Com data
de 19 de março, mas publicada a 9 de abril passado, o Papa Francisco
presenteou-nos com uma nova exortação apostólica – ‘Gaudete et exsultate’
(alegrai-vos e exultai) – sobre o chamamento à santidade no mundo atual.
Em cento
e setenta e sete números, distribuídos em cinco pequenos capítulos, o Papa
traça as linhas gerais – simples e diretas, breves e incisivas, exequíveis e
audazes – para que os fiéis católicos possam, de verdade, querer ser santos
neste tempo e de jeito muito concretizável…De referir ainda uma longa lista de
citações (em notas de rodapé e no texto) das mais diversas influências de
santidade com que a Igreja católica vê ornada a sua história de heróis e santos
ao longo dos séculos.
Eis os
títulos dos cinco capítulos ou etapas da reflexão/partilha do Papa Francisco: o
chamamento à santidade, dos inimigos subtis da santidade (neognosticismo e
neopelagianismo), à luz do mestre (as bem-aventuranças), algumas caraterísticas
da santidade no mundo atual, luta, vigilância e discernimento.
Sem
correr o risco de esgotar o assunto – ele é mais do que substancial para ser
adjetivado ou reduzido as pequenas frases de conveniência – vamos respigar
alguns excertos, embora possamos voltar a esta matéria noutras ocasiões e
circunstâncias.
* «Para
ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso.
Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas
àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar
muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo
com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada
um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com
alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido
ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo,
cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos.
És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a
seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum
e renunciando aos teus interesses pessoais» (n.º 14).
*
«Precisamos dum espírito de santidade que impregne tanto a solidão como o
serviço, tanto a intimidade como a tarefa evangelizadora, para que cada
instante seja expressão de amor doado sob o olhar do Senhor. Desta forma, todos
os momentos serão degraus no nosso caminho de santificação» (n.º 31).
* «O
gnosticismo supõe ‘uma fé fechada no subjetivismo, onde apenas interessa uma
determinada experiência ou uma série de raciocínios e conhecimentos que
supostamente confortam e iluminam, mas, em última instância, a pessoa fica
enclausurada na imanência da sua própria razão ou dos seus sentimentos’» (n.º
36).
*
«Quando alguém tem resposta para todas as perguntas, demonstra que não está no
bom caminho e é possível que seja um falso profeta, que usa a religião para seu
benefício, ao serviço das próprias lucubrações psicológicas e mentais» (n.º
41).
* «O
santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor. Sem perder o realismo,
ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança». (n.º 112).
* «A
comunidade, que guarda os pequenos detalhes do amor e na qual os membros cuidam
uns dos outros e formam um espaço aberto e evangelizador, é lugar da presença
do Ressuscitado que a vai santificando segundo o projeto do Pai» (n.º 145).
* «Como
é possível saber se algo vem do Espírito Santo ou se deriva do espírito do
mundo e do espírito maligno? A
única forma é o discernimento. Este não requer apenas uma boa capacidade de raciocinar e sentido comum, é
também um dom que é preciso pedir. Se o pedirmos com confiança ao Espírito
Santo e, ao mesmo tempo, nos esforçarmos por cultivá-lo com a oração, a reflexão,
a leitura e o bom conselho, poderemos certamente crescer nesta capacidade
espiritual» (n.º 166).
*
«Condição essencial para avançar no discernimento é educar-se para a paciência
de Deus e os seus tempos, que nunca são os nossos» (n.º 174).
= Estes
respigos podem cativar-nos para a leitura – fácil, amena e interpelativa – de
mais este documento papal. Com efeito, nesta exortação apostólica vemos uma
espécie de testamento do Papa Francisco, que nos tem deixado vários documentos,
sobretudo na área das ‘exortações’, onde acentua a tónica da alegria – veja-se
o título, em português, desses textos: a alegria do evangelho, a alegria do
amor, alegrai-vos e exultai – numa espécie de configuração do seu pontificado e
como testemunho de vida dos cristãos no mundo…
António Sílvio Couto
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