À luz da
mais recente exortação apostólica do Papa Francisco – ‘Alegrai-vos e exultai’ –
somos todos e cada um chamados a viver a santidade, sobretudo, em família.
Diz o
Papa: «Para ser santo, não é necessário
ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso. Muitas vezes somos tentados a
pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de
se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é
assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o
próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma
consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás
casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo
fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e
competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És progenitor, avó ou avô? Sê
santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em
autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses
pessoais» (n.º 14).
Ora,
diante deste tão amplo e significativo desafio nenhum de nós, seja qual for a
sua vocação, o seu estado de vida ou até a sua idade poderá deixar de sentir-se
chamado a traduzir a santidade em gestos, palavras e sinais simples, visíveis e
humildes.
Será à
luz da exortação do Papa Francisco que iremos procurar viver, na paróquia onde estou
há quase quatrocentas semanas, o tempo do mês de maio, servindo-nos do texto de
‘Alegrai-vos e exultai’ para a meditação dos mistérios do Rosário e incluindo
em cada dezena uma vertente da família…em sentido estrito e alargado. Assim,
nos mistérios gozosos temos em conta o primeiro capítulo da exortação, sob o
título de ‘o chamamento à santidade’ e rezamos, nas cinco dezenas,
respetivamente, por marido, esposa, mãe, pai e filhos. Nos mistérios dolorosos
abordamos a temática do segundo capítulo – ‘dois inimigos subtis da santidade’
– e colocamo-nos em intercessão pelos avós paternos e maternos, os netos, os
irmãos e os primos. Nos mistérios luminosos temos com ponto de referência o
quarto capítulo da exortação papal – ‘algumas caraterísticas da santidade no
mundo atual’ – e rezamos, no contexto familiar, pelo sogro, a sogra, genro e
nora e ainda pelos cunhados. Quanto aos mistérios gloriosos seguiremos na
reflexão da exortação apostólica o capítulo quinto – ‘luta, vigilância e discernimento’
– e teremos em conta a intercessão pelos tios, sobrinhos, padrinhos e
afilhados, padrasto/madrasta e ainda os enteados…
= Como poderá ser a família ‘escola
de santidade’?
Na
medida dos aspetos controversos e complexos, das questões mais ou menos
delicadas e hipersensíveis, dos problemas a tratar com pinças pela sua
conjuntura e urgência, ousar colocar a família como espaço de santidade poderá
parecer algo de utópico, no mais lídimo sentido da obra de Tomás Moro: será um
‘sem-lugar’ ou antes um lugar-ideal a construir de forma eclesial? Tornar a
família ‘escola de santidade’ será mais uma vocação ou uma missão?
Atendendo
às multíplices feridas de tantas famílias do nosso tempo, torna-se muito
delicado abordar esta questão, pois não haverá, por certo, nenhuma família onde
não se encontre quem possa apresentar um caso, no mínimo, de anomalia entre
algum dos seus membros. Como sentir aí esse chamamento à santidade, se o que se
vê ou revela, é antes o seu contrário? Como atender ou mesmo entender a
complexidade das novas situações entre os magoados e até traumatizados? Como se
poderá responder a quem se sinta em crise ou a tentar ultrapassar escolhas
subsequentes às opções remendadas?
Talvez
tenhamos de reciclar muitos dos entendimentos rigoristas, abrindo perspetivas a
quem possa estar abrangido pelas marcas de trocas e de mudanças. Só quem não
tenha coração compreensivo e espírito sensato poderá exigir que se mantenham
condições onde o bom senso já expirou de validade. Neste, como em tantos outros
aspetos da vida, poderemos usar como critério a sentença de Jesus: quem estiver
sem pecado, atire a primeira pedra de acusação, de julgamento ou de legalismo…
Fazer da
família uma nova oportunidade de viver a santidade é algo mais do que uma
miragem, na medida em que há tantos casais e famílias que procuram viver na
fidelidade e na união com grande esforço e empenho de tantos dos seus membros…
Embora as exceções sejam algumas, a regra ainda tem força de vida.
António Sílvio Couto
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