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terça-feira, 21 de setembro de 2021

Autarcas: figuras, figurinhas, figurões…

 


Pela décima terceira vez vamos votar para os órgãos autárquicos. Desde 1976 que, regularmente, de quatro em quatro anos, elegemos os órgãos de governação em maior proximidade: presidente de câmara municipal, assembleia municipal e presidente de junta de freguesia. Por serem pessoas, normalmente, mais conhecidas ou conhecedoras do meio, isso faz com que haja maior participação na votação, isto é, vã diminuindo a taxa de abstenção…bem abaixo dos cinquenta por cento: a mais reduzida foi em 1979 (26,2%) e a mais alta em 2013 (47,4%).

 1. Certamente que a melhor propaganda para as eleições – e as de incidência autárquica ainda mais – são os candidatos/as, pois da sua capacidade dependerá a vontade de escolher, sempre o mais adequado ao posto. Por isso, a figura do candidato condiciona a abstenção ou a real participação. Com a proliferação de propostas temos visto decresce a qualidade dos candidatos. Pior ainda quando são criados óbices aos concorrentes, como o limite de mandatos ou mesmo a menor escolha nas agremiações participantes – sejam os partidos, as associações ou mesmo os tais (ditos) independentes…

 2. Com facilidade e como que por recurso vemos emergirem figurinhas dispensáveis, mas, à falta de melhor, temos o que temos e, sobretudo, o que merecemos. Em certos locais podemos perceber serem tomados de assalto os postos de mando, não se conseguindo distinguir o que faz correr uns e silenciar outros ou preterir alguns e promover certos… Quando se julgava ter sido ultrapassado o complexo de caciquismo, vemo-lo campear em tantas das decisões e das candidaturas.

 3. Lá bem no fundo ou talvez visto do alto, conseguimos captar a presença de figurões, muitos deles acoberto do posto que ocupam – os chefes partidários ou os senhores do dinheiro – ou sobrevoando como aves de rapina em busca de incautos de protagonismo. Os delfins ou os candidatos a sucessores perfilam-se na hora de reclamar vitória, enquanto os derrotados fogem de cena para não serem chamuscados pelos impropérios dos vencedores.

 4. Agastados pelas promessas não-cumpridas já poucos se afoitam na hora da propaganda, a não ser que o caldeirão do governo central suporte as tricas de conveniência. Naquilo que alguns consideram precipitadamente final da pandemia, a conquista de votos andou cara e escassa, mostrando a pouca adesão às iniciativas uma defesa do povo à mistura com a insuficiente clareza de ideias… Tiques de outras épocas – comícios, arruadas, propaganda e comezainas – foram postos de lado, criando a sensação de que até esse folclore está em saldo…

 5. Sondagens e estudos de opinião tentam conquistar indecisos ou correm o risco torná-los ainda mais fora de circulação, pois quando à má qualidade da mensagem se alia uma péssima comunicação, o assunto redunda em sem-interesse. Repare-se na confusão de cores dos partidos e dos respetivos candidatos: as cores dominantes foram substituídas por uma mistura incaraterística que nem sequer nos fala da ideologia. Mesmo à distância já não conseguimos dizer quem vem e tão pouco somos tentados a mudar de passeio para não ser indelicado ao recursar os papéis.  

 6. Uma ressalva gostaria de colocar: desengane-se quem julga que vota ‘na pessoa’ e não num partido ou numa ideologia, pois estes dois ingredientes são os que veremos atendidos na hora da contagem dos votos, pois não será aquele que vestiu (ou enfiou) a camisola da lista onde esteve que fará o balanço final na hora da verdade…Não há independentes a sério nem tão sérios como se julgam… eles querem algum proveito, senão agora, ao menos no futuro.

Figuras, figurinhas e figurões temos para todos os gostos e feitios!

 

António Sílvio Couto      

 

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