Por
estes dias temos sido constantemente intoxicados com notícias duma agremiação
desportiva de grande alcance nacional. Muito para além da parafernália de
questões visíveis e subjacentes, colocam-se imensas perguntas sobre as causas,
muitas outras se põem sobre as consequências, mas as mais sérias e exigentes
referem-se às explicações sobre o assunto.
Surgiu,
no entanto, um termo que pode resumir aquilo que temos estado a assistir:
chama-se ‘síndrome de Burnout’. O que é? Como se pode entender? Que
repercussões parece deixar?
Consultando
a internet encontramos que a ‘síndrome de Burnout’, também chamada de síndrome
do esgotamento profissional, foi assim denominada por um psicanalista novaiorquino
no início dos anos 70 do século passado.
Seria tal
‘doença’ o desejo de ser o melhor e sempre demonstrar alto grau de desempenho. Noutra
fase importante da syndrome, o portador de Burnout mede a autoestima pela
capacidade de realização e sucesso. O que tem início com satisfação e prazer
termina quando esse desempenho não é reconhecido. Nesse estágio, a necessidade
de se afirmar e o desejo de realização se transformam em obstinação e
compulsão; o paciente nesta busca sofre, além de problemas de ordem
psicológica, forte desgaste físico, gerando fadiga e exaustão. É uma patologia
que atinge pessoas da área da saúde, da segurança pública, no setor bancário, na
educação, na tecnologia da informação, em gerentes de
projetos, profissionais da saúde em geral, jornalistas, advogados, pilotos,
professores e até mesmo voluntários…
= Atendendo
à complexidade desta ‘doença’ não queremos colá-la a ninguém, mas antes será
saudável, que saibamos discernir nos outros, indícios que nem sempre – clara,
distinta e humildemente – aceitámos em nós mesmos.
Atendendo
à contingência da nossa condição etária, podemos e devemos ir aprendendo, com o
passar dos anos, a conhecer-nos, não só naquilo em que somos capazes de
desenvolver as qualidades e dons da vida, mas também nos defeitos, erros e
mesmo más opções em tantas das circunstâncias. Talvez se possa chamar a isto:
maturidade, essa vivência que os anos concedem, mas cuja aprendizagem nas
escolas/universidades só na da vida…Mesmo assim há coisas e situações em que a
sabedoria da vida nos faz aprender com avanços-e-recuos, umas vezes entendendo
com facilidade e, tantas outras, só passado algum tempo e depois duma razoável
reflexão.
= À luz
da síndrome supra citado – de Burnout – poderemos desenvolver alguns aspetos
sobre a ‘teoria da imagem’ – a que eu tenho de mim mesmo, a que os outros têm
de mim, a que pretendo que os outros tenham de mim, a que dou de mim mesmo e os
outros veem ou conhecem… Vejamos, então, as diversas vertentes:
* Que
imagem tenho de mim mesmo? Pode verdadeira ou empolada, convexa ou côncava,
exaltada ou humilhada, positiva ou negativizada, aberta ou em fechamento…tudo
dependendo do lugar onde eu próprio me coloco…
* A
imagem que os outros têm de mim? Pode ser favorável ou depreciada, correta ou
abusiva, pelos defeitos ou pelas qualidades, com verdade ou manipulada…sabe-se
lá com que exigências e sob que condições…
* Qual a
imagem que pretendo que os outros tenham de mim? Aqui nem sempre o desejo se
coadunará com a sua concretização, pois poderemos querer dar aos outros uma
imagem que está (ou pode estar) desfasada daquilo que eles veem, entendem ou
apreciam. Nalguns casos sob a imagem duma qualidade se poderá esconder algum
defeito veem mais visível aos outros do que a mim mesmo. ‘Quando for elevado,
sabereis quem eu sou’ – disse Jesus no evangelho. Como isso é verdade, quando
uma pessoa tem um lugar de destaque: parece que se veem melhor os defeitos e
como que se obnubilam as qualidades!
= Tendo
em conta a ‘síndrome de Burnout’ e a figura que fez desencadear esta pequena
reflexão como que poderemos criar um salutar hábito de fazermos o nosso exame
de consciência diário, por forma a irmos aprendendo a nossa autoavaliação e
como cuidarmos das infiltrações egoístas com que vimos no dia-a-dia.
António Sílvio Couto
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