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terça-feira, 7 de setembro de 2021

Do cativeiro de estimação…à tentativa de promoção

 

Tem-se vindo a desenvolver uma certa mentalidade sobre os ‘animais de estimação’. Este epiteto pode servir para múltiplas designações, desde que alguém considere que aquele ‘seu’ animal é de estimação. Gatos, cães (de várias raças, tamanhos ou configurações), aves ou outros mais exóticos… foi-se criando uma panóplia de ‘animais de estimação’, onde cada um estima o que quer ou dedica-se a quem lhe convier.
Sussurrava-se à boca-pequena que, numa das eleições gerais mais recentes, algumas ‘velhinhas’ com animais estimados foram na cantiga de certas formações partidárias que se diziam defensoras dos ‘animais’ e lhes davam (abstratamente) garantia de que os seus ‘animais de companhia’ estariam salvaguardados por tais ideias e a salvo por esses outros ideais…Será que esta leitura/visão explica a forma inusitada de certas votações? Não se estará a laborar no engano, enquanto os incautos não descobrirem as patranhas?
1. Animais servem ou são usados?
De entre tantos casos de ‘animais de estimação’ como que se deve questionar a quem vale a companhia: aos ditos ou aos ‘donos? Dá a impressão que, pelas condições de habitação de tantas pessoas, muitos dos animais estão em cativeiro, confinados aos espaços exíguos das casas e sem o mínimo de liberdade para serem aquilo que querem que eles sejam e de que precisam…
Nalgumas circunstâncias os animais de estimação/companhia parecem tornar-se alvo supletivo de afeição, criando laços tais que o seu desaparecimento se assemelha ao de um luto humano. É habitual ver para com os animais manifestações de carinho que quase nos leva a suspeitar se não andará nada descontrolado em matéria de prioridades e/ou de equilíbrio emocional…nos humanos.
2. Os animais serão promoção de quem ou para quê?
Certamente que todos temos visto pessoas a passearem-se com grandes ou emblemáticos caninos, uns que se destacam pelo porte, outros que mais parecem bonecos de enfeite e outros ainda que dão conta de quem os conduz. Em certos casos como que seríamos tentados a concluir: diz-me o cão que tens (mostras ou exibes), que eu te direi quem tu és!
A trela dourada pela qual são conduzidos faz dos animais – e dos cães em particular – algo que nos leva a laborar nalguma contradição: dizem que gostam deles, mas aprisionam-nos, retirando-lhes a liberdade de serem o que são; querem-lhes tanto, mas fazem deles objetos de bel-prazer; parecem seus defensores, mas comportam-se como donos escravizadores; tentam humanizá-los, conferindo-lhes quase estatuto de personalização, mas não passam de manipuladores abjetos…
É verdade os animais têm sentimentos. Porque poderão ser usados por personalidades algo deficientes, senão na forma, ao menos no conteúdo?

3. O privado não condicionará o público e vice-versa?
De forma habilidosa certos comentadores da vida alheia – tanto social como política ou mesmo amoral – quando lhes convém tentam distinguir a vida privada, seja de quem for, da dimensão pública – política, no sentido genuíno do termo, na vivência da ‘polis’, cidade – de ocasião. Na visão de tais mentores, em certas matérias aquilo que é considerado do foro privado nele deve continuar, noutras situações o privado emerge como condicionador da intervenção pública. Mas teremos de ser todos tão bipolares, que a bitola do juízo é feita pela simpatia ou animosidade para com os intervenientes? Por muito que tentem explicar que a dita ‘orientação sexual’ não interfere na conduta política porque será que algumas tendências são consideradas tão anódinas e não potencialmente subversivas?
4. Quando ser ou não pode influenciar…
Nesta corrente de amoralismo – qual sublimação coletiva da tal ‘ética republicana’ – nota-se uma onda de fundo de contestação da cultura judaico-cristã em questões que envolvem o relacionamento da pessoa humana consigo mesma e com os outros, sejam também humanos ou os animais e até a natureza. A subtileza dos assuntos perpassa lóbis da mais diversa configuração. A artimanha está em gastar tempo com inutilidades, fazendo-as parecerem assuntos fundamentais. O respeito pela pessoa humana não pode querer tornar assuntos com interesse, só porque estão em causa os meus interesses… Estes podem ser mesquinhos!

António Sílvio Couto

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