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sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Negar a negação?

 


Por estes dias o termo ‘negativo’ pode ter sido das palavras mais ansiadas em ver escrito ou de ter ouvido… No entanto, não é desse ‘negativo’ sanitário a que nos queremos referir.

Ora, numa outra lógica da linguagem, por vezes, surge a proposta de negar duas vezes, na mesma frase, parecendo isso ser algo positivo. Isto inserir-se-ia naquela asserção (mais ou menos matemática) de que menos com menos dá mais.

 1. Nos tempos mais recentes temos andado entretidos com fraseologias algo vazias, senão mesmo ocas de significado. Veja-se o que se diz – na empestada lógica do politicamente correto – de que não há obrigação de vacinação das populações, mas para ter acesso a uma razoável quantidade de locais e serviços de possibilidade pública têm de ser apresentados documentos que obrigam à vacinação e, sem tal ‘livre-trânsito’ imprescindível, fica-se à porta. Portanto é negada liberdade de não ter sido nem de não querer ser inoculado…Mas ninguém assume a obrigação. Embora gratuito, assuma-se que não é facultativo, mas antes benéfico para todos. Fique claro: estou vacinado – a dose de reforço teve de ser adiada – e submeter-me a teste (embora a custo) não obsto.  

2. Mais uma vez emergiu – com o desenrolar da campanha para as eleições do final do mês – o fantasma que de que quem não alinha nas ideias que não sejam de uma certa esquerda não tem direito a ter opinião nem sequer pode exprimir-se com liberdade, pois esta tem de ter um rótulo da subserviência a certos valores prefabricados, embora já fora de validade em muitas latitudes.

Nota-se que há uma grela ideológica onde se tem de entrar e não alinhar acriticamente não permite ser aceite. Alguns denotam tiques de nomenclatura orwelliana dos finais do século passado, não permitindo que certos animais se destaquem dos seus congéneres. Com que subtilezas ressurgem ciclicamente estas coisas em maré de eleições, sobretudo se estão em jogo campos ideológicos mais ou menos antagónicos, desde que não se misturem nas conveniências práticas.

 3. Temas não essenciais vão ocupando espaços de longa discussão, deixando de fora o que mais interessa debater, esclarecer ou mesmo questionar. Tem algum jeito trazer à liça questiúnculas resolvidas há quase dois séculos, como a pena de morte ou a prisão perpétua? Os problemas atuais não cativam mais a atenção de quem precisa de ser educado nas convicções cívicas? Habilidosos de tal entretenimento gastam parcos minutos em frentes-a-frentes de gritaria e malcriadez. Qual jogatana de boxe ou combate de kickboxing somam os pontos após cada disputa…sem atender ao mínimo interesse dos assuntos, mas não deixando que não consigam dizer nada… Até já dão pontuações…ridículas, tendenciosas e sem nexo. Será que isso se reverte em votos ou vale antes desinteresse?

 4. Os leques de comentadeiros/as – dizem que têm carteira de jornalista – parecem não passar de arietes camuflados de forças em competição. Agora que o povo está novamente em confinamento encapotado, tais programas podem concorrem ainda mais acentuadamente para a abstenção, pois quase tudo é parece recesso, vazio e requentado de outras épocas e estações.

Há uma questão que considero abominável: uns tantos acham que os votos neles devem valer, mas se forem expressos noutros não têm idêntica valorização. Felizmente cada um só tem um voto ou será que não é bem deste modo?

 5. Não parece minimamente sério nem credível a discussão sobre a influência na votação das pessoas que possam estar confinadas por ocasião das eleições. Certas sugestões continuam a estar eivadas de marginalização de quem tem de se submetido a restrições em razão do vírus. Alguns precisariam de não se colocarem acima dessa possibilidade, pois, com tão rápido contágio, hoje posso ser obrigado a não poder sair de casa, quando ontem não o previa… Negar a negação pode não servir para tudo nem para todos!    

 

António Sílvio Couto

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