«Nós somos débeis e pecadores:
não permitais que sejamos causadores da desordem;
que a ignorância não nos desvie do caminho,
nem as simpatias humanas ou o preconceito nos tornem parciais».
Diz-se, em nota de rodapé, na
pagela distribuída com esta fórmula comunitária de oração, que ela é ‘atribuída a Santo Isidoro de
Sevilha (560-636), tem sido tradicionalmente utilizada nos concílios e nos
sínodos durante séculos. A versão que se segue foi especificamente concebida
para o caminho sinodal da Igreja de 2021 a 2023’. Aqui poderá estar algo que
nos ajuda a situar na longa e acrisolada Tradição da Igreja e onde vamos, em
momentos significativos, buscar as raízes mais fundas do nosso atuar
contemporâneo.
Como
nota de referência não deixa de ser significativo que esta oração-sinodal seja
dirigida ao Espírito Santo, como todos sabemos é a alma da Igreja e quem lhe dá
o ligâmen de unidade, de santidade, se catolicidade e de apostolicidade.
Sem
pretender fazer qualquer análise hermenêutica restritiva, ouso propor uma
reflexão sobre os quatro aspetos contidos na disposição gráfica e de aspetos
contidos neste parágrafo:
1. Nós somos débeis e pecadores.
É
partindo desta consciencialização – de ‘pobres pecadores ‘ – que poderemos
encetar o nosso caminho de sínodo: estamos todos juntos na mesma tarefa, numa
base de unidade e não na distinção de regalias ou de penachos humanos ou
religiosos… subtis ou presumidos.
De
facto, aquilo que distingue, normalmente, cria obstáculos a que nos sintamos,
na linguagem paulina, ‘membros uns dos outros’, mas talvez, mais seduzidos pela
leitura e vivência piramidal, que, de tantas e tão atrozes modos, tem criado
problemas na Igreja e no mundo. Será uma visão menos adequada?
Em
certos círculos (mais ou menos) eclesiásticos sói dizer-se que a ignorância é o
‘oitavo sacramento’. Ora, na componente desta oração pedimos ao Espírito divino
que venha em nós vencer essa letargia em que, tantas vezes, nos consolámos, em que
vivermos com o já sabido, o que foi estudado ou mesmo o que nada diz mas que
nos faz sentir seguros do pouco que sabemos. Ainda, um destes dias, fiquei
estarrecido de confusão, ao ouvir de um padre, que foi ordenado há quatro anos
e que dizia não precisar de estudar, para já, mais…Isto foi-me ainda mais
agravado, quando ele o disse perante uma professora jubilada de teologia – a
primeira mulher assim graduada no nosso país – e que, momentos antes me tinha
deliciado com uma reflexão despretensiosa sobre questões de teologia
trinitária. Sim, mesmo na Igreja católica, a ignorância é um posto… e não é só
dos leigos!
Efetivamente, vivemos, de
tantas e variadas formas sob o condicionamento de querermos agradar – na
palavra e nas atitudes – para com quem nos agrada ou a quem queremos (mais ou
menos) ser agradáveis. Com que facilidade corremos o risco de submeter-nos
àquilo em que pode ser menos agradáveis. Certos ‘bobos da coorte’ deambulam
pelas arenas eclesiais…e não são só os leigos. Com que rudeza sinto – sobre o
passado e o presente – essa advertência de Jesus: ‘ai de vós, quando todos
disserem bem de vós’! Se formos homens/mulheres à luz do Evangelho andaremos
doridos com tais cedências às forças do mundo… ou não!
António Sílvio Couto
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