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sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Como atuar em minoria, enquanto cristãos?

 


Apesar de tudo é uma constatação óbvia: os cristãos (praticantes) são, hoje, uma minoria, um pouco à semelhança da sua origem. Os tempos de cristandade são (ou podem ser) para uma maioria uma lembrança ou, se quisermos, uma memória algo longínqua e quase medieval. A coincidência entre sociedade e Igreja (católica ou outra) esfumou-se com grande velocidade, embora com ritmos diferentes nas várias partes do Planeta.

Porque há algo que temos de analisar, de refletir, de discernir – como agora se diz com propriedade e significado – e de reaprender a saber estar neste mundo, por vezes, mais hostil do que favorável à fé do que às espiritualidades…

1. Conceito bíblico-religioso de ‘minoria’

Ser ou estar em minoria é algo que encontramos com facilidade nos textos bíblicos, tanto em referência ao povo de Israel (o ‘resto’), quanto aos discípulos de Jesus (‘pequenino rebanho’). Se o primeiro conceito provem de uma purificação daqueles que foram infiéis a Deus, o segundo conceito (o de Jesus) faz-nos perceber que é algo a crescer, como nas imagens que Ele usava do fermento ou do grão de mostarda.

Não incluímos nesta abordagem os grupos ‘minoritários’ (sociais, étnicos, morais ou económicos) nem as implicações que pretendem impor à visão mais abrangente dos temas e das questões que desejam influenciar. Quedamo-nos pela leitura mais ‘religiosa’ do tema, tentando perscrutar aquilo que ‘ser minoria’ significava ontem e pode ter implicações hoje. De facto, ter espírito de minoria como que obriga a armar-se com ferramentas – como agora se diz – em que sejam tidos e achados aqueles que têm pertença a tal minoria.

2. Como enfrentar as ‘maiorias’?

Sentir-se ‘maioria’, por vezes, acomoda, desmotiva ou até deixa que se perca a capacidade de se ser aquilo que se deve ser. Deste modo ao cair a máscara de maioria dos cristãos – dizemo-lo dos praticantes – temos de saber-nos aferir a uma nova forma de estar em Igreja e como Igreja…católica.

(Um aparte: ninguém se ofenda em escrevermos ‘católica’ em letra minúscula, pois não é depreciativo, mas tão-somente uma propriedade/qualidade da mesma, que não desqualificativa).

Por onde anda essa vivência de sermos maioria, não na intenção, mas no compromisso? Por onde teremos de encontrar os cristãos/católicos que se assumam em comunhão com a Igreja no seu todo e não só nas facetas que lhes interessam? Como teremos de abandonar clichés e tiques de maioria, quando estamos reduzidos ao menor denominador comum…talvez sem disso nos darmos conta?

3. Como evangelizar a ‘cristandade profana’?

Esta expressão de ‘cristandade profana’ reporta-nos a meados do século passado e como que me recordo de um pequeno livro publicado, no ano 2000, intitulado – ‘evangelizar a cristandade profana’, editado pela Paulus editora – e onde era feita uma abordagem a este tema, tendo em conta que estamos numa época de transição acelerada e onde ou acertamos com o ritmo ou ficamos fora dele. Com efeito, é hora de abandonar a sobreposição de regalias sociais – quer dizer feriados – entre os que são católicos e outros que se estão borrifando para essa nomenclatura de favorecimento. Confesso que me custa imenso que haja quem usufrua dos feriados ‘religiosos’ para deles gozarem com quem os tenta viver segundo o tal espirito da lei. Primeiras e primordial qualidade: verdade e seriedade de todos e para com todos…

4. Sinodalidade: caminho para a reevangelização?

Por agora discute-se e aprofunda-se na Igreja católica este tema da sinodalidade. Assunto essencial nos primeiros séculos do cristianismo tem estado a ser analisado nas mais diversas instâncias católicas. Ainda por estes estes dias quase quatrocentos clérigos, em Fátima, se entretiveram com o assunto. Por ser tão antigo quase se tornou substrato de tantas coisas na Igreja. Ao emergir nas teias católicas precisa de ser visto, aceite e comungado na sua primigénia intenção. Não façam deste termo mais um adjetivo das coisas de entreter…



António Sílvio Couto

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