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terça-feira, 7 de setembro de 2021

Na comunidade se manifesta a força de Deus

 


Com que facilidade tantos dos nossos contemporâneos foram-se afastando da vivência da missa de domingo, apresentando as mais díspares desculpas, mas enfraquecendo o corpo da Igreja-comunidade. Talvez tenhamos caído – por ocasião destes tempos de pandemia – no facilitismo do recurso às celebrações televisionadas, contribuindo para essa religião de pantufas, que se satisfaz mais com os seus ritos algo individualistas e pouco se compromete com os outros…que nem sempre escolhemos ou aceitamos como devíamos.
«A celebração da Missa é, por sua natureza, “comunitária”. Por isso têm grande importância os diálogos entre o celebrante e os fiéis reunidos, bem como as aclamações. Tais elementos não são apenas sinais externos de celebração coletiva, mas favorecem e realizam a estreita comunhão entre o sacerdote e o povo.
As aclamações e as respostas dos fiéis às saudações do sacerdote e às orações constituem aquele grau de participação ativa por parte da assembleia dos fiéis, que se exige em todas as formas de celebração da Missa, para que se exprima claramente e se estimule a ação de toda a comunidade» (IGMR 34).
Quais são alguns dos sinais desta dimensão comunitária da celebração da eucaristia? Há expressões ou gestos que nos podem fazer ‘acordar’ para esta dimensão comunitária e não individualista como, por vezes, nos parece sermos confrontados?

1. Em três momentos da celebração da eucaristia encontramos um diálogo muito típico que nos pode ajudar a consciencializar e a refletir, de forma simples e incisiva, sobre esta expressão comunitária da nossa fé celebrada. ‘O Senhor esteja convosco; Ele está no meio de nós’. Rezamos – seria de pouco significado impacto referir dizemos – no diálogo antes da proclamação do Evangelho; no início do prefácio; e antes da bênção final. Noutras línguas a tradução não regista esta mesma sequência, sobretudo, na resposta que é dada pela assembleia, pois a frase é composta por outros elementos: ‘O Senhor esteja convosco; E com o teu espírito’. Embora só em português se saliente aquilo que reportamos de expressão comunitária, não será displicente o sentido que, na nossa língua, se pode e deve refletir e aprofundar…como expressão comunitária sacudida nesses três momentos significativos da celebração.
- Antes do Evangelho – a Palavra de Deus que está a ser proclamada e vai ser atualizada para a assembleia precisa de ser despertada, até porque a atitude de se colocar em pé também significa isso: prontidão e escuta. - No diálogo do prefácio, coloca-nos em despertar para toda a liturgia eucarística que se lhe segue.
- No final, antes da bênção e do envio, dá-nos o sinal de partida para o anúncio da ‘missa para a missão’.

2. Apesar destes sinais de configuração comunitária ainda vemos tantos tiques de individualismo em muitos dos nossos ‘praticantes’. Certos ritos e rituais de ‘sacramentos sociais’ – batizados, casamentos, ‘festinhas de catequese’ e afins – enfermam desta doença dos particularismos que, na maior parte das vezes, se sobrepõem à dimensão comunitária. Até as missas por intenções mais específicas – tirando o risco de simonia quase latente nalgumas circunstâncias – ou o devocionismo em reconstrução não revelam nem favorecem a vivência comunitária necessária, urgente e aberta aos outros.
Quando tantos crentes não têm o suficiente para alimentar a sua fé com espírito comunitário vamos enfastiando outros com respostas dadas ‘à la carte’ ou seguindo um guião que nos tem lavado a todo este processo de descristianização crescente e de debandada da Igreja. Enquanto não formos capazes de fomentar, de alimentar ou de recriar o espírito comunitário das nossas celebrações corremos o risco de andar a colaborar em episódios de distração, mas cujos resultados serão desastrosos no futuro próximo.

3. Não haverá ruido a mais e silêncio a menos nas nossas celebrações? Não haverá espírito mundano a mais e Espírito de Deus em falta? Não andaremos a querer fazer das nossas celebrações – mesmo da missa – mais sessões de simpatia do que momentos de encontro com Deus?


António Sílvio Couto

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