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sexta-feira, 8 de outubro de 2021

‘Alegro-me com o êxito dos outros’

 


Recordo-me, tenuemente, de ter ouvido esta frase ser proferida por alguém ligado ao treinador-selecionador, que venceu, por estes dias, o campeonato do mundo em futsal.
Aquela afirmação sobre a benevolência para com os êxitos/sucessos/vitórias dos outros é muito pouco habitual no nosso contexto cultural, tanto na área social, política ou económica, como também em aspetos mais ou menos do foro da relação das qualidades, das vivências interpessoais ou mesmo eclesiais. Com que facilidade ouvimos – senão mesmo proferimos – frases como estas: com o mal dos outros podemos nós, deixem-nos subir que cá estaremos para vê-los descer, saberemos o que valem quando falharem…

1. Dá a impressão que somos, de facto, um povo mais propenso para alimentar mais os falhanços alheios do que para aprendermos com o modo como os outros foram capazes de ultrapassar a mediocridade reinante. Há todo um ambiente propício para a valorização, pela negativa, de quantos não conseguem ter sucesso. Com relativa facilidade são relegados os vencidos para o fim da lista. Dá a impressão que, em certos setores da nossa sociedade, quem destoa da normalidade vitoriosa parece ser um alvo a abater…

2. Nota-se, por outro lado, uma certa tendência para premiar – com comendas, medalhas ou galardões – quem não fez mais do que, meramente, cumprir o seu dever… Isto é mau para quem faz, pior para quem aceita. Já o referi por diversas vezes que, a atender à lista dos condecorados, dos premiados e dos que receberam reconhecimento público, prefiro enjeitar, recusar ou ser banido das hipóteses, seja qual for o tempo, o lugar ou a oportunidade… O cumprimento do dever é a melhor paga/reconhecimento!

3. Verdadeiramente há sucessos e vitórias, conquistas e façanhas, resultados e consagrações, que revelam, manifestam e envolvem muito trabalho… anos a fios, sacrifícios inauditos, horas de luta e de dedicação… Por muita habilidade, capacidade natural ou jeito para certos desportos (pessoais ou coletivos) ou mesmo atividades de grupo, é preciso muito trabalho – nessa asserção que diz: o sucesso só se encontra no dicionário antes de trabalho – na medida em que a conjugação de esforço se sobrepõe, normalmente, às individualidades. Vimo-lo nos resultados mais recentes da seleção de futsal, mas já o tínhamos percebido no futebol de praia ou mesmo no futebol de onze…À boa maneira portuguesa: quando todos se unem, fazemos das fraquezas forças e das derrotas conquistamos vitórias.

4. Pena é que nas coisas da política (e não só) sejamos tão tacanhos em compreender as diretrizes: quantas vezes, os vencedores incham na sua prosápia e os vencidos se esgueiram na sua petulância; quantas vezes, quem ganhou não sabe lidar com os recursos que passa a ter e quem foi derrotado deita a perder a experiência adquirida… Efetivamente, ser democrata é uma aprendizagem, nunca feita nem completa…

5. Ao nível católico somos chamados a reformular os nossos conceitos e, por que não, vivências. Aí está o desafio: a sinodalidade, isto é, o caminho a fazermos juntos, sem lições nem rebuscos… Todos como ‘fiéis’ – porque batizados: hierarquia, religiosos/as e leigos – estamos em caminho comum – ‘suv’ (comum), ‘odos’ (caminho) – numa comunhão, participação e missão. É à luz destas três palavras que a Igreja católica nos chama a viver de forma nova, diferente e entusiasmada…os próximos anos.
Citamos o número 4 do documento preparatório do Sínodo:
«O caminho sinodal desenvolve-se num contexto histórico, marcado por mudanças epocais na sociedade e por uma passagem crucial na vida da Igreja, que não é possível ignorar: é nas dobras da complexidade deste contexto, nas suas tensões e contradições, que somos chamados «a investigar os sinais dos tempos e a interpretá-los à luz do Evangelho» (GS, n. 4). Delineiam-se aqui alguns elementos do cenário global mais intimamente ligados ao tema do Sínodo, mas o quadro deverá ser enriquecido e completado a nível local».
Queira Deus que sejamos capazes de compreender estas palavras e de as colocarmos na vida…

António Sílvio Couto

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