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quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

‘Vacina’ – a palavra de 2021

 


Foi divulgada a escolha da ‘palavra do ano’ de 2021: vacina.
Das palavras colocadas à votação encontramos as seguintes: apagão, bazuca, criptomoeda, mobilidade, moratória, orçamento, podcast, resiliência e teletrabalho.
Nota-se, nas palavras do ano passado, uma preponderância de termos económicos e poucas palavras relacionadas com a temática de saúde, que temos vivido com intensidade nos tempos mais recentes.

1. A sondagem-inquérito de índole cultural-popular ‘A palavra do ano’ é uma iniciativa da Porto Editora que tem como principal objetivo sublinhar a riqueza lexical e o dinamismo criativo da língua portuguesa, património vivo e precioso de todos os que nela se expressam, acentuando, assim, a importância das palavras e dos seus significados na produção individual e social dos sentidos com que vamos interpretando e construindo a própria vida.
Assim se lê na divulgação da iniciativa…na qual tenho participado, votando, nos últimos anos.

2. Nas anteriores edições – com início em 2009 – as palavras vencedoras foram: saudade (2020), violência doméstica (2019), enfermeiro (2018), incêndios (2017), geringonça (2016), refugiado (2015), corrupção (2014), bombeiro (2013), entroikado (2012), austeridade (2011), vuvuzela (2010) e esmiuçar (2009).
Pelo que podemos interpretar, nestes treze anos da iniciativa, como que ser-nos-á um tanto mais fácil fazer uma leitura sincrónica da nossa história recente…e daquilo que nos preocupou, motivou ou mesmo conduziu.

3. Se nos fixarmos, agora, na palavra-chave de 2021 – vacina – podemos captar aquilo que ela significou como resposta à pandemia que nos assolou nos últimos dois anos. De facto, perante a difusão do vírus deu-se uma notável intervenção da ciência para debelar as mazelas do ‘covid-19’. Foi, até ao momento, mais fácil enfrentar as consequências do que de encontrar as causas. Estas continuam no segredo dos deuses – sim desses que conhecem tudo e aos humanos condicionam os comportamentos – e que, no afã de querermos ser aventureiros nos temos deixado ultrapassar pela mediocridade das respostas.
De muitas e variadas formas sinto que as nossas interrogações sobre todo este mistério do ‘covid-19’ têm sido pouco ousadas e que, por falta de inteligência ou por orgulho intelectual, temos preferido continuar ignorantes a sabermos questionar verdadeiramente o nosso Deus: Ele sabe o que nos quer dizer com tudo isto, mas a soberba da vida, a incapacidade dos meios e a insuficiência de recursos têm adiado a assunção de respostas… humildes, sinceras e sensatas. Perdoando a comparação: parecemos crianças a brincar ao esconde-esconde, mas sem deixarmos que se nos mostre a solução…

4. Aos profetas do slogan bacoco do ‘vai ficar tudo bem’ podemos dizer que não passaram de mentirosos, sem tino e tão pouco bom senso, pois estava claro que a purga de velhos – em lares e famílias, mais ricos ou mais pobres, de direita ou de esquerda, crentes ou incréus, nas cidades ou nas aldeias – dizimou uma fatia de pessoas sem apelo nem agravo. Dizer que a vacinação iria colmatar as lacunas sanitárias foi outra das patranhas servidas a rodos e sorvidas sem modos. Se os confinamentos atenuaram alguns dos riscos, as tentativas economicistas deitaram quase tudo a perder, obrigando a gastar milhões em testes e vacinas como se tudo se resolvesse com remendos e não com o enfrentamento real das coisas.

5. Algo se agrava quando temos de passar pelas experiências relatadas de outros: os dias de isolamento tornam-se intermináveis; os cuidados de não contactarem connosco agravam a sensação de proscrito; a ansiedade do resultado do teste (rápido ou de laboratório) assume incapacidade de lidar com o imprevisto; a sensação de abandono – quase por Deus – como que assalta, à semelhança do salmista rezingão…
Depois de tudo isto não ficaremos iguais. Ora como dizem que mais tarde ou mais cedo todos seremos contagiados, espero que saia desta experiência uma sociedade mais sensível à fragilidade alheia e, por conseguinte, mais humana, mais fraterna e, sobretudo, mais cristã… Nada poderá ser igual, nada!

António Sílvio Couto

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