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terça-feira, 4 de janeiro de 2022

À descoberta do significado do batismo de Jesus


«9 Por aqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi baptizado por João no Jordão. 10 Quando saía da água, viu serem rasgados os céus e o Espírito descer sobre Ele como uma pomba. 11 E do céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus todo o meu agrado» (Mc 1, 9-11 // Mt 3, 13-17; Lc 3, 21-22; Jo 1, 31-34).

 As circunstâncias do batismo de Jesus por João Batista são de simples compreensão: caminhando com os outros – ‘Deus connosco’ (Mt 1, 23) – apreesenta-se na simplicidade, sem se fazer avisar, para ser batizado, tendo João ripostado a tal pretensão – «eu é que tenho necessidade de ser batizado por Ti, e tu vens a mim? Jesus respondeu-lhe: deixa por agora. Convém que cumpramos toda a justiça. E João, então, concordou» (Mt 3, 14-15). Solidarizando-se com os pecadores pelo batismo, Jesus manifestava como a sua missão se distanciava do sonho judaico de um Messias triunfante (cf. Mt 11, 2-6; 16, 13-23).

Ao sair da água deu-se a teofania das três Pessoas divinas, revelando o mistério de Jesus de Nazaré. Deus Pai, com o Espírito Santo, apresenta-o solenemente como seu Filho, que assim inaugura a vida pública. Segundo Lc 3, 21, isto aconteceu quando Jesus estava em oração. Em Mt 3,17, a voz do céu é dirigida às pessoas que estão presentes. João é, simultaneamente, ministro e testemunha: ele viu e tornou-se aquele que creditou tal manifestação trinitária.

«Após esses trinta anos de vida escondida, começa a vida pública de Jesus. E tem início precisamente com o batismo no rio Jordão. Mas Jesus é Deus, por que se faz batizar? O batismo de João consistia num rito penitencial, era sinal da vontade de se converter, de ser melhor, pedindo perdão pelos próprios pecados. Certamente Jesus não os tinha. De facto, João Batista procura opor-se, mas Jesus insiste. Porquê? Porque quer estar com os pecadores: é por isso que se põe na fila com eles e faz o mesmo gesto. Ele fá-lo com a atitude do povo, com a sua atitude [do povo] que, como diz um hino litúrgico, se aproximava com “nua a alma e nus os pés”.  A alma nua, ou seja, sem cobrir nada, pecador. Este é o gesto que Jesus faz, e desce ao rio para se imergir na nossa própria condição. Com efeito, batismo significa precisamente “imersão”. No primeiro dia do seu ministério, Jesus oferece-nos assim o seu “manifesto programático”. Ele diz-nos que não nos salva de cima, com uma decisão soberana ou um ato de força, um decreto, não: salva-nos vindo até nós e assumindo os nossos pecados. É assim que Deus vence o mal do mundo: abaixando-se, e assumindo-o sobre si mesmo. É também o modo como podemos elevar os outros: não julgando, não lhes dizendo o que fazer, mas estando perto deles, partilhando o amor de Deus. A proximidade é o estilo de Deus para connosco; Ele próprio disse a Moisés: “Pensa: que pessoas têm os seus deuses tão próximos como tu me tens a mim?”. A proximidade é o estilo de Deus para connosco» (Papa Francisco, ‘Angelus’, 10 de janeiro de 2021).

Porque Deus está próximo, mesmo no nosso interior, saboreemos a sua presença, agradecendo, hoje, o dom do nosso batismo.

 * Testemunho de João – «31 Eu não o conhecia bem; mas foi para Ele se manifestar a Israel que eu vim baptizar com água.» 32 E João testemunhou: «Vi o Espírito que descia do céu como uma pomba e permanecia sobre Ele. 33 E eu não o conhecia, mas quem me enviou a baptizar com água é que me disse: 'Aquele sobre quem vires descer o Espírito e poisar sobre Ele, é o que baptiza com o Espírito Santo'. 34 Pois bem: eu vi e dou testemunho de que este é o Filho de Deus» (Jo 1, 31-34 // Mt 3, 13-17; Mc 1,9-11; Lc 3,21-22).

 Na secção de Jo 1,19-34 encontramos a importância que o evangelista confere a João Batista, num ambiente de expetativa messiânica, centrando as posições de João Batista naquilo que podemos considerar a passagem de testemunho entre ele e Jesus, apresentado como ‘o Cordeiro de Deus’ (vv. 29-30) e, particularmente pela teofania do batismo (vv. 31-34). Dá a impressão que João não conhecia bem Jesus – «E eu não o conhecia, mas quem me enviou a baptizar com água é que me disse: 'Aquele sobre quem vires descer o Espírito e poisar sobre Ele, é o que baptiza com o Espírito Santo'» (v. 33), mas tinha uma ‘informação’ de que aquele sobre quem visse o Espírito Santo manifestar-se, em forma de pomba – dizem algumas traduções – esse era «o Filho de Deus».

«Da parte de Jesus, o seu baptismo é a aceitação e a inauguração da sua missão de Servo sofredor. Deixa-se contar entre o número dos pecadores. É já «o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo» (Jo 1, 29), e antecipa já o «baptismo» da sua morte sangrenta. Vem, desde já, para «cumprir toda a justiça» (Mt 3, 15). Quer dizer que Se submete inteiramente à vontade do Pai e aceita por amor o baptismo da morte para a remissão dos nossos pecados. A esta aceitação responde a voz do Pai, que põe toda a sua complacência no Filho. O Espírito que Jesus possui em plenitude, desde a sua conceição, vem «repousar» sobre Ele (Jo 1, 32-33) e Jesus será a fonte do mesmo Espírito para toda a humanidade. No baptismo de Cristo, «abriram-se os céus» (Mt 3, 16) que o pecado de Adão tinha fechado, e as águas são santificadas pela descida de Jesus e do Espírito, prelúdio da nova criação» (Catecismo da Igreja Católica, 536).

 

António Sílvio Couto

  

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