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segunda-feira, 27 de setembro de 2021

...É a democracia a funcionar

 


Como já não era habitual, a noite de ontem (dia 26 de setembro) trouxe-me à memória outros momentos de eleições: estar preso até altas horas para ver os resultados, sobretudo aqueles onde se esperava surpresas – e houve, felizmente, várias – e mudanças.

Vivo, desde há mais uma década, num concelho onde foi sacudido o espetro de ditadura de quase um século – quarenta e oito anos do regime anterior e quase outro tanto sob o governo do mesmo partido – numa acomodação, que fez cair, assim parece, de podre... e de forma inesperada!
Destas eleições autárquicas depreendo várias lições:
– As sondagens são, inegavelmente, uma artimanha manipuladora de quem se quer perpetuar no posto, pois, com habilidade se faz crer que a vitória está garantida, mas não se apercebem do ridículo em que, tantas vezes, laboram. É tempo de acabar com esta subtileza manipuladora e antidemocrática!

– Mais uma vez a abstenção ultrapassou a fasquia de cinquenta por cento de faltosos. Se os cadernos eleitorais estão elaborados com os residentes em cada localidade, então estarão preparados para fazer cumprir a obrigação de votar... Certas forças políticas são avessas ao voto obrigatório...até ao tempo em que necessitarem de terem legitimidade para exercerem o poder. Não basta ter direitos, é preciso ser digno deles, assumindo que, quem nos governa, possa não ser só alvo das críticas, mas da avaliação de quem se pronuncia, votando.

– Dá a impressão que a qualidade dos concorrentes parece favorecer a desmotivação de quem é eleitor. Talvez seja verdade, na maior parte dos casos. A pulverização de forças apresentadas a votação manifesta, por seu turno, algo mais do que a pretensão em mostrar-se...embora se perceba que nem todos estão interessados em exporem-se. Também aqui o serviço aos outros esteja a enfermar dessa doença, hoje, muito comum: o egoísmo...mesmo de grupo.

– Manifesta-se como anquilosado o processo do tal ‘dia de reflexão’, pois mudaram tanto as formas de propaganda, que será quase infantil exigir que não se fale de tendência de votação no dia anterior (quase sempre um sábado) vazio de notícias e de coisas que poderiam ser mais do que para entreter. O material de campanha mudou, porque temos de continuar a fazer-de-conta que estamos em reflexão? O exemplo destes dias veio da Alemanha, onde houve eleições bem mais importantes do que as do nosso ‘quintal’ e lá esse dia de reflexão não existe, verificando-se uma participação eleitoral de três em cada quatro votantes...

– A alternância na governação – seja ao nível nacional, seja ao nível local – pode e deve ser algo de normal. O contrário, isto é, a perpetuação de uma força no poder, é que poderá ser questionável. Ninguém é tão bom que não possa cometer erros e melhorar nem ninguém é tão pouco prestável que tenha de mendigar que as suas ideias tenham o mínimo de qualidade. No espetro da nossa ‘democracia’, de quando em vez, surgem uns iluminados para os quais só é democrata quem pensar como eles ou só parecem ter direito a serem aceitávis os que lhes são afins. Certos epítetos – como populista, conservador, progessista ou democrata – denunciam que alguns têm um funil demasiado apertado para estarem em sociedade. Talvez sejam bons na bolha em que se movem, mas sentem-se a estrangular quando têm de enfrentar quem discorda deles... Será isto democracia ou ditadura encapotada? Será conviver com a diferença ou manipulação dos diferentes?

– Duas breves notas dos dias que antecederam as eleições cá por estas bandas: houve um tentativa de aliciar os mais velhos – residentes em lares – para irem votar. Seria isto uma espécie de desespero de quem sentia que ia perder? Nalguns casos foram distribuídos subsídios a rodos, como que pretendendo deixar a tesouraria vazia, dando a entender que pairava a sensação de derradeiras decisões. Será isto legítimo e sério?


António Sílvio Couto

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