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segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Resumindo e concluindo...certas e determinadas coisas

 


Nas conversas que temos ou que ouvimos há, por vezes, expressões – frases-feitas, chavões ou moletas de linguagem – que nos obrigam a refletir sobre o possível vazio, o recurso que utilizamos ou mesmo o sem-sentido de tais intervenções.

Depois de algum tempo a linguajar, talvez sem nexo ou de forma difusa, alguém sugere para atalhar: ‘resumindo e concluindo’, isto é, tiremos resultado daquilo que falamos,  espremámos a conversa para ver se temos conteúdos, tanta coisa de verborreia para dizer e tão pouco ou quase-nada...

Noutro sentido pode ir a expressão ‘certas e determinadas coisas’, pois nela correm o risco de se misturarem suspeitas com conjeturas, difamações com mentiras ou mesmo má-fé com acusações eivadas de preconceitos, ressentimentos ou até de ruindade.  

 1. Possivelmente a melhor forma de explicar estas duas expressões poderá passar por ‘casos’ concretos, muitos deles servidos em bandeja de engano ou sob corolário de mesquinhez. Quem não se recorda do processo algo complexo da mais recente provação a que a Igreja católica tem sido submetida na última década: a descoberta e denúncia, a exposição e difusão, de casos de abusos – de menores ou não – sobre pessoas frágeis e fragilizadas, tanto no âmbito sexual como noutras vertentes de consciência e/ou arbitrariedade de poder.

Saído das trevas do tempo este problema tem sido uma questão onde ‘certas de determinadas coisas’, quando evocadas, mais ofuscam a verdade do que as consequências, onde o manto tenebroso da suspeita mais aterroriza do que a aceitação dos erros, das maldades e das lacunas de tantos e tantas.

Com que habilidade algumas forças colocaram ‘situações’ sob a alçada de ‘certas e determinadas coisas’, desde que se possa condicionar – mais ou menos conscientemente – o apuramento da verdade. Que dizer da tal comissão dos ‘241’, que se fez ouvir com alarde, por forma a colocar tudo e todos sob suspeição, pois as comisões diocesanas de averiguação pareciam ‘incapazes’ de acertar em ‘certas e determinadas coisas’. Alguns até investidos de assistentes religiosos de movimentos de jovens preferiam a dita ‘comissão independente’, às de indole diocesana, como se duvidassem da idoneidade destas e apregoassem as certezas daquela. Se têm dados porque não os apresentam? Não será isto uma manobra para colocar na engrenagem ‘certas e determinadas coisas’, que mais não passam de efabulações do que de reais verdades. Quem assim procede a quem serve? Que pena elogiarmos os estrangeiros e denegrimos os nossos... Esta capacidade de subdesenvolvimento é atávica e funesta, hoje como ontem!

 2. Por estes dias de antecedência às eleições do final do mês poderemos ver ‘certas e determinadas coisas’ das lutas partidárias, nunca antes vistas, mas possivelmente desenterradas ‘à la carte’, pois o medo quase sempre é bom conselheiro para lançar notícias falsas ou falsidades nas notícias. Quais influenciadores da democracia, eis que se perfilam ‘personalidades’ a manipular as pretensões, quando ainda nem se sabem os resultados. Os tiques de inquisição não têm limites, desde que ‘certas e determinadas coisas’ possam correr-lhe de feição. Se fossem outros a fazerem algo idêntico como reagiriam?

 3. Resumindo e concluindo: precisamos de cuidar da nossa capacidade mínima de credibilidade, pois colocar os outros em dúvida só porque nos podem ofuscar as pretensões, além de inveja reveste a faceta de ignorância, a qual quando elevada ao poder costuma deixar marcas por longos tempos na subserviência, no caciquismo e até no despotismo...

Resumindo e concluindo: urge ter capacidade de denúncia das tropelias alheias, mas sem nunca deixar que sejamos corrigidos pelas intenções formuladas para com os outros.

Resumindo e concluindo: quão útil será atendermos aos dedos investidos em acusação, pois dos cinco, dois invetivam os outros, mas três denunciam-nos a nós mesmos. Coerência, a quanto obrigas!

 

António Silvio Couto

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