Na
complexidade de informações que vamos recebendo, atendendo às diversas fontes e
tentando digeri-las, ouvi, por estes dias, uma ‘promessa eleitoral’ de alguém,
que não posso nem devo revelar quem é, sobre uma questão, de per si quase tão
inócua e que mais parece um episódio anedótico doutras latitudes e noutras circunstâncias:
dar aos cidadãos/eleitores oito galinhas e dois galos como forma de viverem a
autopromoção rural e numa espécie de ‘política’ de sustentabilidade familiar…para
uns de imediato ou para outros a mais longo prazo…
Desde
longa data que se quis que as famílias pudessem sobreviver o mais possível com
os seus meios, criados por elas mesmas ou sendo-lhes dadas condições de
afirmação com meios próprios ou auxiliadas por outros. Quem não conhece
verdadeiros heróis da sobrevivência por entre fragas e penedios. Quem não seria
capaz de desfiar uma razoável lista de famílias que se destacaram pela
combatividade de vida e de projetos. Quem não admirará famílias que dos parcos
recursos fizeram medalhas de vitória… tantos em si mesmas como nos
descendentes.
Quando o
povo pode ser considerado ‘pequeno’ há quem se deseje substituir a esse mesmo
povo, em muitos casos, usando-o como patrocinador das suas intenções. Quem não
terá reparado nas artimanhas de tantas e tão diversificadas campanhas
eleitorais, onde se pretende seduzir o povo menos bem esclarecido para que
arrisque concordar e votar nos (mais) manipuladores programas, que só valem até
ascenderem ao poder…pois, este tudo faz esquecer e parece tornar mais
verdadeiros os candidatos…mesmo na mentira.
= Se a
promoção-campanha das ‘8 galinhas e dois galos’ pode soar a algo primário,
outras iniciativas e declarações podem ser entendidas como mais rebuscadas, mas
não menos atentatórias da inteligência, compreensão e sanidade dos visados… que
somos todos nós. Vejamos alguns factos e as suas possíveis implicações:
* É preciso aumentar a natalidade com o apoio
da imigração – disse um responsável partidário na sua moção para a reunião
magna do partido, a decorrer em breve. Mas não foram estes mesmos que andaram a
criar condições para o aborto – até como tática de controle da natalidade – desde
há vinte anos (o primeiro referendo ao tema foi em 1998)…e que agora querem que
haja mais crianças para equilibrar o fosso demográfico? Quem só pensa depois do
mal feito, talvez não seja digno da confiança que nele os eleitores depositam…
Saber governar é, antes de tudo, intuir ainda antes de acontecer. De remendos esfarrapados
estamos todos cheios, pois alguns deles são muito piores do que o original…
*
‘Quando daqui a seis anos ao comemorarmos os 50 anos do 25 de abril poderemos
dizer que eliminámos todas as situações de carência habitacional’…Talvez soe a
mais uma meta audaciosa, mas inquinada no conteúdo e na forma, pois, são os
mesmos que fazem tais declarações que querem ‘nacionalizar’ os edifícios de
particulares degradados, mas não cuidam dos que lhes estão sob a sua responsabilidade
nem dos afins seus correligionários…autarquias e propriedades estatais! Quem já
viu tantos enunciados de intenções noutros campos, situações e desejos bem
depressa verá tais objetivos caírem por terra, não dando crédito a mais esta
intenção com sabor estatizante e quase leninista…
* ‘Um
país só pode avançar se a corrupção for banida’ – disse um dos militares da
revolução de abril de 74, quando fazia o balanço dos tempos desde então até
hoje decorridos – e continuou: os culpados da corrupção devem ser punidos não
só judicialmente mas também nas urnas. Porque será que certas figuras só
aparecem por ocasião das festas e dizem coisas tão óbvias, mas desde que os
atingidos não sejam da sua coloração… Com tantos e tão variados casos de
corrupção – na economia, na política, nas finanças e quase na dimensão cultural
– será de levar a sério tão auspicioso prognóstico?
=
Verdadeiramente faltam homens e mulheres com capacidade de liderança, que
saibam pensar nos outros e não nos seus meros interesses e ganhos. Se não
formos capazes de mudar, iremos em breve cair no fosso…
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário