Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Certas rãs na margem (ou dentro?) do pântano

 


É breve e incisiva a fábula de Esopo sobre a rã e o boi.

Aquela querendo equiparar-se no tamanho com este, engendrou uma forma de ir crescendo até atingir a estatura do boi, corpulento e solene… foi inchando, inchando e crescendo até que explodiu, sendo esventrada e espalhadas as vísceras em redor.

 = Nos acontecimentos mais recentes sobre a Igreja católica – seus ministros e responsáveis, suas agremiações e associados, seus fiéis e ‘praticantes’ de bancada, nas agruras ou nas romarias, nas notícias ou nas conjeturas – vimos surgir uma nova modalidade de intervenção: uns tantos publicam e fazer conhecer as suas cogitações sobre que é ou que será, sobre quem não querem ou promovem, sobre o futuro sem desconsiderar o passado… quanto àquilo que pode vir a acontecer nas entrelinhas da vida eclesial.

Uma pequena – que não insignificante – clique vai plantando notícias nas plataformas sociais, usando do seu saber privilegiado das coisas da Igreja em geral e do episcopado em particular para confundirem os mais incautos – muitos deles consumidores de rádio (mais ou menos ‘católica’), de canais televisivos de mistura (onde no mesmo écran surgem imagens de coisas religiosas – missas e afins – e avantesmas indecorosas, saídas de um tal esgoto social inexplicável), comunicações (ditas) online ou mesmo em espaços de tendência religiosa pretensamente anódina…onde se tenta confundir o leito (do rio) com a margem (das coisas) e se faz desta a referência de intervenção… Quantas serão as ‘margens’ e onde as podemos identificar? Elas balizam a fé ou confundem a crença? Servem a unidade ou, capciosamente, incentivam a indignidade de tudo e de todos?

 = Uma atroz e indisfarçável tristeza me percorre ao ver que, no seio da nossa Igreja católica, há quem pretenda mais vê-la a sangrar do que a converter-se, escarafunchando mais as misérias – essas que nos envergonham e fazem pedir perdão – do que deixando pistas para uma nova etapa de presença desta Igreja de sempre, renovada, assumida e arrependida. Alguns dizem-se auscultadores de ‘sete margens’, mas parecem mais ‘velhos do restelo’ na hora da despedida dos aventureiros ou como marretas de serviço no teatro da vida teatral….

 = Uma frase me tem servido de referência ao ver esta onda de ‘perseguição’ à Igreja e aos seus responsáveis: firam o pastor e as ovelhas dispersar-se-ão. Esta advertência de Jesus, no contexto das orientações da despedida, na Última Ceia, deixa-me um tanto perplexo: Jesus intuiu que isto iria acontecer? Ele viu-nos e não nos rejeitou, agora que O ofendemos? Ele percebeu que os responsáveis – bispos ou padres – podem pecar, mas isso não os desautoriza nem os faz serem menos eles, desde que olhem para Ele, o Mestre? Não haverá algo de inquisitorial em certas notícias e na sua difusão de modo tão escandaloso? Teremos fiéis, verdadeiramente, amadurecidos para saberem interpretar o essencial sem tropeçarem no secundário?

= Neste tempo de grande provação a que temos estado submetidos, torna-se de importância capital vivermos num discernimento contínuo sobre tão graves e nefastos factos. A Igreja vive, hoje, mais do que no passado, um tempo de paradoxo, de contrassenso e de purificação.

Explicando: de ‘paradoxo’, pois em condição terrena anuncia e trata de assuntos cuja abrangência aponta para as realidades mais do que naturais, isto é, sobrenaturais e isso pode ser contradito pelo comportamento dos seus membros, todos os fiéis. Quem não conhece a expressão – o paradoxo da Igreja no mundo – nisso que o Concílio Vaticano II tratou tão bela e serenamente no documento ‘Gaudium et spes’? Mais de meio século decorrido, a mensagem está atualizada e urgente!

‘Contrassenso’ como que configura um dizer que pode ser desdito pelo (não) fazer. Quantos se aferram nesta discrepância para condenarem a Igreja (sobretudo a hierarquia), pois não parecem viver o que pregam aos outros… Como é fácil apontar aos outros aquilo que nós (também) não vivemos!

‘Purificação’ – é isso que deverá deixar marcas para o futuro, para estarmos mais segundo o Evangelho!    

 

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário