Num programa televisivo com alguma audiência – a
crer naquilo que dizem de si mesmos – uma concorrente disse ‘tout court’: quero
os homens todos fora da casa… entenda-se do programa!
Se a frase mudasse de sujeito, isto é, se tivesse
sido um homem a diz aquilo sobre as mulheres, qual teria sido a reação? No
mínimo diriam que era machismo…e logo se criaria um alarido de chinfrineira… à
la carte. Mas como foi dito por uma mulher concorrente brasileira, não vi a
mínima reação ou rejeição… ficando tudo impávido e sereno, na cumplicidade!
Noutras circunstâncias o ‘grande irmão’ fez soar a
sua altissonante posição ameaçando, castigando e expulsando. Por agora a
censura não se pronunciou. Será que concorda com o que foi dito ou não esteve
atento à discriminação semeada? Haverá clichés que não passam pelo crivo de
certos lóbis, enquanto outras atitudes são julgadas de forma implacável? Até
onde irá alguma da tendência encapotada de defesa das mulheres, quando elas
ofendem os homens e ninguém ousa pronunciar-se?
= É notório que no último século se deu uma mudança do
reconhecimento da função/papel da mulher na sociedade ocidental. Ainda bem que
tal se verifica, pois o processo está em marcha e ainda faltam muitos degraus
para a verdadeira igualdade na diferença e diferenciação no igualitarismo.
Através de múltiplas iniciativas se foi caminhando
para uma maior assunção de direitos e de deveres entre homens e mulheres. Por
vezes certas lutas tornaram-se de consequências pouco correlativas às causas,
dado que algumas forças ideológicas em vez da emancipação da mulher foram
criando estereótipos construídos na imitação do masculino. E nem as poucas
mulheres que ascenderam ao poder – no governo-geral (pasme-se em Portugal só
houve uma mulher a gerir um governo), nas autarquias (poucas sublimaram as
resistências partidárias) ou mesmo nas empresas (muito poucas conseguiram
vingar no campo da gestão ou nas tarefas de maior visibilidade) – conseguiram
colmatar a mistura com situações a roçar quase a miséria senão moral ao menos
económica de tantas mulheres com qualidade humana, social, cultural e mesmo
espiritual.
= Há ainda demasiadas questões em aberto, algumas
delas com apreensão quanto ao seu desenvolvimento, na medida em que não basta
dizer que não há obstáculos para que estes se diluam por arte mágica. Em quase
todas as áreas de atividade as mulheres têm acesso, seja de forma
ativa/profissional, seja pelo modo tácito de serem mulheres com ação num campo
muito específico. Em razão do espaço de atividade em que me situo, gostaria de
deixar algumas questões/sugestões sobre o modo como a mulher pode e deve
estar/participar, viver/sentir e testemunhar a sua função na Igreja católica.
- Fique claro que mulher e homem batizados têm os
mesmos direitos e deveres na Igreja, inerentes ao seu sacerdócio batismal, mas
também em razão das funções real e profética. Por isso, não há ôntica e
teologicamente qualquer discriminação por seu homem ou ser mulher. Com efeito,
que seriam de tantos dos serviços – dos mais simples aos mais complexos – na
Igreja se, um dia, por hipótese, as mulheres fizessem uma ‘greve de zelo’? A
dedicação silenciosa e cuidada nas igrejas-templos mostram como elas são importantes
na Igreja-comunidade. E nem o condicionamento no acesso ao exercício do
ministério ordenado as menospreza, antes nos dá a noção da sua importância
eclesial. Com efeito, não será o não-exercício do múnus eclesiástico que
diminuirá o papel das mulheres na vida da Igreja católica.
- É um facto que a inserção das mulheres nos
serviços litúrgicos tem vindo a evoluir sem grandes saltos nem solavancos. Na
verdade, se repararmos, nas últimas três décadas, quantas mulheres foram
instituídas como ‘ministros extraordinários da comunhão’. Como diz um teólogo
francês: a Igreja não aprova, põe à prova… e prestadas as provas virá a
aprovação!
- Há, no entanto, cuidados redobrados a tomar, pois
a falta de sacristães (homens) nas paróquias não deveria servir para deixar à
solta franjas que poderão feminizar em excesso a Igreja e quanto a ela se
refere. Como se diz de certos adolescentes em maré de afirmação: temos de
vigiar para que não haja uma espécie de eucaliptização da vida religiosa nas
paróquias e similares…
Todos somos precisos, mas ninguém é imprescindível!
António Sílvio Couto
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