A pandemia do coronavírus ‘covid-19’ alterou a mente
e o comportamento de muitas pessoas, levando-as a dizerem, a fazerem e até a
insinuarem coisas que, numa fase normal, não teriam dito ou feito… A mais
recente situação que me deixou a pensar se não andaremos todos confundidos nas
ideias e nas práticas foi a de um polícia a quem terá sido movido um processo
por usar uma ‘máscara social’ de cor preta. A razão prende-se com a ‘regra’ de
que só poderem ser usadas, na corporação, máscaras de cor branca ou de cor
azul.
Por muito que possa ser plausível tal situação
fica-se com a sensação de que há mentes suficientemente conspurcadas para lerem
muito do que acontece numa grelha mais racista do que seria pensável. Dá a impressão
que, para muitos dos nossos contemporâneos, o preconceito rácico é mais forte
do que a leitura simples, franca e sincera com que podemos/devemos viver a
vida.
Tal atitude preconceituosa como que se pode tornar
uma ideologia, onde, sem nos dar conta totalmente, fazemos essa figura ridícula
com que nos vão envenenando as relações humanas e os critérios de julgamento.
Aliás, outra coisa não será de esperar de formulações dialético-marxistas de
onde germinam muitas das posições sociais, económicas e culturais (ditas)
antirracistas. Sempre estão à espreita de algo em que possam pegar para,
durante largos dias, se entreterem com manifestações, contestações e até
violência como aconteceu nos tempos mais recentes. Não há justificação alguma
para terem sido prolongadas as imagens racistas com que se foram entretendo ao
longo de quase um mês…
= Fervilham, no entanto, na nossa sociedade sinais
preocupantes de agressividade. O tempo de confinamento, por ocasião do
coronavírus ‘covid-19’, fez com que muita gente fosse recalcando muito daquilo
que fez sair as pessoas da rua: reduzidas a quatro paredes durante semana a
fio, até os pobres animais pagaram com as pretensões dos ‘donos’ desejosos de
subverter a lei de não sair de casa senão para as compras e passear o bicho de
estimação. Não esquecerei um dia em que vi um cão aos saltos e a ladrar em
todas as direções na rua, pois o dono para ter cobertura de andar na rua àquela
hora da manhã, soltou, prendendo o animal e este estava à deriva… Esta pode ser
uma das imagens de marca do abuso sobre os animais ao longo dos dias de
confinamento… servirem de suporte para as tropelias humanas.
Outro tanto se pode dizer do apego ao telemóvel e a
outros apetrechos eletrónicos, que foram a salvaguarda de comunicação nesses
longos. Deste modo agravou-se o isolamento das pessoas, que se têm vindo a
refugiar cada vez mais nesses artefactos e dão cada vez menor importância aos
outros. É urgente recriar espaços livres de material de comunicação que tem
agravado o que ainda ia havendo de trato das pessoas umas com as outras. Estamos
excessivamente dependentes do tlm, da internet, das redes sociais…de tudo
quanto nos pode isolar na multidão.
= Agora que perdemos a visualização total do rosto –
próprio e alheio – com o uso obrigatório da máscara, precisamos de inventar
formas de comunicar com qualidade e com tempo. Não podemos deixar que os
cuidados sanitários venham a prejudicar o mínimo de proximidade sem exagero nem
desperdício de humanismo.
Há posturas no uso da máscara que servem mais para
diluir o (possível) confronto com as pessoas do que para se defenderem
mutuamente. Se bem avaliarmos todo o processo de salvaguarda da saúde podemos
ir percebendo que, senão tivermos cuidado, poderemos fazer de cada outro/a uma
espécie de inimigo e até de possível perigo para os meus interesses. É,
portanto, fundamental sermos educados para o acolhimento e a capacidade de
sabermos receber tanto conhecidos como desconhecidos. Não estraguemos com a
segurança da saúde o equilíbrio entre as pessoas… Mais uma vez bom senso
precisa-se!
António Sílvio Couto
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