Pela
décima terceira vez vamos votar para os órgãos autárquicos. Desde 1976 que,
regularmente, de quatro em quatro anos, elegemos os órgãos de governação em
maior proximidade: presidente de câmara municipal, assembleia municipal e
presidente de junta de freguesia. Por serem pessoas, normalmente, mais
conhecidas ou conhecedoras do meio, isso faz com que haja maior participação na
votação, isto é, vã diminuindo a taxa de abstenção…bem abaixo dos cinquenta por
cento: a mais reduzida foi em 1979 (26,2%) e a mais alta em 2013 (47,4%).
1. Certamente que a melhor
propaganda para as eleições – e as de incidência autárquica ainda mais – são os
candidatos/as, pois da sua capacidade dependerá a vontade de escolher, sempre o
mais adequado ao posto. Por isso, a figura do candidato condiciona a abstenção
ou a real participação. Com a proliferação de propostas temos visto decresce a
qualidade dos candidatos. Pior ainda quando são criados óbices aos
concorrentes, como o limite de mandatos ou mesmo a menor escolha nas
agremiações participantes – sejam os partidos, as associações ou mesmo os tais
(ditos) independentes…
2. Com facilidade e como que por
recurso vemos emergirem figurinhas dispensáveis, mas, à falta de melhor, temos
o que temos e, sobretudo, o que merecemos. Em certos locais podemos perceber
serem tomados de assalto os postos de mando, não se conseguindo distinguir o
que faz correr uns e silenciar outros ou preterir alguns e promover certos…
Quando se julgava ter sido ultrapassado o complexo de caciquismo, vemo-lo
campear em tantas das decisões e das candidaturas.
3. Lá bem no fundo ou talvez visto
do alto, conseguimos captar a presença de figurões, muitos deles acoberto do
posto que ocupam – os chefes partidários ou os senhores do dinheiro – ou
sobrevoando como aves de rapina em busca de incautos de protagonismo. Os
delfins ou os candidatos a sucessores perfilam-se na hora de reclamar vitória,
enquanto os derrotados fogem de cena para não serem chamuscados pelos impropérios
dos vencedores.
4. Agastados pelas promessas
não-cumpridas já poucos se afoitam na hora da propaganda, a não ser que o
caldeirão do governo central suporte as tricas de conveniência. Naquilo que
alguns consideram precipitadamente final da pandemia, a conquista de votos
andou cara e escassa, mostrando a pouca adesão às iniciativas uma defesa do
povo à mistura com a insuficiente clareza de ideias… Tiques de outras épocas –
comícios, arruadas, propaganda e comezainas – foram postos de lado, criando a sensação
de que até esse folclore está em saldo…
5. Sondagens e estudos de opinião
tentam conquistar indecisos ou correm o risco torná-los ainda mais fora de
circulação, pois quando à má qualidade da mensagem se alia uma péssima
comunicação, o assunto redunda em sem-interesse. Repare-se na confusão de cores
dos partidos e dos respetivos candidatos: as cores dominantes foram
substituídas por uma mistura incaraterística que nem sequer nos fala da
ideologia. Mesmo à distância já não conseguimos dizer quem vem e tão pouco somos
tentados a mudar de passeio para não ser indelicado ao recursar os papéis.
6. Uma ressalva gostaria de
colocar: desengane-se quem julga que vota ‘na pessoa’ e não num partido ou numa
ideologia, pois estes dois ingredientes são os que veremos atendidos na hora da
contagem dos votos, pois não será aquele que vestiu (ou enfiou) a camisola da
lista onde esteve que fará o balanço final na hora da verdade…Não há
independentes a sério nem tão sérios como se julgam… eles querem algum proveito,
senão agora, ao menos no futuro.
Figuras,
figurinhas e figurões temos para todos os gostos e feitios!
António Sílvio Couto
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