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sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Chantagens

 


Embora não tenha sido usada, a palavra ‘chantagem’ andou subjacente e a fazer estragos na nossa vida coletiva…nos últimos dias.

As esquerdas quiseram pedir tudo e o resto para além do orçamento ao governo. O Presidente quis obrigar a entenderem-se ou haverá eleições. Os concorrentes aos partidos em disputas internas tentaram condicionar os adversários. Na comunicação social surgiram opiniões e propostas em função das sensibilidades ideológicas. Quem esteve a negociar – ou a fazer-de-conta de tal – na (dita) concertação social viu-se ultrapassado por outros interesses.

 1. Estas foram algumas das chantagens já vistas, mas outras se levantam no horizonte turbo e sombrio dos próximos tempos. Uns mais habilidosos – termo suficientemente recorrente para referir o comportamento de muitos dos intervenientes – começam a desdizer-se, pois criaram as condições para as eleições antecipadas e agora sentem que serão os grandes castigados…irremediavelmente. Outros tentam entrar na luta a muito curto prazo, aproveitando o ‘tempo de obras’ de alguns dos adversários. Outros ainda fazem-se de valentões para suplantarem os que os desafiam, mas estão cobertos de medo pois impreparados e sem programa que não seja a contestação…

2. Num serviço deplorável certa comunicação social – como voz do dono e mais interessada na solução defunta – gasta muito do seu tempo a invetivar quem não lhes agrada, dizendo que respeitam os votos – sejam quais forrem – embora deem a entender que o povo parece mais estúpido do que normalmente é…Os argumentos são tão frágeis e mesquinhos que voltados ao contrário revelam a qualidade de mentalidade e a subtileza de inteligência… Felizmente cada um só tem um voto, mas uns tantos acham-se no direito de pretenderem transferir para o exercício da (dita) democracia, os vícios e manhas do clubismo barato…

Não será isto chantagem sublimada pelo pretenso direito de opinião?

3. Mais uma vez confirmámos a informação do tal comandante militar romano sobre um certo povo que vivia, ao tempo, no noroeste da Península Ibérica: há aqui um povo que não se governa nem deixa governar! Somos, de verdade, um povo específico, pois mais do que cultivarmos a sã convivência na diferença, arranjamos casos e casinhos para fomentarmos a divisão, nessa vivência de dividir para reinar e, numa lógica quase-irracional, de preferimos vingar os nossos interesses ao de unirmo-nos para vencermos as dificuldades. Agora sabemos melhor – dado que a escola da intrujice continua a formar mestres e doutores – que há partidos políticos que não olham a meios para atingirem os seus irracionais fins, nem que para isso tenham de deitar fora a aceitação popular que pareciam ainda ter.

 4. Que dizer de quem ocupa o poder? Não será mais maquiavélico do que se julga? Não andará a enganar os seus incautos eleitores? Não se percebeu agora melhor que o epíteto ‘geringonça’ – dado por sarcasmo e contendo a significação de ‘construção improvisada e com pouca solidez’ – só serviu os desejos do comandante e dos seus apaniguados? Afinal, os comparsas não estavam mais interessados no proveito do que no serviço ao povo?

Tenho dito e escrito por diversas vezes que o anterior chefe de governo socialista será considerado um anjinho à luz das patranhas que o atual tem feito em surdina e fora dos palcos. Quando se descobrir, já estaremos sob resgate externo e a pagar com juros tais façanhas por agora sem denúncia nem assunção. Mas não foi este governo em funções que lançou quinze milhões de euros de ajuda à comunicação social? Esta para já tem sido cordata e submissa…

 5. Numa palavra: parece que ouvirmos no ar a acusação: foste mais chantagista do que…espera pelo resultado. Como Nação com quase nove séculos de história, merecemos muito melhor! 

   António Sílvio Couto      

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