Eis que, de repente, aquilo que era designado de ‘cultura’ foi revertido em
‘artes’, tornando-se a discussão em volta do modo como o Estado/governo deve
pagar a uns tantos/as ‘artistas’ com dinheiros públicos…à luz, sabe-se lá, se
do mérito, se do compadrio ou se sob a influência duma certa ideologia que se
acha no direito de viver dependurada nos serviços estatais…
= Uma nota ‘artística’ explicativa.
Somos um país relativamente pequeno, mas cujos termos não têm a mesma significação
se usados a norte, se na capital e arredores.
Assim um trabalhador das obras da construção civil, na sua categoria com
estatuto, é chamado de ‘pedreiro’, na zona de Lisboa e de ‘trolha’, na região
norte. Com efeito, pedreiro nesta zona do país é quem trabalha a pedra,
normalmente cortando-a da pedreira e até assentando-a no terreno. Por seu
turno, chamar de ‘pintor’ no norte corresponde ao estucador da região lisboeta,
que pode englobar várias etapas e categorias… E, se for de grande especialidade
toma a designação de artista, na região norte, denotando que não é um pintor
qualquer, antes se distingue pelas obras já realizadas…em paredes, casas e
tetos, com a subtileza de artista. Ora, na capital e arredores, ‘artista’ lida
com outras matérias e faz da sua ‘arte’ um desempenho bem mais subtil e
‘cultural’…
A riqueza conotativa da nossa língua coloca-nos perante a necessidade de
sabermos onde nos encontramos ao falar e a quem nos dirigimos como recetores da
nossa comunicação…
Assim, ‘artista’ tem tantos significados e poderá acontecer que os
sinónimos não nos interessem todos!
= A mudança – agora é mais comum dizer ‘reversão’ – da aplicação de ‘artes’
em vez de ‘cultura’ é, certamente, mais do que uma subtileza de linguagem.
Talvez, assim, sejam incluídas companhias e estruturas teatrais, figuras e
atores, áreas e vetores duma sociedade que precisa de se alimentada com os
dinheiros do Estado/governo, seja qual for a sua qualidade de intervenção
cultural.
Não há dúvida de que temos pessoas que se prepararam para atuar em palco,
só que este nem sempre está disponível para tantos/as artistas. A lista de
artistas é longa e prolixa, mas nem todos/as têm a mesma qualidade, antes se
vão desenrolando muitos outros aspetos de sucesso, por vezes, ancorado no espaço
televisivo e como que vivendo em circuito fechado outras reivindicações
artísticas em maré de crise…
A mais grave emergência dos protestos e com os artistas protestantes
organizados, foi a consonância partidária/ideológica de formas marxistas,
trotskistas e idealistas sociais… Quatro décadas depois da revolução de abril ainda
se nota um proeminente complexo de esquerda que tenta promover os seus e os faz
ganhar visibilidade, pela simples razão que querem mais dinheiro, embora sem
olhar a meios, criando à sua volta um ambiente de artistas que se fazem ouvir e
exigem mais umas centenas/milhares de euros despejados sobre quem os queria
poupar antes, mas agora faz o discurso reivindicativo e quer colher boa fatia
do bolo dos dinheiros públicos…
= Cultura ou artistas, qual dos vetores é mais importante? Ao nível estatal
vai-se tentando ludibriar os mais desatentos, pois com tanto sucesso de
execução orçamental que são uns míseros vinte e cinco milhões de euros para
pacificar as hostes? Mais uma vez o aforismo latino – ‘pão e jogos’ – tem lugar
na vida e no trato com as questões essenciais da vida. Porque haveríamos de não
satisfazer quem deseja mais dinheiro? Porque teríamos de fazer contas de
mercearia, se as tabelas de excel fazem a distribuição das pretensões mais ou
menos bem-sucedidas nas contas agora e por mais quatro anos?
Enquanto os artistas e os fazedores de cultura continuarem a ser a voz do
dono e, sobretudo, do patrocinador, quem duvidará que outros setores vão sair à
rua para reclamar os seus intentos. Assim o país voltará a afundar-se…não é
preciso ser adivinho, bastará não querer enganar-se nem voltar a ser enganado…
António
Sílvio Couto
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