Vivemos, recentemente, uma sequência de datas
significativas para a nossa identidade nacional, começando pelo fim: ‘10 de
junho’ – dia de Portugal, de Camões e das comunidades (já teve outras
designações); 1.º de maio – dia do trabalhador; 25 de abril – dia da liberdade.
Todas estas datas tiveram algo em comum: foram
vivenciadas em contexto de pandemia do coronavírus ‘covid-19’, com tudo quanto
isto trouxe de alteração à ordem pública e as respetivas formas de tratarmos
tais efemérides, onde cada um pode dar-lhe a importância que conseguiu ou foi
capaz.
Há, no entanto, algumas diferenças no modo e pela
atitude com que foram tais datas comemoradas pelas forças políticas e sociais,
sem esquecer a participação ou não dos cidadãos.
Assim, o ’25 de abril’ teve por palco o Parlamento
com algumas dezenas de deputados e uns tantos convidados… Não podemos esquecer
que estávamos, ao tempo, no olho do furação da pandemia e as atitudes foram
algo controversas e até contraditórias, embora mais ou menos conciliadoras. Por
seu turno, o ‘1.º de maio’ trouxe à flor da pele algo que fez considerar que,
mesmo contrariados, temos portugueses com categorias diferenciadas, se bem que as
ditas democráticas, talvez um tanto abusivas e de alguma superioridade por
parte dos intervenientes: milhares à solta e infringindo as regras ditadas
pelas autoridades. Por outro lado, o ’10 de junho’ recebeu um tratamento
minimalista com menos de uma dezena de participantes e com cuidados
ultrarrigorosos e quase desmedidos.
= Quais as razões de tantas discrepâncias, se
estamos na mesma configuração de pandemia e com restrições bastante acentuadas?
O dito distanciamento sanitário não obriga a todos de forma igual? Até que ponto
vivemos num país onde há igualdade de deveres sem exclusão de direitos?
Poderemos considerar que os organizadores das várias efemérides tiveram
responsabilidades diferentes perante as circunstâncias diversas? Onde situar,
no espetro da cidadania geral, o modo como cada uma destas datas foram
propostas, vividas e transmitidas?
= Dá a impressão que nos falta ainda um longo
caminho a percorrermos até chegarmos à consciência de que já não há ‘classes
sociais’…no país. Com efeito, precisamos urgentemente de fazer uma reeducação
para a cidadania, onde os políticos se apercebam que ninguém os nomeou donos da
(pretensa) democracia e tão pouco senhores das exceções às leis que eles mesmos
aprovaram. Isto já para não falarmos da apropriação indevida de certas datas,
onde algum esquerdismo se considera capaz de amedrontar quem não pense à sua
maneira nem se revê nas suas atitudes.
Ora, pelos factos ocorridos depois da primeira data
que apontamos, já deveriam ter percebido que as maiorias mudam e os senhores
são apeados do poder, devendo respeitar a alternância e quem vota. Deste modo
nos poderemos aperceber que aquilo que hoje é mando, amanhã poderá ser derrota
e quando se está elevado se vê melhor as falhas dos executantes… Por agora já
vemos tantas contradições e não conseguimos a incapacidade de captarem as
lições que o passado lhe deveria ter dado…
= A avaliarmos pelas discrepâncias como foram
vivenciadas aquelas datas bem poderemos acreditar que o futuro não nos reserva nada
de risonho, pelo contrário, uma longa maioria silenciosa se revelará em breve,
destronando quem se tem aproveitado dos medos decorrentes desta pandemia!
António Sílvio
Couto
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