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segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Pedimos ‘cooling break’ para a Igreja católica, já!


Foi uma recente introdução nos jogos de futebol: dada intensidade do calor – ao menos no verão – mais ou menos ao meio de cada parte dos jogos temos agora um tempo de hidratação ou de refrescamento dos jogadores...

Se noutras modalidades já havia o ‘tempo de desconto’ ou outras formas de paragem do jogo para redefinir a estratégia ou até para condicionar o adversário, há quem considere este ‘cooling break’ como uma outra forma de esfriar o ímpeto de quem está na outra faceta do campo ou ainda como um criar de novas expetativas, mesmo que não sejam tão evidentes no imediato.

1. Diante da acentuada provação a que tem estado submetida a Igreja católica – tenha-se a perspetiva que quisermos considerar, a mais pessimista ou a mais desanuviada – parece que precisamos de um tempo para esfriar – o ‘cooling’ – as menos boas análises diocesanas ou mesmo interdiocesanas. Com efeito, parece que faltou uma séria dose de menos paixão ao serem reportados os resultados do inquérito enviado pela Conferência Episcopal a Roma: uns óculos excessivamente escuros leram e interpretaram os dados... Dois terços dos documento divulgado ‘entretêm-se’ a apresentar resultados negativos, percorrendo milhentas facetas que mais parece que estamos no ‘muro das lamentações’ do que ver uma Igreja com mais de quatro mil paróquias e com cerca de três mil padres e quase cinco religiosas...

Perante tanto negativismo, a Igreja católica, em Portugal, ainda terá futuro? Adjetivos como ‘hierárquica, clerical, corporativa, pouco transparente, estagnada, e resistente à mudança’ podem alentar alguém a confiar numa estrutura ‘algo soberba e pouca disponível para a escuta’? Embora esta ‘Igreja’ possa ser vista e denunciada seria preciso dá-lo a entender para os de fora que não têm nada a ver com Ela? A quem serve o diagnóstico veiculado: aos fiéis ou aos que nos combatem e para os quais tais palavras confirmam a nossa inutilidade na sociedade e na cultura? Não parece que certos ‘clientes’ das coisas da Igreja jogam nos tabuleiros que lhes convém, mesmo que possam abjurar da fé? A cruz e o avental não se compaginam...

2. Não sou – nem nunca fui – daqueles que têm uma visão efabulada da Igreja e tão pouco dos cristãos, tenham o compromisso que possam ter na Igreja católica. No entanto, quando estamos a constuir sínteses precisamos de ver também os aspetos positivos, esses que ajudam a não desistir e a acreditar que não fazemos parte de uma mera associação de benemerência – o Papa Francisco chamou-lhe ‘ong – organização não-governamental’ – onde o social motiva e conquista uma certa simpatia. Sem Cristo seremos uma aberração e – sim – seremos ridículos, até por andarmos a fazer coisas que competem ao Estado, gastando tanto do nosso tempo em agremiações mais dispensáveis e sob o controlo dos poderes político-partidários...

3. Nas propostas de mudança do documento da CEP surge a abrir: «para muitos dos participantes na caminhada sinodal, a Igreja é considerada um porto seguro, amplamente reconhecida como um espaço de comunhão e de encontro, protagonista na promoção dos valores cristãos e humanos, fazendo-se presente na resposta às necessidades humanas e espirituais das comunidades».

Estamos a cerca de um ano da Assembleia sinodal e, mesmo com os contributos de reflexão vividos, não podemos deixar que o documento final – dizem que quase fechado nas orientações – possa assemelhar-se a uma manta de trapos mal amanhada e feita ao sabor das influências mais pressionantes...

Não podemos perder de vista nem do comportamento isso que rezamos ao longo deste tempo: ‘Nós somos débeis e pecadores: não permitais que sejamos causadores da desordem; que a ignorância não nos desvie do caminho, nem as simpatias humanas ou o preconceito nos tornem parciais’...

Embora possa haver ‘peritos’ em certas coisas, não podemos deixar que nos tentem manipular com leituras mais ou menos preconceituosas sobre os dados enviados a Roma pela CEP. Sugiro que leiamos o documento na íntegra e que tiremos as lições sobre a forma como certos jornalistas (das agências católicas) envisaram as perspetivas... Não sejamos preguiçosos na denúncia quanto àquilo que nos querem impingir!



António Silvio Couto

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