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terça-feira, 30 de agosto de 2022

Propostas de mudança enviadas ao Sínodo em Roma

 

No documento que a Conferência Episcopal Portuguesa enviou para a Santa Sé, como síntese das sínteses das dioceses, são apresentadas quase duas dezenas de ‘propostas de mudança’, a partir daquilo que o documento designa de ‘visão da Igreja atual’.

Porque estamos a viver um tempo de tribulação, dentro e fora da Igreja católica, torna-se importante vermos e discernirmos os sinais de Deus, por entre tantas nuvens…mesmo que elas tenham estado ausentes do firmamento, de onde nos vem a chuva!

– Igreja sinal da presença de Deus: ‘a Igreja é considerada um porto seguro, amplamente reconhecida como um espaço de comunhão e de encontro, protagonista na promoção dos valores cristãos e humanos, fazendo-se presente na resposta às necessidades humanas e espirituais das comunidades’. Assim o cremos e o desejamos…

– Igreja fator de ação social: ‘O cariz sociocaritativo é uma das dimensões que confere à Igreja uma visão positiva aos olhos da sociedade… na defesa dos mais pobres… Destaca-se o papel relevante nas áreas da educação, saúde e apoio à terceira idade’. De forma subsidiária a Igreja está em razão dos ‘irmãos’…

– Igreja sob a avaliação do passado: ‘assumir e corrigir os erros do passado, como no caso dos abusos de menores… Igreja é, pois, marcada por uma imagem maioritariamente desfavorável’. Numas coisas parece a Igreja estar bem cotada perante a (dita) opinião pública, noutras emergem sinais de descrédito…insanáveis.

– Igreja de portas abertas e em diálogo: ‘que abrace a diversidade e acolha todos, excluindo as atitudes discriminatórias… uma Igreja que disponibilize espaços abertos à partilha, ao diálogo e à reflexão, sem excluir qualquer tema, que promova um diálogo intergeracional e entre movimentos e paróquias… Uma Igreja que dê voz às minorias e estabeleça um diálogo com as periferias’. Não será que ao serem especificados certos grupos – sobretudo de teor afetivo-sexual – se pode marginalizar outros? Como dizia, há tempos, o Papa não estaremos a fazer um monólogo de surdos-mudos?

– Igreja transparente: ‘a premência de uma Igreja mais transparente e rigorosa nas suas formas de decisão e gestão, menos refém das lógicas das hierarquias e do poder… no combate aos abusos sexuais, mas também no que se refere aos recursos financeiros’. Em tempos houve quem anunciasse uma agremiação com ‘paredes de vidro’, só que não esclareceu qual era a qualidade do mesmo…Por vezes quem mais reclama de transparência e de verdade, pode encobrir isso mesmo antes que se descubra na incongruência.

– Igreja que seja (ou queira ser) família: ‘disposta a caminhar em conjunto, quer ao nível paroquial, quer como Igreja universal… [onde] todos se sintam parte integrante de uma Igreja viva e onde possam dispor e render os dons recebidos’. Bastaria recorder a imagem do ‘jogo de fiutebol’, onde todos correm e lutam, mas se não tiverem quem os oriente, podem jogar para o lado errado ou atropelarem-se sem nexo…



= Aspetos específicos que o documento da CEP aponta:

* quanto aos párocos – ‘haja maior rotatividade dos presbíteros ao serviço das comunidades e na assunção de responsabilidades, evitando assim a ocupação das mesmas funções por um período de tempo prolongado … É importante libertar os párocos de trabalho burocrático e da administração de instituições e serviços’. Este setor da pastoral precisa de ser amado, cuidado e atendido. Há lições a tirar da vida concreta…

Um tanto de forma lateral, o documento introduz, posteriormente, o tema do celibato sacerdotal – ‘necessidade de reflexão sobre o celibato sacerdotal, propondo que o mesmo seja opcional’… Pena seja que o tema apareça como questão controvérsia e não como assunto a aprofundar a sério, a começar pelos que o vivem e testemunham!

* quanto à formação (teológica, bíblica, humana) – ‘haja uma maior exigência e continuidade na formação em várias dimensões, tanto dos sacerdotes como dos leigos‘…Não basta uma certa boa vontade nos serviços litúrgicos ou a ignorância será cada vez mais atrevida…

* quanto aos seminários – ‘a reestruturação do caminho formativo, que exibe lacunas na dimensão humana, espiritual, afetiva e cultural, devendo enquadrar-se nos desafios e exigências do nosso tempo’. Tudo depende daquilo que queremos que a Igreja seja daqui a vinte ou trinta anos…

* Da comunicação à liturgia celebrada e em que espaços – ‘renovar a forma de comunicar, promovendo uma linguagem mais cuidada, aberta e adaptada às realidades, capaz de clarificar os conteúdos da fé… Revisão da forma como se celebra e de uma redescoberta do significado dos sacramentos, de modo a levar as pessoas a fazerem a experiência do encontro com Jesus Cristo vivo… Repensar a disposição dos espaços de oração, para que o espírito de comunhão seja mais intensamente vivido pelos fiéis’. Nem a pandemia, que retirou as pessoas dos templos, conseguiu dar-nos material para tratar estas questões de forma mais convicta.

* Os jovens – ‘Mais do que pensar qual é o lugar dos jovens na vida da Igreja é preciso perceber que lugar pode ocupar a Igreja na vida dos jovens e, para isso, a Igreja tem que escutar e dar tempo aos jovens’. Agora que caminhamos a passos largos para as JMJ, não seria de ver e de rever tantos dos processos de ‘catequese’ dos jovens, que ainda temos na Igreja?

* Continuar a dinâmica sinodal – ‘consolidar a consciência sinodal, dando continuidade a esta dinâmica de caminhada conjunta… O mundo precisa de uma “Igreja em saída”, que rejeite a divisão entre crentes e não crentes, que olhe para a humanidade e lhe ofereça mais do que uma doutrina ou uma estratégia, uma experiência de salvação, um “golpe de dom” que atenda ao grito da humanidade e da natureza’. A experiência dos grupos sinodais deve continuarm, mas não podemos fazer-de-conta que ‘crente’ ou ‘não-crente’ é o mesmo, pois correremos o risco de não ter mais sentido o processo de evangelização, que deseja anunciar Jesus a quem não O conhece!



António Sílvio Couto



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