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segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Quanto dependemos dos outros…

 


De vez em quando torna-se útil, necessário e conveniente repararmos em quanto dependemos uns dos outros…nos atos mais simples do nosso dia-a-dia: eletricidade, água, gás, comunicações (televisão, internet, telefone) tornam-se mais precisos quando nos faltam, nem que seja por breves momentos.

Consciencializar a panóplia de situações em que precisamos uns dos outros poderá fazer-nos mais humildes e reconhecidos pelo tanto que recebemos e, nem sempre, agradecemos.

 1. Claro que aqueles serviços de que usufruímos, pagamo-los. Mas isso não nos pode deixar indiferentes às interdependências em que nos encontramos continuamente. Vastíssimas equipas contribuem com o seu saber, a sua competência e mesmo a sua dedicação para que possamos ter aqueles serviços – e tantos outros, como a cadeia alimentar ou aspetos de segurança – da forma mais normal possível. Ser grato é o mínimo que se exigirá. O pagamento de tais prestações, para além de justo, é essencial para que continuemos a tê-los com a regularidade necessária e conveniente…

 2. Uma das consequências mais visíveis do tempo da pandemia, que temos estado a viver, foi o fechamento (isolamento, refúgio ou medo) resultante dos cuidados para que o vírus não nos atingisse. Depois dos cuidados higiene-sanitários tivemos de lutar contra ‘falsas notícias’ (ou não tanto), servidas com razoável abundância. Com que funesta vivência farejamos a morte no mês de janeiro passado, onde, entre o início e o final, duplicou o número de mortos pelo fatídico vírus…Confesso que nunca vi tão de perto o estertor da morte, passeando por entre as pessoas aturdidas com o medo, a incerteza e as consequências.

 3. A fronteira entre o excesso de cuidado com a ‘covid19’ e a cobardia foi (é) muito ténue. Passado este tempo tenho a sensação decque posso ter sido um tanto cobarde, salvaguardando a pele e não estando mais presente, sobretudo, aos mais velhos no lar do centro paroquial…Ao reconhecer esta falha tenho presente o imenso número de padres vítimas do vírus – 269 em Itália, só no ano de 2020; mais de cem em Espanha; 65 no Brasil; em Portugal também houve alguns padres mortos… Em certos países morreram mais padres vítimas do covid-19 do que médicos, segundo alguns devido à proximidade e dedicação daqueles…

 4. Habilitados pela provação da pandemia precisamos de perspetivar esta intercomunhão em que nos vivemos, vivemos e existimos, pois, o sacudir desse egoísmo em que nos refugiamos durante os vários estados de confinamentos, não poderá quedar-se em ficarmos só por esse faz-de-conta de que tudo passou. Com efeito, a higienização a que nos submetemos preventivamente tem de continuar, mais do que na dimensão do corpo tem de atingir as complexas particularidades mentais: há, de verdade, muitas teias de preconceito para com os outros, na medida em que os fomos tornando senão inimigos ao menos adversários.  Com que facilidade se nota agressividade – latente ou explicita – para com os outros, sejam conhecidos ou nunca vistos. As cenas de conflitualidade proliferam desde os pequenos gestos até às imagens noticiosas. Parece que foi desarrolhado algo contido sob pressão…psicológica e/ou espiritual.

 5. Neste contexto torna-se de fundamental acuidade a proposta da Igreja católica do ‘caminhar juntos’ em sínodo. Vejamos breves excertos da homilia do Papa Francisco na abertura do sínodo sobre a sinodalidade (10 de outubro).

«Fazer Sínodo significa caminhar pela mesma estrada, caminhar em conjunto. Fixemos Jesus, que na estrada primeiro encontra o homem rico, depois escuta as suas perguntas e, por fim, ajuda-o a discernir o que fazer para ter a vida eterna. Encontrar, escutar, discernir: três verbos do Sínodo,

* Somos chamados a tornar-nos peritos na arte do encontro; peritos, não na organização de eventos ou na proposta duma reflexão teórica sobre os problemas, mas, antes de mais nada, na reserva dum tempo para encontrar o Senhor e favorecer o encontro entre nós.

* Um verdadeiro encontro só pode nascer da escuta. (...) Como estamos quanto à escuta? Como está «o ouvido» do nosso coração? Permitimos que as pessoas se expressem, caminhem na fé mesmo se têm percursos de vida difíceis, contribuam para a vida da comunidade sem ser estorvadas, rejeitadas ou julgadas?

* O encontro e a escuta recíproca não são um fim em si mesmos, deixando as coisas como estão. Pelo contrário, quando entramos em diálogo, pomo-nos em questão, pomo-nos a caminho e, no fim, já não somos os mesmos de antes, mudamos (...) O Sínodo é um caminho de discernimento espiritual, de discernimento eclesial, que se faz na adoração, na oração, em contacto com a Palavra de Deus».

Caminhemos juntos…

 

António Sílvio Couto      

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