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segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Efeitos dessa ‘geração nutella’


 De muitas e variadas formas tem sido recorrente ‘rotular’ as diversas gerações, na maior parte das vezes mais pelo ridículo do que pelo essencial e benéfico. Assim encontrei uma nova expressão – pelo menos para a minha ignorância – para caraterizar algumas das atitudes dos nossos dias, tanto de mais novos como de mais velhos...embora sejam (no tempo, no espaço e na mentalidade) já deste século e milénio.

 1. O que é a ‘geração nutella’? Define a geração que nasceu ou cresceu durante os anos de 2010, coincidindo com a ascensão de uma marca famosa de creme de avelã com cacau e leite, utilizada pelas gerações 80/90 para se sentirem superiores aos mais novos, que cresceram entre o auge da tecnologia.

2. O que é a ‘nutella’?  É uma marca de creme de avelã com cacau e leite. ‘Nutella’ foi criado por uma empresa italiana ligada à produção de doces  e de chocolates, no ano de 1963. A receita foi desenvolvida a partir de um outro produto lançado pela mesma empresa nos finais das segunda guerra mundial. ‘Nutella’ é atualmente vendida em mais de 75 países.  

 3. Se aquilo que comemos define, minimamente, o que somos, temos de refletir sobre essa dose de ‘nutella’ que ingerimos. Embora possa ter outros nomes – como tulicreme – esta composição alimentar tem conquistado novos aderentes, dando-nos uma espécie de leitura para tantos dos problemas humanos, sociais e culturais com que temos de nos confrontar...quase sempre numa tonalidade de algo pouco exigente e quase a roçar a facilidade um tanto ético-moral. Sem nos darmos conta entramos numa onde de facilitismo, reduzindo ao mínimo aquilo que possa contrariar pessoas e desejos, intenções e pretensões, projetos e decisões...

4. Quem não foi já confrontado com o ‘poder’ das crianças, nalgum momento da vida privada ou pública? Com que facilidade as crianças – desde tenra idade e até ao nível da adolescência – condicionam a vida dos adultos pelos bons e maus motivos. Quando embirram com alguma coisa torna-se complicado contrariá-las, gerando situações desagradáveis e complicadas, sobretudo, se tais momentos acontecem em público e sem filtro. Nota-se que, em muitos casos, se reveste de complexidade extrema gerir as situações de crianças algo arrogantes e sensíveis à sua dose de vitória nas pretensões manifestadas.

Sem querer fulanizar a situação fui, recentemente, confrontado com o ‘poder’ de uma criança – teria quatro anos – que se opôs, de forma ostensiva e provocatória, a ser batizado, pois, não permitia que lhe molhassem a cabeça com a (possível) água batismal. Disso fez altissonantemente saber e, claro não podendo ‘traumatizar’ o petiz, venceu na sua argumentação...

Será isto algum indício da ‘geração nutella’? Esta carateriza quem: os mais velhos ou os mais novos? O uso a gosto de nutella serve para desculpar ou para acusar?

 5. Ao ritmo a que vivemos, corremos, seriamente, o risco de sermos ultrapassados pelos factos, que vemos e tantas vezes vivemos. Dá a impressão que não querem que paremos para refletirmos sobre a condição em que estamos a deixar passar o tempo: mais do que velocidade é a quase-irracionalidade em que nos deixamos embalar, pois se não travamos a tempo, iremos esbarrar-nos contra a muralha da indiferença ou cairemos pelo precipício em que nos encontramos.

Esta ‘geração nutella’ é, minimamente, instruída, mas parece quase incapaz de tomar posição sobre tantos temas e assuntos nos quais está contido o seu futuro e dos vindouros. Questões de índole tecnológica não são problema, mas questões de natureza ética – onde a vida e os outros valores estão presentes – não foram (nem são) campo onde tenham capacidade de tomar posição... Assuntos do âmbito social ganham significado, quando trazidos à discusssão, mas critérios de conduta humana não foram educados nas escolas, até por falência da maior parte das famílias...

Afinal, nutella adoça, mas não dá condimento com substância e bom gosto!     

 

António Silvio Couto

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