Por estes dias um ator de algum renome terá posto
termo à vida, em razão de questões, segundo consta, do foro psicológico. Este
poderá ser a fundo do icebergue. Não me interessa os meandros do problema nem
tão pouco embarco nos elogios de circunstância…
Por aquilo que este facto pode ser mais revelador de
algo mais profundo, creio que temos de tentar, serenamente, juntar as pontas de
um puzzle que tem tanto de complexo sobre o presente como de enigmático sobre o
futuro, sem esquecer o entendimento do passado.
Foi numa análise àquela notícia supra citada que foi
referido que um em cada quatro portugueses sobre de problemas de depressão e
que, ao menos uma vez na vida, cada um de nós pode ser vítima desta doença. A
dar crédito àquela estimativa poderemos considerar, numa população de dez
milhões de habitantes, teremos dois milhões e meio de potenciais doentes em
depressão.
Isto ofusca toda e qualquer leitura que se possa
apresentar da pandemia da ‘covid-19’ e tantos outros sinais do estado de saúde
da nossa população. Haverá, então, coragem para não andarmos a assobiar em
forma de menosprezo deste verdadeiro fenómeno de pandemia em Portugal? Mais do
que tentarmos ‘inventar’ desculpas, importa assumir, verdadeiramente, as
causas, mesmo se, por momentos, nos detivermos nas consequências. Se isto é
transversal à sociedade porque haverá ainda medo em enfrentarmos, por
comparação, o que faz desencadear um processo de depressão.
= Segundo dados disponíveis os jovens (16-25 anos)
foram os que começaram a tomar ansiolíticos e antidepressivos por ocasião desta
pandemia de coronavírus ‘covid-19’, enquanto os mais velhos já recorrem a estes
medicamentos de forma mais regular. Numa outra abrangência temos como dados que
dezanove por cento das mulheres recorre e toma ansiolíticos e antidepressivos,
enquanto nos homens isso atinge doze por cento. Em três meses de confinamento e
as outras etapas subsequentes venderam-se, em Portugal, mais de cinco milhões
de embalagens de ansiolíticos e antidepressivos. Estes dados colocam-nos como o
quinto país da OCDE que mais consome ansiolíticos e antidepressivos, numa taxa
que duplica a prática em países como a Holanda, a Itália ou a Eslováquia.
= Eis alguns dos
sintomas de depressão detetáveis em doentes que manifestaram esta situação: sentimentos
de tristeza e aborrecimento; sensações de irritabilidade, tensão ou agitação; sensações
de aflição, preocupação, receios infundados e insegurança; perda de interesse e
prazer nas atividades diárias; perturbação do sono; sentimentos de
culpa e de auto-desvalorização; alterações da concentração, memória e
raciocínio; sintomas físicos não devidos a outra doença; possíveis ideias de
morte e tentativas de suicídio.
Talvez não seja aconselhável confrontar-se com estes
indícios ou então poderemos ser induzidos a entrarmos em estado de depressão.
Talvez devamos conhecer-nos melhor para conseguirmos, para além de estarmos
atentos a nós mesmos e aos outros, podermos criar um clima de vigilância mútua
e atenta. Talvez devamos ter mais cuidado connosco mesmos e de estarmos atentos
às reações dos outros, por forma a não nos lamentarmos por já ser tarde…como
vimos e ouvimos no caso mais recente com difusão pública.
= Este não pode ser um assunto tabu, na medida em
que pode envolver aspetos do foro psicológico e mental, pois será um erro adiar
não só o conhecimento como o reconhecimento do estado em que se possa encontrar
quem sofre de depressão. Embora se possam encontrar afinidades com estados de
alma – onde a tristeza pode ter um espaço significativo – não podemos
confundi-los, antes enfrentá-los com verdade e serenidade.
Embora não seja assunto muito abordado
poderemos/deveremos incluir neste assunto o relacionamento entre depressão e fé
ou depressão e religião. Será que ter fé ou viver a prática religiosa ajuda ou
não a ultrapassar o estado depressivo? Como devemos ajudar uma pessoa em
depressão se ela tem um mínimo de fé?
Sendo a depressão um tema de natureza psicossomática
ela tem de ser tratada primeiramente nesse âmbito para depois poderem entrar
outras possibilidades, inclusive de âmbito de fé, onde a oração, a ajuda dos
irmãos, a intercessão ou mesmo o recurso ao sacramento da Unção dos doentes
podem ser verificados.
António Sílvio Couto
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