Por
estes dias saíram a terreiro algumas das associações que não foram contempladas
pelo bolo dos subsídios do Estado, através da ‘longa manus’ do governo…à
cultura. Umas foram atendidas e outras preteridas; umas foram bafejadas pela
sorte do poder e outras excluídas da fatia de sobrevivência; umas sentiam-se
agora mais próximas da fornalha onde se cozinha a ideologia, outras não tiveram
a maquia que tanta falta faz para manter o sistema a funcionar; umas dizem que
poderão desaparecer, outras intentarão encontrar outros parceiros, adiando essa
eutanásia…social e cultural.
= Desde
logo será um tanto útil tentarmos encontrar uma definição de cultura: ‘todo
aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei,
os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como
membro da sociedade’. Eis uma citação descritiva dum autor brasileiro, Edward
B. Tylor, referido na wikipédia… Segundo esta mesma fonte ‘cultura’ é também
associada normalmente às formas de manifestação artística e/ou técnica da
humanidade… Por ser fortemente associada ao conceito de civilização, no século
XVIII, a cultura, muitas vezes, se confundiu com noções de desenvolvimento, de
educação, de bons costumes, de etiqueta e de comportamentos de elite…
Atendendo
a esta diversidade de interpretações de ‘cultura’ talvez seja um tanto ousado e
redutor entender cultura como certos fenómenos de índole elitista, contrapondo
‘cultura erudita’ a ‘cultura popular’, fazendo valer aquela em detrimento desta,
só porque aqueles se acham no direito de serem cultos (instruídos e em nível
pretensamente superior) e os outros conotados com incultos…e consumidores dessa
tal cultura!
= Se
tivermos em conta o organigrama do atual governo veremos que o setor da (dita)
cultura tem estatuto de ministério. Embora tenha andado um pouco aos solavancos
– desde a sua primeira criação em 1983, no nono governo constitucional – entre
secretaria de estado ou ministério, sendo ainda incluído tanto na área da educação
como sob a tutela da presidência do conselho de ministros…Sob o longo manto de
tutelagem, a ‘cultura’ abrange desde pessoas e instituições até edifícios e
arquivos, passando pelo teatro, a música, o audiovisual, a comunicação social
(clássica ou mais atual), os direitos de autor, a dança, a literatura e
múltiplas artes…
Por
entre tantas e tão díspares dimensões culturais sobram as necessidades para que
uns outros possam ganhar a vida fazendo disso cultura, ou pior, dando a
entender que a cultura parece que se faz de mão estendida e ao sabor de quem
tem a possibilidade de atribuir subsídios e/ou de criar pendurados nos
dinheiros do Estado, desde que possam apresentar algo apelidado de cultural…
É neste
item que algo se complica: não podemos continuar a alimentar subsídio-dependentes,
mesmo que possuidores duma instrução superior – conservatório, escola de artes,
no cinema, na comunicação social, etc. – mas que vivem dependurados no Estado,
qual patrão de ‘artistas’ e como que aprisionador da criatividade, quando
tantos outros campos procuram desenvolver as suas atividades sem estarem em
contínua dependência dos dinheiros públicos sem retorno no investimento…O
mérito vale muito mais do que tantos espetáculos de fraca qualidade, como temos
visto, ouvido e lido!
= Em
jeito de questionamento deixamos breves inquietações:
* Quando
vemos serem atores de cultura os que são, preferencialmente, anticristãos como
que sentimos um misto de revolta e de comiseração: como é possível promover
quem está contra quem foi (e é) um dos fautores da cultura...sobretudo europeia
e de cariz ocidental?
* Efetivamente,
os maiores paladinos da (pretensa) cultura foram (ou têm sido) os que vão
denegrindo, de forma tácita ou mais ostensiva, os valores culturais de
incidência cristã. Seja qual for o campo de expressão cultural/artística –
musical, literária, cinéfila, etc. – parece que só será bem-sucedido se
combater, preferencialmente, os valores de matriz cristã…
* Até onde irá a propaganda anticristã
para excluir os crentes e favorecer os tendencialmente descrentes, agnósticos e
ateus?
António Sílvio Couto
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