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domingo, 23 de janeiro de 2022

Nomes de gente dados a animais e vice-versa

 

Embora assunto lateral, surgiu na campanha para as eleições: os nomes dados aos (ditos) animais de estimação de alguns dos nossos políticos... cada um com mais arremedo com nome de pessoa, não se tendo descoberto qual a razão mais razoável de tal intento.

Atendendo ao possível alcance desta onda de quase-aninalismo que percorre os nossos dias, poderá ser não displicente ir ao encontro das possíveis raízes deste fenómeno, bem como tentar descortinar as causas mais plausíveis para serem dados nomes de pessoas a animais e de, certos nomes de pessoas, nem sempre se coadunarem com a personalização das mesmas.

1. Para além de uma designação mais ou menos compreensível: o que significa ‘dar um nome’? Se tivermos em conta a linguagem bíblica ‘dar o nome’ é ter poder ou superioridade... pois ao saber o nome de alguém como que posso sentir algo que me dá um certo ‘poder’, pois até sei como se chama – seria mais lógico dizermos: ‘como é chamado’, pois ninguem se chama a si mesmo, à exceção de algum distúbio menos comum – e, ao pronunciar tal nome, o faça vir até mim, numa espécie de alusão a que eu sou como que o centro e os outros estão referidos a mim...

2. Outra questão que se pode colocar será: qual a ligação entre o nome e o sujeito com esse nome? O nome reporta-nos à identidade, numa frase bíblica que diz: ‘ele é o que o nome indica’ (1 Sm 25,25). Dizem que, nos povos índios, aquele que ia dar o nome à pessoa passava largo tempo – o que for necessário, de dia e de noite – com esse a quem seria dado nome, estudando a sua personalidade e o seu comportamento, ainda enquanto criança, para que o nome pudesse dizer algo dele e daquilo que é ou do que virá a ser.

Ao vermos por aí certos nomes, dados ou recebidos, em função da telenovela em exibição, da história da família ou mesmo do padrinho/madrinha, teríamos muito a refletir, a rever e mesmo a mudar... Como interpretar, então, os nomes de pessoas dados a animais: serão preito de estimar para com alguém que partiu ou, pelo contrário, poderão ser entendidos como possível animosidade descarregada sobre os bichos? Cada qual saberá as razões, que sejam de boa mente.

3. Outro aspeto que a referência aos animais pode trazer-nos até pode incluir uma reflexão sobre a temática dos filhos, pois aqueles podem – consciente ou inconscientemente – substituir estes, o que seria ainda complexo de analisar, agora que estamos a viver o ‘inverno demográfico’ na Europa e no nosso país em particular. Dizia o Papa Francisco, na audiência geral do passado dia 5 de janeiro, na sala Paulo VI, no Vaticano: «Há dias, falei sobre o inverno demográfico que há atualmente: as pessoas não querem ter filhos, ou apenas um e nada mais. E muitos casais não têm filhos porque não querem, ou têm só um porque não querem outros, mas têm dois cães, dois gatos… Pois é, cães e gatos ocupam o lugar dos filhos. Sim, faz rir, entendo, mas é a realidade. E esta negação da paternidade e da maternidade diminui-nos, cancela a nossa humanidade. E assim a civilização torna-se mais velha e sem humanidade, porque se perde a riqueza da paternidade e da maternidade».

4. Depois destas palavras contundentes e claras do Papa, logo emergiram – mesmo no contexto português, politico, social e associativo – condenações sobre o não-alinhamento com o progressivo animalismo da nossa sociedade ocidental e portuguesa em particular. Como se o Papa tivesse de se alinhar com as visões reinantes e marcadamente intencionais em trocar os valores essenciais – as pessoas – pelos convenientes – os animais e seus sequazes – senão na conteúdo ao menos na forma.

Em jeito de anedótico dizia-se que um certo partido ganhou algums ascendente sobre as pessoas mais velhas, que conisderavam que havia alguém que defendia os seus ‘animais de estimação’ e nada lhes pedia em troca. Mas preferir os animais aos filhos será avanço ou recuo de civilização?



António Silvio Couto

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