniciada dois anos.

* Alguns filósofos e historiadores afirmaram que o evento do ‘maio de 68’ foi um dos mais importantes e significativos do século XX, porque não se deveu a uma camada restrita da população, como trabalhadores e camponeses – que eram maioria – mas a uma insurreição popular que superou barreiras étnicas, culturais, de idade e de classe.

* A maioria dos apelidados de insurretos era adepta de ideias esquerdistas, comunistas ou anarquistas. Muitos viam os eventos como uma oportunidade para sacudir os valores da “velha sociedade”, contrapondo ideias diferentes sobre a educação, a sexualidade e o prazer. Entre eles, uma pequena minoria, professava ideias de direita... 

= Aquilo que começou por ser uma revolta estudantil, mas que se estendeu a toda a sociedade francesa, teve outras ramificações culturais em muitos outros países e quadrantes sociais… Guerra do Vietname, primavera de Praga, clima de ‘guerra fria’ entre blocos de leste e do ocidente, movimentos independentistas sobretudo na África pós-colonial, convulsões (de direita ou de esquerda) na América Latina, lutas pelos direitos dos negros na América (com o assassinato de Luther King em abril de 68), atentados e grupos terroristas na Europa e fora dela… à mistura com algum crescimento da economia e um certo bem-estar social que despontava com os primeiros passos daquilo que haveria de ser a União Europeia…

Não podemos esquecer que a expressão – ‘é proibido proibir’ – foi cunhada pelo primeiro-ministro do tempo até para justificar a reversão de medidas que tinham sido decretadas e reabrir a universidade…

Neste contexto social e histórico vemos e vivemos sinais de mudança até mesmo na Igreja católica, que estava a viver o rescaldo do Concílio Vaticano II com todas as consequências que advirão da reflexão feita por bispos, teólogos e outros intervenientes na vida mais eclesiástica do que pública.  

= E agora, meio século depois da revolução de ‘maio de 68’, que ficou daqueles que foram paladinos duma certa liberdade, por vezes, tornada libertinagem? Os filhos deles, que nada fizeram – mesmo no Portugal anterior à revolução de 74 – para não terem guerra, não andarão a entreterem-se com minudências e tricas de Alecrim e manjerona? Os descendentes dos assaltantes a navios são agora os fazedores duma certa justiça na legislação habitacional? Há genes que não enganam nem tendências que não são recauchutáveis!

Agora vivemos na era do ‘faço o que me apetece’ e quando me apetecer. Os ideais têm vindo a nivelar-se mais pelos pés do que pela cabeça, seja na estatura, seja na inteligência…Quem quer aprender?

Proibir já não resulta, mas deixar correr sem nada dizer, será ainda pior. Quem ousa pensar…no facebook?    

 

António Sílvio Couto  



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