Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Homens, sede homens!

 


Quando veio a Fátima, a 13 de maio de 1967, o Papa Paulo VI, proclamou altissonantemente:
«Homens, sede homens. Homens, sede bons, sede cordatos, abri-vos à consideração do bem total do mundo. Homens, sede magnânimos. Homens, procurai ver o vosso prestígio e o vosso interesse não como contrários ao prestígio e ao interesse dos outros, mas como solidários com eles. Homens, não penseis em projetos de destruição e de morte, de revolução e de violência; pensai em projetos de conforto comum e de colaboração solidária. Homens, pensai na gravidade e na grandeza desta hora, que pode ser decisiva para a história da geração presente e futura; e recomeçai a aproximar-vos uns dos outros com intenções de construir um mundo novo; sim, um mundo de homens verdadeiros, o qual é impossível de conseguir se não tem o sol de Deus no seu horizonte».
Decorridos mais de seis décadas de vida e de história torna-se um tanto urgente e essencial fazermos uma reflexão sobre implicações, momentos e sinais de como aquela expressão – ‘homens, sede homens’ – ainda tem atualidade e pode ser esmiuçada suficientemente na nossa conduta pessoal, familiar e coletiva.

1. Que dizer de certos ‘políticos’ que se fazem ‘sair do armário’ – com a significação conotativa da frase – em vésperas de se apresentarem à refrega eleitoral de escolha de futuros dirigentes? Será isso algo a favor das suas pretensões ou condicionará as escolhas de outros, se se apresentarem a votação? Estarão os ‘partidos políticos’ – sobretudo portugueses – capazes de enquadrarem essas novas formas de ética? Valerá tudo para atrair a atenção e para conquistar esse novo enquadramento mais tecnocrata do que fundado na sensata conduta moral? Seja qual for o resultado será de homens cordatos, magnânimos e sensatos?
Parece ser cada vez mais urgente sabermos o que significa, verdadeiramente, ‘ser homem’, pois implica e expõe muito para além da configuração de sexo e ultrapassa ainda mais a denotação de género…Aquela expressão papal continua com perfeita atualidade no conteúdo e na forma.

2. Assisti, por estes dia, à tomada de posse da assembleia municipal e dos elementos da câmara municipal numa localidade, que ousou, nas recentes eleições autárquicas, mudar de cor e, possivelmente, de orientação a curto prazo. Escutei a enfase que foi dada à necessidade de respeitar, de enquadrar e de tornar visíveis a ‘minorias’. Mas o que vi, pelas pessoas eleitas, empossadas e investidas em poder foi algo que me escandalizou: é um concelho – com quatro assembleias de freguesia, nove vereadores e mais de sessenta e seis mil habitantes – e onde as pessoas de tez negra têm uma razoável presença, tanto na população como nas associações, coletividades e mesmo igrejas (católica e não só)… mas, naqueles órgãos empossados, não vi um negro ou negra investido…apesar de uns tantos, muito poucos (residuais ou convidados), deambularem pela assistência ao ato…

3. De que adianta andarem a proclamar boas intenções de convivialidade e de articulação entre as diversas propostas de respeito à diferença, se, na hora de isso poder ser manifestado, o que vemos são condutas hipócritas e mentirosas, falsas e quase anedóticas, incoerentes e provocadoras do descrédito de quem faz a intervenção política? Não será que tais homens/mulheres não passam de utópicos sem estofo, de promotores de novas desigualdades e de manipulações baratas e quase em saldo? Não andaremos a semear ventos, vindo a colher tempestades? Não estaremos a formar pessoas que fazem do seu viver uma mentira só desmontada por quem nada teme porque nada defende? Não andará muita gente obcecada pela ideologia que ainda não conseguiu captar que Deus não é ‘uma coisa fria nem impessoal’, mas Alguém sensível e que cuida de nós?

4. Do texto do Papa Paulo VI podemos recolher as caraterísticas daquilo que ele considerava ´ser homem’: bom, cordato, magnânimo, solidário, colaborador com os outros, verdadeiros… Antes de mais será útil, cada um de nós, ver como vive estas caraterísticas da pessoa humana; depois podemos e devemos avaliar como tais vertentes acontecem à nossa volta; por fim, teremos de questionar-nos porque ainda não somos tão humanos quanto devíamos, mesmo que isso implique a nossa conversão aos outros… O caminho é longo!

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário